Eu gosto muito de traduzir poesia estrangeira pro português, sobretudo das línguas eslavas, que são muito raras no Brasil e me desafiam mais, por serem bem concisas e eu precisar de formas igualmente concisas pra expressar na minha língua! Mas infelizmente não tenho tanto tempo quanto queria pra isso, pois atualmente me concentro mais no estudo de idiomas, na manutenção desta página e na pesquisa do doutorado. Mesmo assim, de vez em quando sai alguma coisa interessante, e quando junto uma quantidade suficiente, faço uma postagem aqui.
Antes de começar a tradução do poema épico Ievgeni Onegin, de Aleksandr Sergeievich Pushkin, na qual me lancei em novembro do ano passado, decidi procurar algo mais simples do grande poeta e escritor que eu pudesse divulgar às pessoas. Achei por acaso o livro “Стихи не для дам” (Stikhi ne dlia dam), Poemas não para damas, coletânea com os mais diversos estilos e cujo título já alude à intenção de chocar, subverter e criticar. Muitos poemas não eram tão simples ou curtos, e um que realmente achei mais rápido e fácil foi “Христос воскрес” (Khristós voskrés), literalmente “Cristo ressuscitou”, de 1821, com apenas 10 versos. O nome alude a uma saudação de Páscoa comum das pessoas se fazerem em países ortodoxos, mas o tema geral são as barreiras inter-religiosas e interculturais de uma Rússia imperial ultracristã que marginalizava os judeus.
Antes que alguém me pergunte: sim, embora já haja uma tradução consagrada, estou tentando fazer uma outra mais pessoal e moderna de Ievgeni Onegin centrada no português brasileiro, mas que também seja inteligível por africanos e portugueses. Mas tenho interrompido constantemente porque, como eu já disse, tenho muitos outros focos. Quanto a “Cristo ressuscitou”, na minha mão se transformou em “Ressurreição”, título que tem a mesma métrica do título original. Obviamente não busquei ser literal e mudei um pouco o esquema de rimas, mas o ritmo ficou o mesmo. A tradução foi uma iniciativa isolada e por enquanto não pretendo encaixá-la em nenhuma projeto maior.
Pouco tempo depois, conheci a tártara Elvira Gilmutdinova, que mora em Kazan, terceira maior cidade da Rússia. Ela é do marketing, mas também gosta de escrever poesia, e às vezes faz alguns trabalhos amadores, segundo ela, “inspirados do coração”. Na conta pessoal no Instagram ela publica alguns desses versos em russo ou tártaro, acompanhados de fotos suas ou da natureza local. Um dos poemas em russo que me chamou a atenção foi “Кто я?” (Kto iá?), “Quem sou eu?”, que pra ficar do mesmo tamanho do título original chamei “Quem sou?”. Ela postou em 10 de outubro de 2018 e eu traduzi no fim de janeiro de 2019, tendo Elvira autorizado e gostado do resultado.
Ele também segue abaixo, nas suas versões original e traduzida. No caso de “Quem sou?”, foi muito mais uma recriação minha, porque a autora não seguiu padrões poéticos rígidos, e a tradução ficou quase literal, inclusive. Eu que dei rimas mais próximas e verdadeira métrica:
Христос воскрес, моя Реввека!
Ressurreição (15/12/2018) Ressurreição, Rebeca minha,
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Кто я? Вопрос извечный.
Кто я? Прекрасная богиня?
Кто я? Профессионал?
Кто я? Пекарь или сталевар?
Важно, что сердце добротой полна,
Quem sou?, eterna indagação.
Quem sou? Maravilhosa deusa?
Quem sou? Qualquer profissional?
Sou fundidor ou sou padeiro?
Importa o bem no refletir,
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