Logo após o atentado terrorista com uma van que atropelou inúmeros turistas na avenida de pedestres Las Ramblas, em Barcelona, o primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy expressou sua condolência às famílias dos mortos na noite de 17 de agosto de 2017. Mais um ataque a civis desarmados, reivindicado pelo grupo Estado Islâmico e executado por um marroquino, em suposta vingança à participação da Espanha na coalizão que combate o dito “califado” no Oriente Médio.
Lembremos que Barcelona é a capital e maior cidade da Região Autônoma da Catalunha, território com língua e costumes muito distintos que não se considera parte da nação espanhola. Notem como Rajoy, ao falar que “a Espanha é um povo unido”, parece gaguejar e recear um pouco. Os espanhóis e os catalães divulgaram, naquele instante, hashtags em suas respectivas línguas: Yo soy Barcelona e Jo sóc Barcelona. Também se usou muito nas manifestações públicas a frase catalã No tinc por (Não tenho medo). Por é uma palavra aparentada à italiana paura e à francesa peur.
Eu mesmo traduzi e legendei de ouvido, sem recorrer a uma cópia escrita. É aquele famoso “3 em 1”: ouvir/transcrever, entender/traduzir e já adaptar à legendagem. Eu baixei desta página o vídeo sem legendas, mas há outra versão com boa qualidade nesta página. Seguem abaixo as legendas e a tradução escrita em português:
Senhoras e senhores, muito boa noite, muito obrigado por sua presença.
Neste momento, quero que minhas primeiras palavras esta noite em Barcelona sejam de luto, lembrança e solidariedade para com as vítimas deste ataque, suas famílias e amigos. Eles são neste momento nossa prioridade máxima. Quero expressar também a solidariedade de toda a Espanha para com a cidade de Barcelona, hoje agredida pelo terrorismo jihadista, como antes o foram outras cidades no mundo todo.
Os moradores de cidades como Madri, Paris, Nice, Bruxelas, Berlim ou Londres sofreram a mesma dor e a mesma incerteza que estão hoje sofrendo os barcelonenses. E eu desejo que sejam para eles essas primeiras palavras, para transmitir-lhes o carinho, a solidariedade e o aconchego de toda a Espanha e do resto do mundo.
Como demonstração da dor da nação espanhola ante o criminoso atentado, o governo está decretando luto oficial a partir da zero hora do dia 18 de agosto de 2017 até as 24 horas do dia 20 de agosto, tempo em que a bandeira nacional tremulará a meio mastro em todos os prédios públicos e navios da Marinha.
Hoje, a Espanha, e mais concretamente Barcelona, recebe o carinho e a solidariedade que em outros momentos nós mesmos partilhamos com outras cidades e com outros países agredidos pela mesma barbárie terrorista. E quero dizer também que não estamos unidos somente no luto, estamos unidos principalmente na firme vontade de derrotar os que querem destruir nossos valores e nosso modo de vida.
Assim, desejei vir a Barcelona logo que pude para reunir-me com as forças e corpos de segurança do Estado e dar-lhes meu apoio à sua colaboração intensa e exata com a Polícia da Catalunha e a Guarda Municipal no momento de enfrentar o selvagem atentado terrorista.
Também é importante que, num dia tão duro e tão triste como hoje, todas as forças de segurança e nossos serviços de informação, ajuda civil, socorro e decisivamente todos os que fazem nossa segurança, saibam que contam com o firme apoio do governo e da totalidade dos espanhóis.
É certo que estamos sofrendo hoje com a dor de um terrível golpe. Mas também é verdade que o esforço abnegado destes homens e mulheres durante tantos anos conseguiu proteger-nos por muito tempo e desbaratar inúmeros planos criminosos. Sem dúvida continuarão assim fazendo no futuro.
Infelizmente, os espanhóis conhecem muito bem a dor absurda e irracional causada pelo terrorismo. Recebemos pancadas parecidas em nossa história mais recente, mas também sabemos que os terroristas não são infalíveis. São vencidos com instituições unidas, prevenção, cooperação policial, aporte internacional e a determinação firme em defender os valores de nossa civilização: a liberdade, a democracia e os direitos humanos. E são vencidos também com acordos amplos, como ocorre na Espanha, entre os partidos políticos. Em datas próximas, convocaremos o Pacto Antiterrorista para reafirmar nossa unidade e para trabalharmos todos juntos, como estamos fazendo até agora, também futuramente.
Senhoras e senhores, esta terrível tragédia que vivemos hoje em Barcelona fraterniza-nos na dor com vários outros países do mundo. Quero manifestar também desde já, esta noite, minha gratidão a todos os governantes estrangeiros que me buscaram para transmitir suas mensagens de solidariedade e apoio. Não pude falar com eles por ter sido mais urgente seguir os acontecimentos, porém os agradecerei pessoalmente por suas mensagens nos próximos dias.
Quero reiterar, por fim, o que já transmiti privadamente ao presidente Puigdemont, que conta com todo o apoio do Estado e do governo para ajudar as vítimas e confortar as famílias, retomar o quanto antes a normalidade civil e levar os culpados por esta barbárie diante da justiça. Devem saber também que toda a Espanha está comovida pelo mesmo sentimento que é vivido hoje aqui em Barcelona.
A luta contra o terrorismo é hoje a prioridade máxima das sociedades livres e abertas como a nossa. É uma ameaça global, e a resposta deve ser global. Todos os que partilham do mesmo amor à liberdade, à dignidade do ser humano e a uma sociedade baseada na justiça, e não no medo ou no ódio, são nossos aliados nesta causa.
Como eu dizia há pouco, é verdade que estamos unidos na dor, mas estamos principalmente unidos na vontade de acabar com esse disparate e com essa barbárie. Não esqueçamos nunca que a Espanha é um povo unido em torno de valores dos quais muito nos orgulhamos: a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Travamos muitas lutas contra o terrorismo ao longo da história, e ganhamos sempre. E também nesta ocasião, nós, espanhóis, vamos vencer.
Muito obrigado!