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O Pinkove zvezdice é a versão infantil do programa Pinkove zvezde, literalmente “Estrelas do Pink”, que é também a versão local do The Voice, apresentado no Brasil pela TV Globo. A versão infantil já teve as três temporadas de 2014-15, 2015-16 e 2016-17, tendo participado Darija da segunda e chegado à superfinal, e na ocasião o vencedor foi o garoto Marko Bošnjak. Darija tinha então 8 anos e uma voz muito potente, e a família lhe assistia do camarim na ocasião. A quarta temporada está em curso, e vai continuar até o meio de 2018. Ambos os programas pertencem à Radio Television Pink (RTV Pink), também chamada TV Pink ou só Pink, o maior canal de entretenimento da Sérvia que transmite a cabo desde 1994.
Há uma diferença interessante: lá, os cinco jurados não rodam em direção ao palco, como no Brasil, mas sobem a partir do nível do chão! Como podemos notar desde o vídeo com Zemljo moja, Darija ou a mãe dela é entusiasta da antiga Iugoslávia, cuja música popular, como no Brasil, era muito brega e simplória, mas contagiante. Zemljo moja era uma das canções preferidas do Marechal Tito, e Brazil, cuja história narro adiante, foi a última a concorrer no Eurovision em 1991 pelo país que se desintegraria. Triste sina ver o nome de nosso país associado a um ocaso! Outro traço de Darija é que ela parece dar mais ênfase ao lado teatral do que propriamente vocal, o que faz o júri mais rir e se divertir com as atuações dela do que outra coisa.
A canção Brazil (“Бразил”, em cirílico) concorreu na edição de 1991 do Eurovision, cantada em servo-croata por Dragana Šarić, que usava o nome artístico de “Baby Doll” ou “Bebi Dol”. Após ganhar a prévia nacional, foi muito mal, porém, no nível europeu, mas a música se tornou um baita hit na Iugoslávia. Por isso, teve seus direitos autorais comprados pela Itália, Grécia e países do Benelux. No Eurovision de 1992, “Iugoslávia” seria a representação das atuais Sérvia (e Kosovo), Montenegro e Bósnia e Herzegóvina, tendo Croácia, Eslovênia e Macedônia proclamado a independência em 1991, antes de estourar a guerra civil. Fato notório: só há um verbete sobre a canção nas Wikipédias em inglês e português, e o articulista desta interpreta a letra como descrevendo o gosto da cantora pelos ritmos latinos, mas preferindo se divertir com o que já havia disponível na Iugoslávia.
A referência é justamente a dois cantores e compositores que estavam então bombando no país: Rambo Amadeus (montenegrino, n. 1963), guitarrista ainda muito atuante, e Dino Dvornik (croata, 1964-2008), considerado o “rei do funk” da Croácia e falecido após uma overdose de remédios pra hepatite C. Ambos são conhecidos por seus trabalhos dentro dos estilos “ocidentais”, em especial rock, disco, jazz e pop, provando o maior intercâmbio da antiga Iugoslávia com o mundo capitalista e a fascinação que aí exercia a música moderna. Dragana Šarić, alias Bebi Dol (n. 1962), cantora e atriz sérvia, desde pequena começou a se envolver com música pela família e teve o ápice de sua carreira nos anos 80 e 90. Mesmo fazendo vários covers e cantando junto a outras estrelas, suas aparições de álbuns eram esporádicas e teve várias pausas na carreira. Seus estilos são basicamente rock, pop, synthpop, dance, soul e jazz.
Interessante como o single não passa uma imagem estereotipada do Brasil, mas coloca a América (e Espanha!) toda no mesmo saco (na letra, Amerika são os Estados Unidos). Quando se lê no começo “tirar o sapato, a jaqueta e o jeans”, temos a impressão que vai ficar pelada nos trópicos, mas é uma metáfora pros ritmos do nosso continente, que são trocados pelas riquezas locais. E não são poucos os que comparam a personalidade sérvia à brasileira. Eu mesmo traduzi e legendei o vídeo, e desta página eu copiei a letra servo-croata. Ela também segue abaixo, após as legendas e junto com a tradução:
Brazil, Španija, Kolumbija, Skini sve, skini cipele što pre, Za tvoje usne i moj vrat, Brazil, jedan okret to su dva, Brazil, meni ne treba Brazil, ____________________ Brasil, Espanha, Colômbia, Cuba e Estados Unidos, Samba, rumba, cha cha cha. Tire tudo, os sapatos já, Sua boca em meu pescoço Brasil, um giro e depois dois, Brasil, eu não preciso dele, |
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