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Desculpem pelo atraso na postagem de hoje, estive muito atarefado esses dias, depois de ter voltado de Porto Alegre! Há muito tempo eu queria ter visto a entrevista de Larissa Manuela D’Ávila pro programa Roda Viva da TV Cultura, em julho de 2018, quando ela ainda era pré-candidata à presidência da República pelo PC do B. Apareceram no YouTube vários vídeos “refutando” o que ela disse sobre o comunismo nesse programa, mas havia apenas a versão dos comentadores, e não trechos da transmissão. Além disso, em geral os debatedores políticos fazem muitas edições nas imagens, de forma que o argumento central se torna quase irreconhecível. Já tinha havido uma polêmica quando Manuela lançou um vídeo chamado “Mitos do comunismo”, que lhe deu mais visibilidade pessoal, mas continha muita besteira. Agora, Manuela se lançou como vice na chapa de Fernando Haddad (PT), depois que a candidatura de Lula foi vetada pela Justiça.
Eu mesmo, então, decidi assistir ao programa (ou ao menos às partes que mais propriamente falavam de história) e ver se a celeuma tinha justificativa. Se fosse o caso, pensei também em separar os trechos “lisos”, sem fazer qualquer edição, e apenas comentar o que achei na descrição do YouTube. Porém, a zoação do conteúdo é tanta, que não resisti em fazer “enxertos” humorísticos e não dar muitos comentários escritos: quem conhece minha linha pessoal de pensamento e minha atividade acadêmica, pode reconhecer muito de mim no que assistir. Mas não fiz cortes bruscos dentro das falas, limitando-me apenas a separar grandes blocos de diálogo, “comentá-los” e pô-los em ordem cronológica. Assim, vocês não precisam ver o vídeo completo no canal da Cultura (mas curtam também o trabalho deles), e ainda dão umas risadas, além de perceber coisas que podiam ter passado batidas.
Contudo, não foi só o debate de história que me atraiu, mas também outros trechos que achei mais ou menos engraçados ou aptos a gerar reflexões. Por isso, além da referida montagem, seguem abaixo mais dois breves vídeos comentados:
Minha apreciação geral é bastante negativa, porque embora não fosse obrigação da Manuela contar a história do “socialismo real” enquanto candidata a vice-presidentA do Brasil, eu seria mais objetivo e incisivo se estivesse no lugar dela. Obviamente, e vocês sabem disso, que minha postura é de historiador, e não militante, mas fico meio “aflito” quando vejo arestas onde as coisas podiam fluir bem mais suaves. Só um exemplo: a Manuela tentava desviar o tempo todo se o assunto era Leste europeu, mas isso só deu mais flanco pra atacarem ela. Ela já podia ter dito na lata que o comunismo cometeu erros, como qualquer regime de outros sinais na história humana, mas que as bandeiras da campanha eram tais, tais, tais (mesmo tendo dito, mas sem desdobrar, que os comunistas hoje não seguiam um “modelo pronto”), inspirada, talvez, na interpretação que ela fazia de Marx, Engels ou até Lenin.
Pra dar mais aflição, chamam dois caras de direita que não entendem do assunto, já com o propósito de atacá-la, e por isso é “murro em ponta de faca” (já que ela intencionalmente se blinda), não tem diálogo ou troca. É bizarro como formam uma dupla bastante estereotipada de dramatis personae: o experiente engomado ligado ao campo, à ordem e valores tradicionais; e o jovem coxinha liberal, descolado intelectual urbano, flertando com um certo “anarco-capitalismo” e que parece ser ávido leitor de redes sociais. Nem quero tocar no manjado assunto das “interrupções” (porque ela mesma não parava de falar!), nem comentar as falas das duas jornalistas, mas o Lessa me pareceu encarnar outro estereótipo interessante. Coroão intelectual “das antigas”, conciliador, bonachão, de ampla cultura geral, espectador da redemocratização, tem realmente informações bem rasas (mesmo que embasadas, no geral) sobre a história do comunismo, parece historiador de outra área comentando um projeto seu, e esse despreparo é fatal na hora de lidar com militantes. Depois a Manuela discute de novo com o Frederico sobre agricultura familiar e Embrapa, e com o Joel sobre impostos e ódio nas redes sociais, mas essas partes nem são aproveitáveis.
Mas eu não acho que a Manuela devia ser uma expert em história do comunismo brasileiro e mundial, e a própria militância política, com as pressões unidas de obediência e gramofone, impede um prolongado aprofundamento. Nos partidos comunistas, com o turbilhão de prisões e cataclismos geopolíticos, nunca houve resfôlego pra se escrever a própria história, e sempre foi vexatório lidar, ao mesmo tempo, com o autoritarismo dos soviéticos e a insolência capitalista ante as nossas injustiças. Tudo isso, de fato, é uma questão (ou enjeu, como diriam os franceses, que também implica disputa) de memória e trilhas pessoais, demandando uma reflexão alheia a reducionismos da mídia ou das redes sociais. Espero apenas que o episódio da Manuela D’Ávila lance a reflexão, apesar do meu humor nem sempre politicamente correto.
Aqui temos sábias reflexões societárias da candidata a vice-presidentA da República na entrevista que deu ao Roda Viva em julho de 2018, quando ainda não tinha deixado a pré-candidatura independente pelo PC do B. Vejam a cara de “machistas” empolgadas da Vera Magalhães e da (lindíssima) Letícia Casado.
Contexto: perguntada se Lula estaria sendo machista ao dizer que a deputada estadual seria uma “candidata bonita”, ela responde que a atitude soa machista de forma geral, mas não dentro daquele contexto, em que havia consentimento e não havia abuso. Outros episódios de sua vida parlamentar teriam sido mil vezes piores.
Larissa Manuela D’Ávila disse estas palavras: “Eu costumo dizer, Letícia, que o machismo é como uma piscina: todos nós estamos dentro dela, todas nós, inclusive nós, mulheres. Muitas de nós, muitas vezes, somos machistas umas com as outras. Qual é a diferença? Algumas de nós estamos só molhando os pezinhos na piscina, e outras estão afogadas na água.”
Pode parecer que tenho implicância pessoal com Giovanna Antonelli, que está integrando a chapa do Kiko do KLB como candidata à vice-presidência da República. Ops, me desculpem, confundi os nomes... Manuela tinha dito que manteria a pré-candidatura caso não surgissem condições políticas objetivas pra formação de uma ampla frente de esquerda. De qualquer forma, já estava no ar que ela podia integrar como vice a chapa de Haddad, dado que Lula estava preso e teria sua candidatura barrada. E foi o que ocorreu: Lula não pôde concorrer, e antes mesmo do julgamento final, ela renunciou a concorrer pelo PC do B. Mesmo com o ex-presidente oficialmente inscrito, os comunistas decidiram preservar a aliança histórica com o PT, e os nomes foram firmados na última hora.
Assim como Guilherme Boulos (PSOL), Manuela sempre fez críticas à Operação Lava-Jato e considerou “política” a condenação de Lula a mais de 12 anos de prisão. Teria sido oportunismo, ou a tal “frente de esquerda” realmente se consolidou, mesmo sem contar com o PSOL, o PDT de Ciro Gomes e muito menos o PSTU, que desde 1994 é crítico do PT e hoje apoia a Lava-Jato? A pré-candidata pelo PC do B tinha falado que a chance dela renunciar à disputa independente “era zero”. Cabe a vocês julgar, e eu apenas lhes apresentei o material.
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