domingo, 11 de junho de 2017

Trotsky condena Processos de Moscou


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Nesta breve gravação feita no México, Lev Davidovich Bronstein (Leon Trotsky), fundador do Exército Vermelho, critica do exílio, em inglês, os julgamentos teatrais favorecidos por Iosif Stalin em Moscou entre os anos de 1936 e 1938 contra supostos “espiões sabotadores” e “inimigos do povo”. Todos os antigos bolcheviques agora julgados eram acusados de colaborar com Trotsky em complôs pra derrubar Stalin e em supostas iniciativas, financiadas pelos países capitalistas, pra invadir a URSS e desalojar os bolcheviques.

Em 1940, o próprio Trotsky seria assassinado no México por Ramón Mercader, a mando de Stalin. Existe uma polêmica que associa o galo cantando ao fundo, notável no começo e no fim do filme, à passagem bíblica em que Pedro nega falsamente três vezes aos soldados romanos que não conhecia Jesus, ao fim das quais um galo cantou ao fundo. Infelizmente, a qualidade do vídeo não está muito boa, mas somente no canal de Nikolai Iulski existe a versão integral, e a partir daí eu o baixei. Pra piorar, não achei em nenhum lugar da internet qualquer transcrição da fala de Trotsky, nem sequer fragmentos. Espero que, com esta postagem, eu possa estar suprindo a lacuna.

Eu já não sou muito fluente em inglês, então transcrevê-lo falado por um ucraniano num vídeo antigo foi quase impossível, e o trabalho ficou muito lacunar. Se não fossem os seguintes especialistas, que me ajudaram em listas de e-mail de tradutores a completar a transcrição, nada teria sido possível: Derval Aquino, David Coles, Gaby Nunes, Paula Ribeiro e Rui Silva. Eu mesmo traduzi do inglês pro português, legendei o vídeo e carreguei-o no meu antigo canal do YouTube. Seguem abaixo a legendagem, a transcrição em inglês e a tradução, que não sei se está toda correta, em português, cujo texto, apropriado pra leitura escrita, foi adaptado nas legendas:


Esteemed audience, you will easily understand if I begin my short address to you in my very imperfect English by addressing my warm thanks to the Mexican people and to the man who leads them with such merit and courage, President Cárdenas.

When monstrous and absurd accusations were hurled at me and my family, went my wife and myself under the lock and the key of the Norwegian government. Without being able to defend ourselves, the Mexican government opened the doors of this magnificent country and said to us: ‘Here, you can freely defend your right and your honor.’ Naturally, it is not a sympathy for myself, my ideas, which has motivated President Cárdenas, but a fidelity to his own ideas. All the more meritorious, then, is his act of democratic hospitality, so rare these days.

Stalin’s trial against me is built upon false confessions, extorted by modern inquisitorial methods, in the interest of the ruling elite. There are no crime in History more terrible, given intention and execution, than the Moscow trials of Zinovyev-Kamenev and then of Pyatakov-Radek. These trials developped not from Communism, not from Socialism, but from Stalinism, that is, from the irresponsible despotism of the bureaucracy over the people.

What is now my principle task? To reveal the truth, to show and to demonstrate that the true criminals hide under the cloak of the accusers. What will be the next step in this direction? The creation of an American, an European, and subsequently of the International Commission of Inquiry, composed of people who incontestably enjoy authority and public consideration. In confidence I undertake to present to such a Commission all my files, thousands of personal and open letters, in which the developments of my thought and my action is reflected day by day without any gaps. I have nothing to hide.

Dozens of witnesses who are abroad assess invariable facts and documents, which will shed light on the Moscow framers. The work of the commission of inquiry must terminate in a great counter-trial. A counter-trial is necessary to cleanse the atmosphere of the germs, of the seed, calumny, falsification, and frameups, whose source is Stalin’s police, the GPU, which has fallen to the level of the Nazi Gestapo.

Esteemed audience, you may have many varying attitude toward my ideas and my political activity for 40 years, but an impartial inquiry will confirm that there is not a stain on my honor both personal and political. Profoundly convinced that the right is on my side, I wholeheartedly salute the citizens of the New World.

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Caros espectadores, vocês vão entender facilmente se eu começar minha breve mensagem a vocês em meu inglês muito imperfeito, enviando minha calorosa gratidão ao povo mexicano e ao homem que o comanda com tanto mérito e coragem, o presidente Cárdenas.

Ao serem lançadas monstruosas e absurdas acusações sobre mim e minha família, ficamos minha esposa e eu sob a proteção do governo norueguês. Sem podermos nos defender sozinhos, o governo mexicano abriu as portas desse magnífico país e nos disse: “Aqui vocês podem defender livremente seus direitos e sua honra.” Naturalmente, não foi uma simpatia por mim e minhas ideias que motivou o presidente Cárdenas, mas uma fidelidade a seus próprios ideais. Tão mais louvável, então, é seu ato de hospitalidade democrática, tão raro atualmente.

O julgamento de Stalin contra mim é baseado em falsas confissões, extorquidas com métodos inquisitoriais modernos, no interesse da elite governante. Não há crime mais terrível na história, em termos de intenção e execução, do que os julgamentos de Moscou contra Zinoviev e Kamenev, e depois contra Piatakov e Radek. Esses julgamentos derivam não do comunismo ou do socialismo, mas do stalinismo, isto é, do despotismo irresponsável da burocracia sobre o povo.

Qual é agora minha principal tarefa? Revelar a verdade, mostrar e provar que os verdadeiros criminosos se escondem sob o manto dos acusadores. Qual será o próximo passo nesse sentido? Criar uma Americana, uma Europeia e na sequência a Comissão Internacional de Inquérito, composta por pessoas que gozam de incontestável autoridade e estima pública. Eu me comprometo a apresentar privadamente a essa comissão todos os meus arquivos, milhares de cartas pessoais e abertas, nas quais se refletem os desdobramentos diários de meu pensamento e de minha ação, sem nenhuma lacuna. Nada tenho a esconder.

Dúzias de testemunhas no exterior estão analisando fatos e documentos incontestáveis que vão desvelar os falsos acusadores de Moscou. O trabalho da Comissão de Inquérito deve culminar num grande contrajulgamento. Um contrajulgamento é necessário para purgar a atmosfera dos germes, da podridão, calúnia, falsificação e conchavos, cujo ninho é a polícia de Stalin, a GPU, que decaiu ao nível da Gestapo nazista.

Caros espectadores, vocês podem ter posições muito variadas para com minhas ideias e minha atividade política em 40 anos, mas uma investigação imparcial vai confirmar que não há qualquer mancha em minha reputação, seja pessoal ou política. Profundamente convencido de que a verdade está comigo, saúdo calorosamente os cidadãos do Novo Mundo.



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