domingo, 27 de agosto de 2017

Aniversário do terrorista Givi (Donbás)


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/niver-givi



Quando procurei pela primeira vez alguma versão da canção conhecida como “Ойся ты ойся” (Oisia ty oisia), me deparei com um engraçado e divertido vídeo, com terroristas de Putin no Donbás, leste da Ucrânia, comemorando o aniversário do combatente Givi. Mikhail Sergeievich Tolstykh, que ficou conhecido nas redes sociais pelo seu apelido “Givi”, foi um dos terroristas pró-Putin mais viralizados por causa de seu temperamento irrequieto, suas palavras cômicas e sua impetuosidade na guerra civil. Foi eliminado em combate, no dia 8 de fevereiro de 2017.

Mas talvez o lado mais interessante da música seja o background histórico. Como eu já tive a oportunidade de escrever, a canção A oração do cossaco, de autoria desconhecida, foi composta em meados do século 19 e passou a simbolizar a beligerância russa pela defesa de suas fronteiras. Um dos aspectos que ela envolve é justamente a reação do não russo ante esse protecionismo ou expansionismo, simbolizado na letra pela palavra “oisia”, que designa vários povos do Cáucaso, em referência a um grito que eles dão em dança. No vídeo do Givi, aparece também outra faceta desse contato, que é a mistura cultural, ou seja, os cossacos do Cáucaso assimilaram a dança local da lezginka e lhe criaram canções com palavras características do russo daquela região. São exatamente esses passos que podem ser vistos na festa de aniversário.

A descrição não ficaria completa se eu não falasse ainda da própria versão que está sendo cantada. A melodia de Oisia ty oisia é de domínio popular, por isso foram feitas várias versões ao longo dos anos, pras mais diversas situações. A versão abaixo foi escrita pelo cantor russo Aleksandr Dadali, que a batizou de Ataman volny (Um atamano livre). Os atamanos, como eu também descrevi em outras postagens, eram líderes militares cossacos dos tempos tsaristas, cuja atuação sempre foi muito romantizada pela cultura popular. E exatamente, este poema moderno está narrando o suposto cotidiano de um atamano, com episódios peculiares e passagens heroicas. O próprio Dadali é quem está cantando no Donbás com um karaokê de fundo, como pode ser visto em fotos da época em sua conta do VK, mas neste vídeo não aparece a primeira estrofe (que não traduzi). Aliás, alterando o original, ele canta “Donbás” onde tinha gravado “Kuban”, famosa cidade russa. Vejam o site pessoal do cantor.

Dadali é um dos muitos artistas populares russos ou de língua russa que sustentam os terroristas do Donbás e deturpam a cultura tradicional pra adaptá-la aos novos gostos e mídias. A própria execução em ritmo de reggae destoa com a letra antiquada em conteúdo e vocabulário. Quanto à tradução de “oisia” por “camarada”, devo explicar: como nos mais variados contextos pode diferir quem seja o “oisia” – o estranho, forasteiro, enfrentador, caucasiano ou apenas desconhecido –, traduzi de uma forma como se o atamano estivesse falando com o ouvinte no refrão, o que não acontece nas outras estrofes. “Oisia” pode apenas fazer chamar a atenção, mas seu emprego fica polêmico quando se lembra da intromissão na Ucrânia, onde agentes de Putin inventaram um separatismo inexistente.

Quem filmou e postou o vídeo sem legendas em seu canal, e que também aparece ao final dizendo “Parabéns, Givi!” com sotaque, foi Graham Phillips, apoiador do terrorismo putinista e que documentava então os acontecimentos. Ele se autodenomina repórter, e no canal podem ser vistos muitos outros vídeos, inclusive dessa mesma festa. Nesta página, pode ser lida a letra completa em russo e ouvido o áudio com a canção em estúdio. Eu mesmo traduzi e legendei a canção, e seguem abaixo as legendas, a letra em russo e a tradução:


1. В град добрался стольный стал с коня умылся
Сел за стол с братами пил и веселился
В путь домой собрался а на ём засада
Заковали в даль погнали да без самосада

Припев (2x):
Ой ся ты ой ся, ты меня не бойся
Я тебя не трону, ты не беспокойся

2. Шёл на каторгу жиган чёрные сапожки
Почему то не надел на босые ножки
Без сапожков больно натирало вены
Через батьку Енисей до реки до Лены

(Припев)

(Соло)

3. На царёв конвой посвист налетели други
Расклепали кандалы проладили в струги
Дали ему кинжал дали ножик финку
Да на вёслах на Кубань танцевать лезгинку

(Припев)

4. Водка без стакана, пуля без нагана
Неделима с волей доля атамана
Вот она какая доля не простая
Понеси попробуй до конца, до края

(Припев)

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1. Na capital, o atamano saiu do cavalo, lavou-se
Foi à mesa com os manos, bebeu e se divertiu
Partiu à casa, mas no caminho, uma armadilha
Apanhou, fizeram-no correr, ficou sem tabaco

Refrão (2x):
Ei, camarada, não tenha medo de mim
Não se preocupe, não vou fazer mal

2. Um reincidente ia às galés de botinas pretas
Mas por que não andava de pés descalços?
Sem botinas, as veias se esfolavam em dor
Ao passar pelo grande Ienisei até o rio Lena

(Refrão)

(Solo)

3. A um guarda do tsar se precipitaram os amigos
Romperam suas algemas, puseram-no na barca
Deram-lhe um punhal e uma faca finlandesa
E remaram até o Donbás para dançar lezginka

(Refrão)

4. Vodca sem copo, bala sem pistola,
O que o atamano quer, lhe ocorre
Esse destino não é coisa fácil
Tente só vivê-lo até o limite!

(Refrão)




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