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Em fevereiro de 2018, decidi gravar em áudio todos os textos dos livros Gradus Primus e Gradus Secundus, de Paulo Rónai, traduzi-los e postar os vídeos com as ilustrações correspondentes. A essa série chamei Latim Pronunciado, com minha leitura em voz alta das leituras destinadas ao ensino do idioma latino no ginásio (mais ou menos 5.º a 9.º ano atuais) e criadas por volta dos anos 50. Paulo Rónai foi linguista, tradutor, escritor e crítico literário, e nasceu na Hungria antes de se radicar no Brasil.
Uma das críticas feitas por latinistas acadêmicos a esse método é que os textos são muito artificiais e não refletem a realidade romana antiga da língua. Mas eu gosto muito dele porque pra quem não sabe nada, é uma introdução bem didática, e serve ainda muito bem como manual autodidata. Se algum de vocês tiver qualquer dúvida sobre o idioma, pode me perguntar nos comentários ao vídeo.
Como eu disse na primeira e na segunda partes da série, optei por seguir a chamada “pronúncia eclesiástica”, baseada na língua italiana e hoje usada em larga escala (quando se emprega o latim) pela Igreja Católica Romana, porque ela é a mais simples, menos artificial e não padece da condição de hipótese, tal como a “pronúncia reconstituída”. Estou fazendo esta série por diversão, e pra quem não sabe nada da língua latina, embora não seja propriamente um curso. O latim também foi importante pra evangelização dos eslavos, e pra elaboração cultural feita pelos santos Cirilo e Metódio, codificadores da primeira língua eslava escrita. Além disso, muitos povos eslavos (ocidentais, além de croatas e eslovenos) não vieram à influência ortodoxa de matriz grega.
Seguem abaixo os vídeos das lições de 21 a 30 do Gradus Primus que eu já tinha gravado, encerrando assim esse primeiro volume da série. Em algum tempo, vou começar a narrar no canal os textos de Gradus Secundus, e a cada 10 lições vou fazendo postagens aqui na página. Vocês lerão também as traduções livres que eu mesmo fiz, já que elas não acompanham os livros:
CONSELHOS ÚTEIS DE UM PAI PARA O FILHO
Suplique a Deus. Ame seus pais. Combata pela pátria. Ande com os bons para que você mesmo seja bom. Cumprimente de boa vontade, para que também o cumprimentem de boa vontade. Conserve suas coisas. Aprenda para saber. Evite os jogos de dados [= de azar], para que você permaneça um homem honrado. Medite sempre o provérbio: “Como para viver, e não vivo para comer.”
SOBRE O DILÚVIO
Os crimes do gênero humano irritavam Júpiter. Em vão os homens pediam para que ele perdoasse; ele mandou o dilúvio à Terra. Os rios precipitavam-se pelos campos abertos e destruíam as casas. As ondas eram tão altas que não havia nenhuma distinção entre o mar e a terra.
SOBRE DEUCALIÃO E PIRRA
O dilúvio devastou tudo.
Quando as águas baixaram, de todos os seres humanos da Terra sobreviveram apenas um homem, Deucalião, e apenas uma mulher, Pirra, ambos velhíssimos. Querendo renovar os povos da Terra, Deucalião consultou o oráculo de Têmis. A deusa deu esta resposta:
“Joguem atrás das costas os ossos da grande mãe.”
SOBRE OS NOVOS SERES HUMANOS
(ou SOBRE A NOVA HUMANIDADE)
Deucalião e Pirra, que não entenderam o oráculo, meditavam longamente no espírito. Finalmente o marido disse a Pirra:
– Agora entendi o oráculo. A grande mãe é a Terra. Os ossos da mãe, portanto, são as pedras.
Então o marido e a esposa jogaram pedras atrás das costas. Logo as pedras tomaram a forma humana.
SOBRE A AMIZADE E OS AMIGOS
– Arranjem amigos para si – dizia Orbílio aos discípulos. – Sem amizade a vida seria triste. Se vocês escolherem bem os amigos, terão companheiros nas adversidades. De fato, Publílio Siro escreveu acertadamente: “As coisas favoráveis atraem os amigos, e as tristes os põem à prova.”
Os discípulos de Orbílio meditavam as palavras de Publílio. Mas vocês [leitores] sempre meditem a sentença do poeta Ovídio Naso:
“Enquanto você for feliz, vai contar muitos amigos; se os tempos forem nebulosos, ficará sozinho.”
Nos dois templos da ilustração está escrito: “Hic hábitat infelícitas” (Aqui mora o azar) e “Hic hábitat felícitas” (Aqui mora a sorte).
A ARTE DE VIVER BEM
Orbílio aos discípulos: – Vocês desejam viver bem? Não ignorem estes preceitos de Publílio Siro, meninos.
Primeiro: “Advirta os amigos em segredo, mas elogie-os em público.”
Segundo: “Tenha paz com os homens e guerra com os vícios.”
Terceiro: “Nunca acuse nem elogie ninguém apressadamente.”
SOBRE A ARTE DE DÉDALO
O rei Minos [de Creta] isolou Dédalo com seu filho Ícaro na ilha de Creta. Se Dédalo não tivesse inventado uma arte admirável, ele ficaria para sempre na escravidão. Mas o artesão colocou em ordem penas na forma de asas e as ligou com cera.
DITOS ESPIRITUOSOS/CHISTOSOS
(ou literamente “Coisas ditas de forma espirituosa”)
Orbílio aos discípulos: – Agora vou ditar a vocês novas sentenças de Publílio, todas agudas e bonitas.
“O esquecimento é o remédio para as ofensas.”
“A vida e a fama de um homem caminham lado a lado.”
“Receie o que o dia lhe concede: ele rapidamente vem o roubar.”
“Ao deliberarmos, a oportunidade frequentemente morre.”
ADVERTÊNCIAS DE DÉDALO AO FILHO
Dédalo ajustou as asas para si e para o filho. Então ele advertiu o filho com duras palavras, para que ele não voasse alto.
– Meu Ícaro, disse, seja prudente! Evite ficar próximo do Sol!
Mas Ícaro, desejoso de voar, não atendeu às advertências do pai. Porém, o menino depois se arrependeu de ter desprezado as advertências e não ter obedecido ao pai.
SOBRE A MORTE DE ÍCARO
Todos os que viam a corrida dos homens voadores ficaram maravilhados. Mas o menino, alegrando-se com o voo audacioso, dirigiu um caminho tão alto que os raios do Sol amoleceram a cera. Ícaro caiu no mar. Seu pai se arrependeu de ter inventado a arte de voar.
Assim pereceu o audacioso menino; mas sabemos que a memória de Ícaro nunca haverá de perecer.
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