domingo, 16 de julho de 2017

A oração do cossaco (Ойся ты ойся!)


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/oisia

Esta canção e esta dança são muito lindas, sendo de extração cossaca e originadas no Cáucaso, parte do qual se situa no sul da Rússia. A música se chama “Казачья молитва” (Kazachia molitva), A oração do cossaco, mas na cultura popular e em suas várias letras com que é conhecida, também é chamada “Ойся ты ойся” (Oisia ty oisia), aludindo a uma interjeição pela qual os russos chamavam os povos locais (tchetchenos, inguches etc.) no século 19. A autoria da canção é totalmente anônima, e acredita-se que tenha sido composta no tempo da Guerra do Cáucaso (1817-1864), quando o Império Russo combateu chefes políticos e religiosos locais a fim de anexar o norte daquela região, o que acabou de fato ocorrendo.

A música e sua dança se dão ao ritmo do gênero lezginka, apanágio popular do povo lezguiano, um dos grupos nativos do Cáucaso, mas esse gênero é difundido por toda aquela região. Entre as várias versões que sempre circularam, uma delas faz referência ao modo como os russos se relacionavam com os povos nativos, dizendo de forma irônica que eles não deviam temer os ocupantes; essa versão foi recentemente usada numa propaganda do governo Putin pra tirar o medo de que estrangeiros possam ser agredidos por hooligans na Copa de 2018 (já postei aqui). Os cossacos usavam a palavra “oisia” pra designar os povos vainaques (ou vaynakh), isto é, tchetchenos e inguches, que ao dançarem a lezginka, emitiam o grito glotal “khorsa!”, daí se originando aquele apelido.

Naquela postagem anterior do meu blog, eu coloquei os links pra várias outras versões disponíveis no YouTube, em situações bem diversas. Uma delas era a comemoração do aniversário do falecido soldado Givi, famoso figurão que combatia junto às tropas de língua russa no conflito do leste da Ucrânia. Outra era um show muito lindo, feito provavelmente pelos cantores e dançarinos do Coral do Exército Vermelho (atual Coral Aleksandrov do Exército Russo) e que não resisti em legendar, como vocês podem ver agora. A identificação que fiz é uma probabilidade, pois no próprio canal do qual baixei o vídeo, não há nada descrito.

A característica principal desta versão é que, no refrão, a referência é feita a um cossaco que parte de seu lar pra luta. Por isso, o termo “oisia” não faz exatamente um chamamento ao estrangeiro por meio de um apelido baseado no jeito de falar alheio, mas indica uma interjeição de ânimo, peculiar àquela região mesmo entre os russos. Daí eu ter traduzido por alguns regionalismos do sudeste brasileiro, apenas pra tentar aproximar um pouco do que se quis dizer. De fato, a música tem diversas expressões características do sul da Rússia, como a interrogação “али” (ali) na segunda estrofe, indicando dúvida.

Desta página eu baixei o vídeo sem legendas e copiei a letra da canção, que está na descrição. Eu mesmo traduzi e legendei, mas como a letra apresentada não estava bem disposta, fiz algumas retificações, e ela pode ser lida abaixo, depois da minha legendagem e seguida pela tradução em português:


1. У реки, у Терека
Казаки гуляли
И калёною стрелой
За реку бросали

Припев:
Ойся ты ойся
За меня не бойся
Я вернусь с войны домой
Ты не беспокойся

2. Али мы не казаки?
Али мы не терцы?
Али мы не любим Терек
И Кубань всем сердцем?

(Припев)

3. Казаки не простаки
Славные ребята
Хоть в кармане ни гроша
Но живут богато
На Кавказе все казачки
Самые красивые
На Кавказе казаки
Самые счастливые

(Припев)

4. Шашка острая моя
Верная подруга
Конь горячий вороной
Нет мне лучше друга

(Припев)

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1. No Cáucaso passeavam
Cossacos pelo rio Terek
E como flechas ardentes
Atravessavam suas águas

Refrão:
Eita, meu, eita
Não tema por mim
Volto pra casa ao findar
A guerra, não se preocupe

2. Mas não somos cossacos
Vivendo junto ao Terek?
Não o amamos, e também
Kuban de todo coração?

(Refrão)

3. Cossaco não é bobo
Mas sim, gente fina
Sem tostão no bolso
Mas com a vida rica
As cossacas do Cáucaso
São todas as mais lindas
E os cossacos do Cáucaso
Todos são os mais felizes

(Refrão)

4. A afiada espada curva é
Minha companheira fiel
E não há amigo melhor que
Meu irascível cavalo negro

(Refrão)



Os “tertsy”, como eram conhecidos os cossacos do rio Terek.

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