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Lula grátis...
0) Não vou comentar a mistura entre palavras que significam “livre” e “liberdade”, porque isso pode ter sido feito de forma proposital.
1) Vamos com o russo primeiro, já que a maioria me segue por causa dele. Bem do lado esquerdo está em cirílico “бесплатно” (besplatno), que significa... “de graça”! Pra piorar, esta forma é curta e neutra, ou seja, usada quase sempre como advérbio (gratuitamente etc.). Em russo deveríamos dizer “свободный” (svobodny), que é a palavra certa, na forma longa masculina. Ou seja, “свободный Лула”, hehehe.
2) Ainda em russo, está muito pequeno pra ler (é difícil achar fotos do púlpito em boa resolução), mas logo abaixo do grande “free” há a palavra “вольность” (volnost). Porém, esse substantivo remete ao adjetivo “вольный” (volny), que por sua vez vem do substantivo “воля” (volya), mais traduzível como “vontade”, “desejo” ou “liberdade de escolha”, implicando opção deliberada, e não ausência de limitações. Daí, referida ao já citado adjetivo “свободный”, temos a palavra correta “свобода” (svoboda).
3) A maior barbárie está no árabe e no persa, que usam um alfabeto da mesma matriz. Logo acima do russo lemos um ی د ا ز ا que equivale ao persa “âzâdi” (liberdade). A pessoa conseguiu uma façanha incompreensível: botou a ordem dos caracteres da esquerda pra direita (a ordem inversa dessa escrita) e não realizou a ligação entre as letras! Ainda que no caso de âzâdi, ela lucra com o fato das letras em questão realmente não fazerem ligação com a posterior, por regra: آزادی (e o primeiro alef deveria ter o sinal especial que parece um til).
4) Em árabe a coisa não é tão simples. Podemos ver a palavra “liberdade” logo à esquerda da expressão “Lula Livre” escrita da seguinte forma: ة ي ر ح (claro que estão bem juntinhas, mas não adquirem a forma de ligação). Lê-se mais ou menos “hurriyya”, mas torna-se algo ininteligível a um árabe comum, pois além da separação, há a inversão da ordem correta. A palavra, ainda mais diferente, deveria ser esta: حرية
5) À direita da cabeça desenhada, lemos “freiheit”. É o substantivo alemão “liberdade”, e como todo substantivo em alemão leva inicial maiúscula (a não ser por razões de estilo, o que não parece ser o caso), deveria ser “Freiheit”. Se fosse “frei” (literalmente “livre”), aí tudo bem, embora pra ser “Lula Livre” devêssemos usar a terminação do qualificativo (e não meramente predicativo), “Freier Lula”.
6) Curiosamente, várias línguas estão repetidas com as palavras “livre” e “liberdade”, mas em meio à salada exótica que inclui iorubá (que deveria ter acentos: “òmìnira”), xhosa/zulu, latim (!) e tailandês, estão ausentes línguas mais conhecidas e com maior potencial de impacto. Exemplos: japonês, hindi, as nórdicas, finlandês, romeno, esperanto (por que não?) e qualquer eslava exceto o russo (sobretudo servo-croata e checo, porque do apoio ucraniano e polonês duvido muito).
Conclusão: apesar das ótimas intenções de quem confeccionou o artefato, traduzir em outras línguas muitas vezes implica não apenas tacar palavras em tradutores automáticos, mas também conhecer as regras que regem o emprego dessas línguas, sobretudo as flexões. Você conseguiu ver mais alguma coisa estranha aí? Escreva-me sobre suas descobertas!
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