Por causa do prestígio da União Soviética, mesmo canções patrióticas ou de guerra compostas nos tempos do Império Russo terminaram sendo resgatadas no estrangeiro e ganhando traduções e conteúdos novos, sobretudo nos meios antifascistas. A 2.ª Guerra Mundial viu proliferarem essas iniciativas, tendo sido a mais famosa, certamente, a feita com a canção A despedida da eslava (veja aqui os links pra todas as versões no blog), que ganhou, inclusive em russo, uma versão antinazista. Os exércitos de resistência contra a expansão do Eixo na Europa traduziam e cantavam essas canções, tendo-se tornado patrimônio da cultura comunista e de esquerda. Na época da Segunda Guerra e durante o regime iugoslavo de Josip Broz Tito, muitas dessas músicas foram traduzidas ou compostas em servo-croata e em esloveno, tornando-se um rico acervo da chamada “cultura partisan”, muito admirada também no Brasil, mas ainda pouco estudada.
Leonid Petrovich Radin (1860-1900) foi um revolucionário, poeta e inventor russo, tendo recebido aulas, entre outros, do famoso cientista Dmitri Mendeleiev na universidade. Seu pai era dono de uma destilaria e de um moinho, por isso foi cedo encaminhado pra química, mas também usou seus talentos pra tipografia, em serviços especiais pro Partido Operário Social-Democrata da Rússia, que seria o núcleo do futuro Partido Bolchevique. Por isso, Radin foi preso em 1896, e no mesmo ano, na Prisão de Taganka, compôs Smelo, tovarischi, v nogu!, canção cuja letra fala da luta pela liberdade em geral, já aludindo à bandeira vermelha, tão corrente na cultura socialista. Ela pode ser escutada nesta página. Radin foi solto só em 1900, mas já com a saúde debilitada, foi tratar-se na Crimeia e logo morreu em Ialta.
Eu baixei o áudio em servo-croata deste vídeo, em cuja descrição está também a letra escrita. A língua servo-croata era o que se chama hoje de sérvio e croata como idiomas distintos, por vezes se falando ainda de bósnio e montenegrino. O padrão linguístico era unificado, mas a base do que se chamava “servo-croata” era um dialeto setentrional do que hoje se chamaria “sérvio”, como se pode notar bem pelo vocabulário e pela característica “ekaviana” da pronúncia. Uma das diferenças básicas é que a base literária do sérvio é o dialeto “ekaviano”, em que a vogal “iat” do protoeslavo evoluiu pra “e”, enquanto a do croata é o dialeto “ijekaviano”, em que a mesma vogal evoluiu pra “ije” (= iê). Notar a diferença entre cvet e cvijet (flor) ou, na canção, entre slep (que aparece) e slijep (cego).
Eu mesmo traduzi e legendei a música. No vídeo, fiz uma montagem com duas legendas, em servo-croata e português, botando a primeira em alfabeto latino pra comodidade de vocês. Vejam o vídeo duas vezes, lendo uma legenda de cada vez! A canção também ficou famosa em língua alemã, sob o título Brüder, zur Sonne, zur Freiheit. Seguem abaixo a legendagem bilíngue, a letra em servo-croata nos alfabetos latino e cirílico, e a tradução em português:
Budi se istok i zapad, Napred, sve bliže i bliže, Drhti od našega hoda Složno smrt gvozdenoj peti, ____________________ Буди се исток и запад, буди се север и југ! Кораци тутње у напад, напред, уз друга је друг! Кораци тутње у напад, напред, уз друга је друг! Напред, све ближе и ближе, Дрхти од нашега хода Сложно смрт гвозденој пети, ____________________ Leste e oeste despertam, norte e sul despertam! Passos rugem ao ataque, avante, ombro a ombro! Passos rugem ao ataque, avante, ombro a ombro! Avante, se aproximando, Nossa marcha assusta Matemos o tacão de ferro, |
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