Neste discurso feito e lançado em 15 de março de 2018, o presidente da Rússia Vladimir Putin convoca ao voto nas eleições presidenciais que estão ocorrendo neste domingo, dia 18. Ele faz isso porque na Rússia o voto não é obrigatório, portanto Putin teme que esse pleito seja marcado pela indiferença e indisposição políticas. Na verdade, o povo está bastante insatisfeito com algumas políticas recentes, como o congelamento de gastos sociais, a deterioração dos serviços públicos e as exorbitantes despesas militares. E Putin é novamente um dos candidatos, de forma que sua vitória o levaria a iniciar um quarto mandato, além dos dois de quatro anos, cumpridos de 2000 a 2008, e do atual de seis anos, iniciado em 2012. Seu atual primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, tinha sido presidente de 2008 a 2012 (quando o próprio Putin foi premiê), e após algumas reformas constitucionais, o mandato presidencial foi ampliado pra seis anos e permitiu-se uma reeleição. Assim, se Putin vencer, ele poderá ficar até 2024.
Ao contrário dos EUA e de muitos países europeus, a eleição pra presidente da Rússia é direta e se dá em dois turnos, se necessário. Segundo as últimas pesquisas, Putin tem uma ampla vantagem sobre o candidato do Partido Comunista (KPRF), Pavel Grudinin, podendo ganhar com folga no primeiro turno. Os outros candidatos, na ordem de preferência, são Vladimir Zhirinovski, Sergei Baburin, Grigori Iavlinski, Boris Titov, Ksenia Sobchak e, pelo stalinista Comunistas da Rússia fundado em 2012, Maksim Suraikin. Aleksei Navalny, um dos principais opositores de Putin, teve sua candidatura barrada em 2017, e Putin mesmo concorre como independente, mas apoiado pela Frente Popular de Toda a Rússia, à qual pertence o partido Rússia Unida, do qual ele já foi líder. Contudo, como Putin controla quase toda a mídia, o judiciário e a polícia, a concorrência é vista como mera formalidade, disfarçando sua incontestável manutenção no poder.
Não é à toa que Putin não precisou participar nem mandar suplentes a nenhum dos debates presidenciais promovidos por diversos canais de TV. O pleito de 2018 ocorre num tenso e inusitado cenário nacional e internacional. A bonança promovida nos anos 2000 e início dos 2010 por meio do alto preço do petróleo começou a desgastar-se, e as recentes sanções econômicas impostas pelo Ocidente por motivos políticos estão sufocando os mercados da Rússia. Além disso, os gastos militares subiram consideravelmente com a ajuda velada aos rebelados do Donbass ucraniano, a incorporação da Crimeia e a intervenção na guerra civil da Síria. Muitos russos consideram que a saúde, o ensino, a pesquisa e outros serviços públicos têm se deteriorado, revivendo assim mais uma onda de nostalgia pela antiga URSS. Mesmo assim, no geral Putin segue sendo um líder muito aprovado e, no exterior, respeitado pela firmeza, sinceridade e ímpeto.
Vladimir Putin chama o povo a votar, porque o voto não é obrigatório. Mesmo que ele leve de bandeja, uma alta abstenção poderia ser mal vista como um sinal de desgaste do regime. Desgaste que, aliás, é visível em muitos outros países, sobretudo no Brasil, colocando urgentemente na agenda o repensar do modelo eleitoral pra expressão da vontade popular. O vídeo sem legendas pertence ao canal RT, e eu o tirei da própria conta YouTube deles, tendo apenas legendado e cortado o quadro. Eu tirei o texto em russo desta matéria da TV Tsentr, que anuncia o breve discurso. Eu mesmo traduzi direto do russo, e seguem abaixo as legendas, a tradução e o texto original (a paragrafação é minha):
Caros cidadãos da Rússia, queridos amigos.
No próximo domingo, 18 de março, ocorrerão eleições para presidente da Rússia. Como atual chefe de Estado, julgo importante dirigir-me a vocês às vésperas da votação.
Segundo a Constituição de nosso país, o poder emana unicamente do povo. As palavras dessa fórmula jurídica têm um enorme significado. É da vontade popular, de cada cidadão da Rússia, que depende o rumo a ser tomado por nosso país, que depende o futuro da Nação e de nossas crianças.
Em quem votar, como concretizar seu direito à livre escolha, é uma decisão pessoal de cada um. Mas renunciar a essa decisão significa deixar que essa tão determinante escolha ignore sua opinião.
Na Rússia, nós mesmos sempre decidimos nosso destino, agimos tal como nos ordenavam a consciência, nossa compreensão da verdade e da justiça e o amor pela Pátria. Traço de nosso caráter nacional, o mundo todo sabe disso.
Confio em que todos pensamos e nos preocupamos com o destino da terra natal, e por isso me dirijo a vocês pedindo que vão no domingo às seções eleitorais. Aproveitem seu direito de escolher o futuro da grande Rússia que amamos!
Уважаемые граждане России, дорогие друзья.
В ближайшее воскресенье, 18 марта, состоятся выборы президента России. Как действующий глава государства, считаю важным обратиться к вам накануне голосования.
По Конституции нашей страны единственным источником власти является народ. В этих словах, в этой правовой формуле огромный смысл. Именно от воли народа, от воли каждого гражданина России зависит, по какому пути пойдет наша страна, зависит будущее России и наших детей.
За кого проголосовать, как реализовать свое право на свободный выбор — это личное решение каждого человека. Но если уклониться от такого решения, тогда этот ключевой определяющий выбор будет сделан без учета вашего мнения.
Мы в России всегда сами решали свою судьбу, поступали так, как велела нам наша совесть, понимание правды и справедливости, наша любовь к Отечеству. Это в нашем национальном характере, о котором знает весь мир.
Уверен, каждый из нас думает и переживает о судьбе родной страны. И потому обращаюсь к Вам с просьбой прийти в воскресенье на избирательные участки. Воспользуйтесь своим правом выбрать будущее для великой любимой нами России!