domingo, 26 de fevereiro de 2017

“Дунаю, Дунаю” (Danúbio, Danúbio)


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/dunaiu

Esta é mais uma das canções populares ucranianas, chamadas em geral de “cossacas”, que conheci por acaso em indicações automáticas feitas pelo YouTube. Ela se chama “Дунаю, Дунаю” (Dunaiu, Dunaiu), Danúbio, ó, Danúbio, e “Dunaiu” é mais exatamente a forma vocativa (quando chamamos ou invocamos algo ou alguém) de “Дунай” (Dunai), ou seja, o célebre e adorado rio Danúbio, que corta vários países da Europa Central e Oriental. A interjeição “ó”, portanto, poderia ser dispensada, já que a ideia de apelação está implícita na pronúncia, mas decidi manter em alguns trechos, pois ela lembra bem o fato de haver essa declinação na língua ucraniana.

Quem está tocando é o grupo folclórico “Vyshnia”, palavra que, como já sabemos, significa “cereja” ou “cerejeira”. Segundo pude saber, essa apresentação foi feita em 2005, mas o vídeo sem legendas que eu baixei foi postado em 2009, no canal do portal Aratta, especializado em manifestações nacionais ucranianas. Ou seja, muito antes de toda essa bagunça que hoje está dilacerando a Ucrânia. O diretor artístico dessa produção é Adam Dziuba, o senhor de barba e chapéu de palha tocando sanfona no vídeo, nascido em 1949 e que atuou em muitas outras iniciativas semelhantes com esse e outros grupos. A letra e outros materiais relacionados à música podem ser vistos nesta página.

Na verdade, essa letra que eles cantam é uma das várias que existem tanto em vídeos quanto em escritos, pois, como toda canção popular antiga e passada pela tradição, teve sua letra modificada e, conforme a ocasião, adaptada. Existe também uma outra música com Dunaiu, Dunaiu no nome, cantado logo no começo, mas nada tem a ver com esta. A letra é bem simples, e não apresenta grandes obstáculos de tradução e compreensão, tratando de uma donzela que cumpria suas tarefas caseiras com dificuldade porque ficava flertando com os jovens de sua região. Insatisfeito, seu pai quer casá-la de todo jeito (“desencalhá-la”, como dizemos) pra não ter mais dores de cabeça.

Parece-me que essa canção tem menos traços vocabulares ou gramaticais que lembrem o russo padrão (mesmo sabendo que na zona de fronteira, a divisão linguística não é tão rígida), exceto a expressão “дома” (doma), “em casa”, que em ucraniano pode ser dita de outras maneiras. Aparecem cinco nomes próprios masculinos no texto: “Гриць” (Hryts) – diminutivo de “Григорій” (Hryhori, ou Gregório), “Данило” (Danylo), “Петро” (Petro), “Степан” (Stepan) e “Іван” (Ivan). Todos aparecem na forma do acusativo singular (o caso do objeto direto): Гриця (Hrytsia), Данила (Danyla), Петра (Petra), Степана (Stepana), Івана (Ivana), e há também o vocativo de Hryts (“Грицю”, Hrytsiu, ou “Ó/Ei, Hryts”). Pra fluir melhor a leitura, eu substituí Hryts por “Greg” (que em inglês e português é o diminutivo popular urbano de Gregory/Gregório), Petro por “Pedro” e escrevi “Danilo”.

Há um diminutivo, “Дунаєчко” (Dunaiechko), que traduzi “Danubinho” (também nome de um queijo pequeno da marca Danubio), e termina com “-u” porque está no vocativo singular, assim flexionados os substantivos masculinos terminados em “-о”, mais raros de ocorrer na língua russa. Há dois substantivos que indicam homens jovens e, em geral, solteiros: “парубок” (parubok) e “хлопець” (khlopets), ambos no plural e declinados em caso. Aprendam também o ucraniano, ele vai ajudar ainda mais a ler outras línguas eslavas do que saber só o russo!

Eu mesmo traduzi e legendei o vídeo em português. Seguem abaixo as legendas, a letra em ucraniano e a tradução escrita em português:



1. Ой, послала мене мати
До Дунаю хусти прати.
Ой, послала мене мати
До Дунаю хусти прати.

Приспів (2x):
Дунаю, Дунаю,
Дунаєчку, Дунаю!
Яка в тебе зимна вода
На краю, на краю.

2. Ой, не прала, ой не прала –
З парубками простояла.
Ой, не прала, ой не прала –
З парубками простояла.

(Приспів 2x)

3. За те мене мати била,
Щоб я хлопців не любила.
За те мене мати била,
Щоб я хлопців не любила.

(Приспів 2x)

4. Я ж нікого не любила,
Тільки Гриця та Данила
Тільки Петра та Степана,
Кучерявого Івана.

(Приспів 2x)

5. Сватай, сватай мене, Грицю,
Казав батько: дам телицю,
Казав батько: дам вола,
Щоби дома не була!

(Приспів 2x)

(знову куплет 1)

(Приспів 2x)

____________________


1. Ei, minha mãe me mandou
Pro Danúbio lavar xales.
Ei, minha mãe me mandou
Pro Danúbio lavar xales.

Refrão (2x):
Danúbio, ó, Danúbio,
Danúbio, Danubinho!
Como sua água está fria,
Ao extremo, ao extremo!

2. Não lavei, ei, não lavei,
Fiquei junto dos rapazes.
Não lavei, ei, não lavei,
Fiquei junto dos rapazes.

(Refrão 2x)

3. Por isso, mamãe me bateu,
Pra não paquerar os moços.
Por isso, mamãe me bateu,
Pra não paquerar os moços.

(Refrão 2x)

4. Mas não paquerei ninguém,
Apenas o Greg e o Danilo,
Apenas o Pedro e o Stepan,
E o Ivan de cabelo enrolado.

(Refrão 2x)

5. Peça pra casar comigo, Greg,
Papai disse: darei uma novilha,
Papai disse: darei um boi
Pra ela não ficar em casa!

(Refrão 2x)

(De novo a estrofe 1)

(Refrão 2x)




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Красуй, Беларусь! (hino para Belarus)


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/krasui

Esta é uma peça muito interessante, que me pediram pra traduzir já faz alguns anos. Trata-se da canção “Красуй, Беларусь!” (Krasui, Belarus!), Floresça, Belarus!, que foi proposta num concurso pra escolher o novo hino nacional de Belarus em 2002, mas acabou perdendo pro hino atual (My, belarusy) que já traduzi duas vezes aqui no blog. A música que apresento aqui tem letra de Leanid Pranchak e melodia de Vasil Rainchyk.

Segundo as poucas informações que constam a respeito, o hino foi composto em 30 de outubro de 1991 em Minsk, capital da Bielorrússia soviética, com o nome “Жыве, Беларусь!” (Zhyve, Belarus!), Viva Belarus!, ou seja, a antiga URSS estava perto de sua ruína final. Segundo um interessante relato de 2009, o conjunto “Verasy” estava dando um concerto com música eletrônica em 28 de abril de 1992, num salão filarmônico, quando no encerramento ele tocou junto com o coral dirigido por Igor Matiukhov a nova canção Zhyve, Belarus!. Ninguém sabia que ela era uma proposta pro novo hino do país (ou hino do novo país?...), mas instintivamente a plateia se levantou aos primeiros acordes e escutou a música de pé.

Já com a letra modificada (escrita em Paris em 20 de abril de 2002) e renomeado como Krasui, Belarus!, o hino concorreu na nova disputa que houve em 2002, mas ao final foi escolhido o “Мы, беларусы” (My, belarusy) que já postei no YouTube. Curiosamente, na votação por telefone em que participaram mais de 118 mil pessoas, 37.437 votaram em Krasui, Belarus!, 26.279 votaram numa canção chamada Minha querida pátria, e as variantes de U. Karyzna (o hino atual), Z. Marozau e I. Karenda sobre a melodia de 1944 feita por Nestser Sakalouski receberam respectivamente 25.636, 15.947 e 8.688 votos.

De fato, não são poucos os belarussos, especialmente os nacionalistas que insistem ser a língua belarussa o verdadeiro idioma do país (e não o russo, falado majoritariamente) e opõem-se à influência e ingerência da Rússia sobre Belarus, que veem em Krasui, Belarus! um hino edificante, inspirador, iniciador de uma sensação de orgulho pela terra onde se vive. Não por acaso, só pro conceito de “Pátria” existem três palavras que se traduzem perfeitamente por ele: “Радзіма” (Radzima), “Айчына” (Aichyna) e “Краіна” (Kraina), que aparece na expressão “Kraina-matsi” (Pátria-Mãe). Isso se não contarmos as palavras “край” (krai), que aparece em “rodny krai” (terra/torrão natal), e “Дзяржава” (Dziarzhava), mais bem traduzida como cognata do ucraniano “derzhava” (Estado) e relacionada ao russo “derzhava” (poder, potência). Outra curiosidade: o bordão “Zhyve, Belarus!” (Viva Belarus!) é condenado pelo governo de Aleksandr Lukashenko, pois se usa em geral entre seus opositores, menos simpáticos à dominância russa, e politicamente equivale mais ou menos ao ucraniano “Slava Ukraini! Heroiam slava!” (Glória à Ucrânia! Glória aos heróis!) dos maidanistas.

A primeira versão que escutei foi a que me indicaram há uns anos, sem letra e tradução escritas, mas cuja qualidade sonora está bem melhor. Eu baixei este vídeo sem legendas no canal do próprio compositor da melodia, cujo nome de usuário está em russo. Estão nesta página as informações que traduzi acima e as duas letras de 1991 e 2002. Eu mesmo traduzi o texto direto do belarusso e legendei, e abaixo seguem a legendagem, a letra em belarusso e a tradução:


Красуй, Беларусь! Край мой родны, край свабодны,
Жыві і слаўся, — як малітву (*) вымаўляю я.
Жыві, жыві! Красуйся ў радасці заўсёды,
Блаславенная мая дарагая зямля.
Беларусь, Беларусь, ты красуйся ў радасці заўсёды.
Слаўся, слаўся у вяках, ты — Радзіма мая!

(*) Significa “oração”, mas no vídeo cantam “прызнаньне” (confissão).

Красуй, Беларусь! Дзе б ні быў я — ты са мною.
Сваёй пяшчотай нашы сэрцы аб’яднала ты.
Жыві, жыві! Люблю цябе я ўсёй душою,
Гордых продкаў вольны край, край пакутны, святы.
Беларусь, Беларусь, я люблю цябе усёй душою,
Ты — Айчына мая назаўжды, назаўжды!

Красуй, Беларусь! Наша спадчына і слава,
Краіна-маці, ты жыві у шчасці з году ў год.
Жыві, жыві! Красуйся, родная Дзяржава.
Будзе вечна на зямлі старажытны наш род.
Беларусь, Беларусь, слаўся, наша родная Дзяржава!
Слаўся, слаўся у вяках, беларускі народ!

____________________


Floresça, Belarus! Minha terra natal, terra livre,
Viva e glorie-se: assim declaro em confissão.
Viva, viva! Floresça sempre na alegria,
Minha querida terra abençoada.
Belarus, Belarus, sempre floresça na alegria.
Glória pelos séculos, você é minha Pátria!

Floresça, Belarus! Comigo aonde quer que eu vá.
Com sua ternura, unificou nossos corações.
Viva, viva! Amo você com toda a alma,
Terra livre, penitente e sagrada de altivos ancestrais,
Belarus, Belarus, amo você com toda a alma,
Você é minha Pátria para sempre, sempre!

Floresça, Belarus! Nosso patrimônio e glória,
Pátria-Mãe, viva ano após ano na felicidade.
Viva, viva! Floresça, Estado natal.
Nossa linhagem secular será eterna na Terra.
Belarus, Belarus, glória a nosso Estado natal!
Glória pelos séculos, povo belarusso!




domingo, 19 de fevereiro de 2017

“Маруся” (Marusia), música ucraniana


Link curto para esta publicação: fishuk.cc/marusia


Conheci esta canção folclórica ucraniana por acaso, que se chama “Маруся” (Marusia) e na Rússia e na Ucrânia é o diminutivo carinhoso dos nomes Maria e Marina (ucr. Maryna). Esta canção é de domínio popular (autoria anônima), e neste vídeo é cantada pelo Coletivo Zozulenka (Зозуленька).

Culturalmente falando, a música dá muitos traços folclóricos que ucranianos partilham não apenas com a Rússia, mas também com países eslavos ocidentais, como o nome/apelido Marusia, também usual na Polônia, e o viburno (калина/kalyna), nossa já conhecida baga. Aliás, notem que o refrão tem estrutura quase igual à da música russa Kalinka-Malinka, que postei há algumas semanas: a comparação do viburno com uma bela jovem (por isso “feminizo” o substantivo, isto é, “viburna”) e sua colocação (com colheita ou fruição) num jardim. No artigo acima, vocês podem ler mais sobre a presença do viburno na cultura russo-ucraniana e sua ligação à jovem beleza feminina.

No domínio ucraniano em si, “Marusia” indica figuras moças e femininas semilendárias nos relatos épicos e tradições nacionais. Marusia Boguslavka teria sido uma jovem que, segundo uma balada épica, foi tomada pelos turcos e vendida pro harém de um poderoso khan. Tanta confiança teria obtido do esposo que, obtendo a chave de uma prisão, libertou alguns cossacos ucranianos presos, mas ela mesma não fugiu, por estar acomodada à própria situação. O poema teria figurado os ucranianos que, mesmo muito longe da terra natal, guardavam fortes laços com ela. Não se sabe bem quando a moça teria vivido, talvez no primeiro quartel do século 17, mas a balada épica só se publicou pela primera vez em 1856. A cantora e poeta Maria (Marusia) Churai também viveu de 1625 a 1653 em Poltava, mas pouco se sabe da sua vida, embora algumas canções muito famosas na Ucrânia sejam atribuídas a ela. Seu nome e escritos ficaram célebres com a renascença nacionalista, durante o século 19.

Tem ainda a temática cossaca e cortesã que impregna a música e poesia da Ucrânia. Como na canção Ei, falcões, que já postei aqui, a jovem simples recebe galanteios de um cossaco moço, dividido entre deveres da guerra e impulsos do amor. Da mesma forma, há confusão constante entre o personagem masculino e o próprio narrador: ora canta-se “Ele fez”, “Ele deu”, ora fala-se “Ela me deixou”, “Estou triste”, dando a entender que a vida e o sentir do figurante também eram ou poderiam ser do compositor ou qualquer outro ucraniano. As bagas são frutos comuns na Europa Oriental, e enquanto em Kalinka-Malinka o viburno (árvore cujo fruto é a kalina russa ou a kalyna ucraniana) aparece com a framboesa, aqui aparece com a cereja (vyshnia). Todos são ligados à beleza das moças jovens e brejeiras, e não à toa eles são do gênero feminino. A pluralidade estética também aparece: no refrão, fala-se de jovem morena (mais exatamente, de cabelos pretos), e mais à frente menciona-se uma loira como alvo do desejo.

A canção Marusia é rica em exemplos a alunos de ucraniano como língua estrangeira. É uma aula sobre diminutivos (bem mais usados nas línguas eslavas do que no português), formados com os mais diversos sufixos, em geral de feição carinhosa ou eufêmica: “криниця” (krynytsia, poço) → “криниченька” (krynychenka), “дівчина” (divchyna, moça) → “дівчинонька” (divchynonka), “козак” (kozak, cossaco) → “козаченько” (kozachenko), “невелика” (nevelyka, pequena) → “невеличка” (nevelychka). Tem até “diminutivo do diminutivo”: “відро” (vidró, balde) → “відерко” (viderko) → “відеречко” (viderechko)! Alguns morfemas gramaticais são comuns na poesia ou músicas, em nome da métrica, e lembram o padrão do russo: os verbos terminados em “-ть” no infinitivo, quando o comum é “-ти”, como em “спочивати” (spochyvaty, descansar) → “спочивать” (spochyvat), “копати” (kopaty, cavar) → “копать” (kopat); um adjetivo singular feminino terminado em “-ая”, quando o comum é “-а”, que é “чорнявая” (chorniavaia, morena, de cabelos pretos) ← “чорнява” (chorniava).

Além disso, no refrão, na expressão “Маруся раз, два, три” (Marusia raz, dva, try), a palavra “raz”, que literalmente significa “vez”, “turno”, está significando “uma” (estão aí se contando “bagas”), pois o numeral, literalmente, é sempre comprido pra métrica: “odyn” (masculino), “odna” (feminino), “odne” (neutro). Também em russo, é comum usar apenas “raz” quando queremos dizer “uma vez”, uma só repetição de uma ação. Acredito que na canção, há ainda uma alusão a catar bagas como uma ação sucessiva, e não apenas à quantia numérica de bagas que Marusia colhe: ela colhe uma baga (uma vez), depois outra (uma segunda vez) e assim por diante.

O Coletivo Zozulenka é mais um que mistura batida eletrônica com música folclórica tradicional, cantando canções populares, sobretudo. “Zozulenka”, aliás, é outro diminutivo, o de zozulia, ou “cuco” (pássaro), e também se usa como sobrenome. O vídeo sem legendas que baixei está nesta página. Na verdade, Marusia em geral se toca com dança, mas não gostei da qualidade gráfica de alguns vídeos que têm apresentações no YouTube: este aqui com vários homens e mulheres na performance, e este outro só algumas moças. Antes de legendar, traduzi a partir desta letra, embora no vídeo haja umas poucas diferenças. Seguem abaixo as legendas, a letra em ucraniano e minha tradução pro português:


1. Розпрягайте, хлопці, коней,
Та й лягайте спочивать.
А я піду в сад зелений,
В сад (*) криниченьку копать.

(*) No vídeo cantam “Та й”.

Приспів (2x):
Маруся раз, два, три, калина.
Чорнявая дівчина в саду ягоди рвала.

2. Копав, копав криниченьку
У вишневому саду.
Чи не вийде дівчинонька
Рано-вранці по воду.

(Приспів 2x)

3. Вийшла, вийшла дівчинонька
В сад вишневий воду брать.
А за нею козаченько
Веде коня напувать.

(Приспів 2x)

4. Просив, просив відеречко, (*)
Вона йому не дала.
Дарив, дарив з руки персня, (**)
Вона його не взяла.

(*) No vídeo cantam “відеречка” (genitivo singular).
(**) No vídeo cantam “перстень” (nominativo singular).

(Приспів 2x)

5. Знаю, знаю, дівчинонько,
Чим я тебе розгнівив.
Що я вчора, ізвечора
Із другою говорив.

(Приспів 2x)

6. Вона ростом невеличка,
Ще й літами молода.
Руса коса до пояса,
В косі стрічка голуба.

(Приспів 2x)

____________________


1. Desarreiem os cavalos, moços,
E deitem-se então, descansem.
Eu vou pro verde jardim,
Pro jardim (*) cavar um pocinho.

(*) No vídeo cantam “E lá”.

Refrão (2x):
Marusia viburna, morena, colhia
No jardim uma, duas, três bagas.

2. Cavei, cavei o pocinho
No jardim de cerejas.
A mocinha não vai sair
De manhã cedo buscar água?

(Refrão 2x)

3. A mocinha saiu, saiu buscar
Água no jardim de cerejas.
E atrás dela um cossaquinho
Levava o cavalo pra beber.

(Refrão 2x)

4. Ele pediu, pediu um baldinho
E ela não o deu pra ele.
Regalou-a com um anel da mão
E ela não o aceitou.

(Refrão 2x)

5. Eu sei, eu sei, mocinha,
Como foi que te irritei.
É que ontem à tardinha
Estava falando com outra.

(Refrão 2x)

6. Ela é pequenina de altura,
Ainda é jovem pela idade.
Uma trança loira até a cintura,
Uma fita azul anil na trança.

(Refrão)



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Ensinando idioma guarani para russos


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Uns dias atrás eu quis fazer algo incomum no YouTube. Deu trabalho, mas acho que o resultado foi legal. Há algum tempo, pesquisando chamamés cantados em guarani, achei um vídeo em que dois irmãos do Mato Grosso do Sul que formam dupla sertaneja cantam música com frases em guarani traduzidas por português. No vídeo, há inclusive a legenda com as frases nas duas línguas, facilitando bem o trabalho de entendimento. Ora, pensei, eu comecei há pouco a estudar um pouco de guarani como autodidata, e por que não ponho uma legenda, trocando a parte em português pela língua russa?

Ocorreu que aprendi ainda mais tanto russo quanto guarani. Fiz a tradução da parte em português pro russo, embora de forma não literal, mas sucinta, pra poder caber nas legendas e passar rapidamente a ideia básica; e, o que deu um pouco mais de trabalho, corrigi a ortografia da parte em guarani, porque ela não estava conforme as normas hoje amplamente aceitas no Paraguai, mas misturava peculiaridades do português com formas ortográficas antigas, hoje caídas em desuso no guarani. Apesar do vídeo ainda não ter “bombado”, fiz uma peça que buscou de alguma forma introduzir os falantes de russo à língua indígena guarani, amplamente usada, segundo a descrição que escrevi em russo, no coração da América Latina, sobretudo Paraguai, norte da Argentina e oeste do Brasil. Em russo, o nome da língua se escreve “гуарани”, chamada pelos próprios falantes de avañe’ẽ, literalmente “língua de gente”.

Repito aqui algumas informações que dei em russo. O guarani pertence ao ramo linguístico tupi-guarani, incluído na ampla família tupi de línguas indígenas da América do Sul. Desde que, como ocorreu com outras línguas locais, os missionários ibéricos sistematizaram o guarani nos séculos 16 e 17 pra catequizar melhor os indígenas, ele mudou muito, adotando o alfabeto latino (que é chamado achegety) e hoje se tornando uma das línguas oficiais do Paraguai, junto do espanhol. Além de todo o território do Paraguai, o guarani se espalha por parte da Bolívia, províncias do norte da Argentina (Corrientes, Formosa e Misiones) e sul do Mato Grosso do Sul, e segundo dados estatísticos de 2012, há cerca de 8 milhões de falantes. Há diversos dialetos, sendo o principal deles o chamado “guarani paraguaio” ou “guarani moderno”, no qual se imprimem livros, revistas, jornais, dicionários e manuais, redigem-se websites e compõe-se rica cultura musical e poética. No YouTube, apontei que alguns sons até existem no russo, nomeadamente os grafados com as letras CH (“щ” em russo, que é um CH nosso, mas brando, palatal) e Y (“ы” em russo, um “i” bem gutural, quase feito como um “ê”), mas que as vogais nasais, por exemplo, são algo difícil pra europeus em geral.

Os senhores do vídeo são os irmãos Zenóbio e Imar (o que compôs a canção) Lopes Pecois, nascidos na cidade de Bela Vista - MS e cuja carreira começou em 1965, com seus primeiros shows públicos. No fim dessa década, gravaram seus primeiros discos, e com o nome de dupla “Os Filhos de Mato Grosso”, difundiram o sertanejo com o estilo de seu estado natal e incluíram em seu repertório muitas músicas em guarani ou com expressões dele. O vídeo com as legendas originais (em português e guarani, estilo Windows Movie Maker) foi gravado na rádio 104 FM de Campo Grande em 2013, e a música se chama Ensinando guarani (traduzi em russo como “Учение гуарани”, Uchenie guarani). Os irmãos Pecois apresentam a canção em português, depois cantam as frases cotidianas em guarani e traduzem pro português, mas no vídeo original as legendas dão as frases indígenas numa ortografia não toda correspondente ao que estabelece hoje a Academia de la Lengua Guaraní (por exemplo, usam JH no lugar do H, Y no lugar do J, omitem várias paradas glotais, que devem ser indicadas com um apóstrofo, confundem-se na acentuação gráfica e quase sempre escrevem C onde devia ser K).

Por isso, após alguma pesquisa virtual e bibliográfica, e como eu mesmo estou aprendendo guarani sozinho aos poucos, porque gosto muito da música paraguaia e queria começar a traduzi-la e legendá-la um pouco, corrigi o texto em guarani conforme as normas atuais e ainda traduzi eu mesmo o texto português pro russo. Também fiz e inseri as legendas no meu vídeo, tendo postado o resultado no meu antigo canal do YouTube, mas você também pode ver as legendas iniciais acessando o vídeo original que indiquei acima. O guarani, ao contrário de outras línguas indígenas brasileiras bem menores, não é falado por tribos isoladas, mas é um verdadeiro instrumento de cultura e componente identitário da esmagadora maioria da população paraguaia. Nesta página, pode-se ler um pouco mais sobre a trajetória de Imar e Zenóbio Pecois, Os Filhos de Mato Grosso. Seguem abaixo a legendagem, a letra com as explicações em português (que também tive de corrigir por vezes...) e a letra com as explicações em russo:


Refrão:
Se você quer aprender o guarani
Preste muita atenção
Foi pensando em você
Que eu escrevi esta canção
Eu não vou falar de amor
Muito menos de paixão
Vou cantar algumas frases
E fazer a tradução
Vou cantar algumas frases
E fazer a tradução

1. EJUMI KO’ÁPE, venha aqui
JAHA JAGUATA, vamos passear
JAHA JAKE, vamos dormir
JAHA JEGUSTA, vamos namorar
onça-pintada, JAGUARETE
cachorro magro, JAGUA PIRU
menina moça, KUÑATAĨ
e mulher galinha, KUÑA RYGUASU

EGUERU LA KÁÑA, traz a cachaça
CHE AMOKÕSE, eu quero beber
vou cair na farra, CHE AFARREA
a noite inteira, PYHARE JAVE
acabou o dinheiro, OPAMA LA PLÁTA
está tudo bem, IPORÃMBAITE
CHE AMBA’APÓTA, eu vou trabalhar
NDA CHERESARÁI, não vou te esquecer

(Refrão)

2. morena faceira, KAMBA JUKY
mulher bonita, KUÑA PORÃ
meu cunhado, CHE ROVAJA
AIPOTA NDE REINDY, quero a tua irmã
borboleta azul, PANAMBI HOVY
e o gato é MBARAKAJA
aranha pequena é ÑANDU’I
e veado gordo, GUASU KYRA

pererequinha é JU’I MICHĨ
sapo grande, KURURU GUASU
RO AÑUÃSE, quero te abraçar
beijar tua boca, AHETŨ NDE JURU
CHE JAHÁTA, eu já me vou
não vem com mentira, ANI NDE JAPU
ANI NE RASẼ, não precisa chorar
eu te amo, CHE ROHAYHU

____________________


Припев:
Вы хотите учить гуарани?
Тогда обратите внимание
Я думал точно о вас
Когда слагал эту песню
Не буду петь о любви
Ещё меньше о нежности
Я спою несколько выражений
И переведу их буквально
Я спою несколько выражений
И переведу их буквально

1. EJUMI KO’ÁPE, иди сюда
JAHA JAGUATA, давай гулять
JAHA JAKE, давай спать
JAHA JEGUSTA, давай флиртовать (*)
ягуар, JAGUARETE
тонкая собака, JAGUA PIRU
девушка, KUÑATAĨ
а шалунья (**), KUÑA RYGUASU

(*) Literalmente, “flertar”, “paquerar”.
(**) Literalmente, “sirigaita”, “namoradeira”.

EGUERU LA KÁÑA, принеси водку (*)
CHE AMOKÕSE, я хочу пить
я буду кутить, CHE AFARREA
всю ночь, PYHARE JAVE
деньги кончились, OPAMA LA PLÁTA
всё хорошо, IPORÃMBAITE
CHE AMBA’APÓTA, я буду работать
NDA CHERESARÁI, не забуду тебя

(*) Literalmente, “vodca” (“cachaça” se diz “vodca de cana”).

(Припев)

2. изящная смуглянка, KAMBA JUKY
красивая женщина, KUÑA PORÃ
мой шурин, CHE ROVAJA
AIPOTA NDE REINDY, хочу твою сестру
синяя бабочка, PANAMBI HOVY
а кот, MBARAKAJA
маленький паук, ÑANDU’I
а толстый олень, GUASU KYRA

маленькая лягушка (*), JU’I MICHĨ
большая жаба, KURURU GUASU
RO AÑUÃSE, хочу обнимать тебя
целовать твои губы (**), AHETŨ NDE JURU
CHE JAHÁTA, я ухожу
не будь лгуном (***), ANI NDE JAPU
ANI NE RASẼ, не стоит плакать
я люблю тебя, CHE ROHAYHU

(*) Literalmente, “rãzinha” (“perereca” se diz “rã que vive em árvore”).
(**) Literalmente, “lábios”.
(***) Literalmente, “não seja mentiroso”.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Hino a Vladimir Putin (versão Kofanov)


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“O plano de Putin é a vitória da Rússia!” (propaganda de seu partido Rússia Unida)


Esta música pitoresca se chama “Гимн Путину” (Gimn Putinu), Hino a Putin, e não é a única peça, seja num sentido sincero ou irônico, a portar esse título. Esta versão foi composta e cantada em 2012 por Aleksei Kofanov, um opositor de Vladimir Putin que postou o vídeo sem legendas em seu canal do YouTube em 2014.

Tudo começou quando meu espectador indicou esta versão postada no canal Derovolk, o qual tem muito material musical histórico, mas legenda apenas na língua original, e não em outra mais difundida. Eu mesmo, então, decidi procurar “Гимн Путину” na busca do YouTube e achei o vídeo original, que me foi a ponte pra toda história real. Esse é mesmo do canal do cantor, guitarrista, compositor, pintor e literato Aleksei Nikolaievich Kofanov, nascido em Kemerovo em 1971, filho do famoso pintor, ilustrador e ex-librista Nikolai Kofanov (1943-1998).

Mais esclarecimentos eu obtive na página pessoal de Aleksei. Ele expõe diversos detalhes de suas bandas, apresentações, história musical, família, autobiografias feitas de forma alegórica e humorística, as próprias canções com letra e áudio e vídeos instrutivos sobre vocalização e execução de guitarra. O material é rico, e além de uma loja, um blog e muitas fotos, ele dá vários textos comentando a atual situação política da Rússia. Sua visão sobre Putin e seu círculo é bastante crítica, embora não estridente, e sobre isso e outros temas (Stalin, comunismo, URSS, Ucrânia) pode-se ler aqui, em russo.

O próprio vídeo e a canção por si sós já são um tremendo monumento ironizante. Os menos prevenidos os reputariam um elogio sincero, mas as imagens e a letra mesma não resistem a essa análise. Pra começar, sua voz imita perfeitamente os barítonos banais que cantavam elegias ao governo soviético. Leonid Smetannikov, já legendado aqui, é um deles, mas há outros conhecidos nossos que resistiram à queda do Muro de Berlim, como Renat Ibragimov e Iosif Kobzon, bem conhecido por ser um adorador de Putin e nacionalista conservador fervoroso (veja aqui o Hino da República Popular de Donetsk). Não é à toa que sua imagem aparece várias vezes, como a do cantor idoso de cabelo preto com franjinhas. O próprio simplismo, esquematismo (três estrofes e um refrão, todos com quatro versos) e brevidade da letra, além da balalaica intrometida na banda militar, lembram muito do que tenho legendado ultimamente, ou seja, é uma paródia perfeita dessas elegias. Fecha com astúcia a imagem do ator loiro francês Gérard Dépardieu, conhecido admirador de Putin.

E Kofanov não deixa de receber críticas, em seus vídeos e seu canal, daqueles que gostam do governo atual, sendo toda hora chamado de “liberal” e de “vendido por dólares”: é exatamente a mesma rotulação que aqui fazemos dos “coxinhas” e dos “entreguistas”. Engraçada essa associação de Putin com o “antiliberalismo”, como se seu governo fosse incompatível com as práticas comuns de mercado... A letra com a data de criação e até as cifras pra musicistas estão nesta página. Em breve pretendo traduzir e postar também um dos outros “hinos a Putin” engraçados, que achei por acaso no YouTube. Seguem abaixo a legendagem, a letra em russo e a tradução em português:



1. Над планетою солнце встаёт.
С добрым утром, российский народ!
Мудрый лидер всегда на посту,
чует он всех врагов за версту.

Припев:
Путин! Надежда России.
Путин! Великая сила.
В основанье отчизны кирпич –
наш Владимир Владимирович!

2. Спит в посольстве британский агент,
но не дремлет наш президент.
Он в Кремле свою вахту несёт,
чтоб спал мирно российский народ.

(Припев)

3. Его имя как добрая весть,
и детей никогда он не ест!
План его мы исполним сполна.
Спи спокойно, родная страна.

(Припев)

____________________


1. Surge um sol sobre o planeta.
Tenha um bom dia, povo russo!
Líder sábio sempre a postos,
ele fareja todo inimigo de longe.

Refrão:
Putin! Esperança da Rússia.
Putin! Força grandiosa.
Pedra fundamental da pátria,
nosso Vladimir Vladimirovich!

2. O agente inglês dorme na embaixada,
mas nosso presidente não cochila.
No Kremlin ele monta guarda
para o povo russo dormir em paz.

(Refrão)

3. Seu nome é como boa nova,
e ele nunca come crianças!
Cumpriremos todo seu plano.
Durma tranquilo, país natal.

(Refrão)


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

De novo Leandro & Leonardo em russo


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/colecao


Eis mais uma iniciativa minha de legendar em russo vídeos ou áudios falados em português, e essa é a quarta do gênero que postei no meu antigo canal do YouTube. Outra vez, escolhi uma canção do meu álbum preferido de Leandro & Leonardo, o primeiro de 1983. Talvez eu goste dele porque é bem chocante a aparente bizarrice de ter-se a música num estilo hoje considerado tão “cafona” com legendas em russo, uma língua que poucos entendem no Brasil. De fato, são mais os brasileiros que em geral visitam mesmo esses vídeos, mas se já pude fazer rir, penso que pelo menos em parte cumpri meu papel.

Minha intenção inicial quando faço essas versões (em geral, chama-se “versão” a tradução de algo em sua língua materna para outra que não é sua língua materna) é, claro, treinar ativamente a língua russa, e não apenas saber lê-la e entendê-la, e pratico na hora de traduzir o texto/canção e na hora de redigir em russo a descrição no YouTube. Mas já fico feliz se um ou outro falante de russo fora do Brasil puder ver e curtir meu vídeo, embora ocorra no mais das vezes que esse espectador seja brasileiro. Se este atiça sua curiosidade, já acho bom.

Este LP da dupla Leandro & Leonardo, o primeiro que eles gravaram (1983), intitula-se A construção, que também é o nome da primeira faixa. Ainda não inovando pra uma temática e estilo próprios, como fariam no início dos anos 90, eles se ressentem claramente da influência de outras duplas e grupos famosos então, em especial, acredito, do Trio Parada Dura. Na descrição em russo do vídeo, expliquei que Leandro e Leonardo foram muito famosos no Brasil nas décadas de 80 e 90, e que após a morte de Leandro em 1998, Leonardo prosseguiu exitosa carreira na música romântica.

O tema da música é muito recorrente em todas as culturas, ou seja, a divisão de seus sentimentos entre dois amantes diferentes, o que ocorre com homens e com mulheres. A canção em português se chama Não sou homem de coleção, e como a maioria das outras faixas desse disco, foi composta por Sandoval Arantes, também conhecido como “Ligeirinho”. A ideia da “coleção” remete à suposta vontade da mulher de ter mais de um (ou quem sabe dois?...) namorado, mas o personagem quer ser apenas o único, não quer ser apenas “mais um”, como numa “coleção” de qualquer objeto. Para o significado “de coleção” ou “relativo a coleção”, a língua russa tem um adjetivo próprio: “коллекционный” (kollektsionny), mas também se pode dizer “для коллекции” (dlia kollektsii), “para/destinado a coleção” literalmente, ou seja, como nossa locução “de coleção”.

Destaquei ainda que, como era comum naquele tempo para a música sertaneja, a canção tem uma forte influência de outros ritmos sul-americanos, notadamente da Argentina e Paraguai. Neste caso específico, acredito que se possa qualificar o estilo de chamamé. Pra montar este vídeo, usei o áudio e uma figura que devia ser o encarte do disco, legendando em cirílico com o programa Windows Movie Maker. Eu tirei a letra em português desta página, e baixei o áudio sem legendas a partir deste vídeo. Eu mesmo verti a letra pro russo e fiz a montagem com legendas, tendo então postado no meu canal. Traduções e versões nem sempre são estritamente literais, seja por falta de espaço pra legendar, seja porque a ideia (às vezes somente aproximada) na língua de chegada deve ser expressa com outras palavras. Mas sempre que possível, o sentido geral, o impacto que o autor buscou inicialmente provocar, mantêm-se os mesmos, e acredito que cumpri aqui esse objetivo. Seguem abaixo a legendagem, a letra em português e a versão em russo:


É difícil, eu bem sei
Mas vou ter que te deixar
Simplesmente porque, mulher
Você não sabe amar

O seu beijo me esquenta
Mas você nunca contenta
Em só comigo ficar

Você prefere ter dois amantes
Vive dizendo a todo instante
Que tem dois no coração

Sendo assim, viva (do) seu jeito
Dividir amor eu não aceito
Pois não sou homem de coleção

Você prefere ter dois amantes
Vive dizendo a todo instante
Que tem dois no coração

Sendo assim, viva (do) seu jeito
Dividir amor eu não aceito
Pois não sou homem de coleção

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Это трундо, я хорошо знаю,
Но я должен бросить тебя,
Просто потому что, женщина,
Ты не умеешь любить.

Меня греют твои поцелуи,
Но тебе никогда довольно
Оставаться только со мной.

Тебе угодней двое любимых,
Ты всё время говоришь, что
Двое живут в твоём сердце.

Если так, живи по-своему,
Не хочу разделять любовь,
Я не коллекционный мужчина.

Тебе угодней двое любимых,
Ты всё время говоришь, что
Двое живут в твоём сердце.

Если так, живи по-своему,
Не хочу разделять любовь,
Я не коллекционный мужчина.



domingo, 5 de fevereiro de 2017

Ленин всегда с тобой: Lenin com você


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/lenin-voce

No meu antigo canal do YouTube, sempre atendia a pedidos antigos, que há muito ficavam guardados. Esta é uma canção partidária, composta na URSS em 1955, e se chama “Ленин всегда с тобой” (Lenin vsegda s toboi), Lenin está sempre com você (ou contigo), e às vezes também é chamada “Ленин всегда живой” (Lenin vsegda zhivoi), Lenin está sempre vivo, outro verso do refrão. Quem compôs a letra foi Lev Oshanin, e quem compôs a melodia foi Serafim Tulikov. O solista loiro no vídeo é Artiom Shlepetinski.

Esta canção não tem uma história particular, e trata-se de mais uma das infindáveis peças compostas pra louvar o regime comunista, seus heróis e seus líderes. Nota-se como tanto a sonoridade quanto o texto passam uma sensação de religiosidade, sacralidade, edificação, como se o bolchevismo viesse substituir o cristianismo ortodoxo como religião ateísta. É o mesmo louvor com fé e atos, a mesma companhia de um espírito passado, a mesma promessa de um mundo futuro melhor, com uma linguagem em muito pouco distinta da pregação bíblica moderna. Pode-se censurar os autores pela sua submissão ao poder, mas tendo ambos crescido e vivido apenas o tempo da revolução, talvez não conseguissem pensar em algo fora daquilo, e julgassem ter o Kremlin lhes dado muitas oportunidades. De fato, naqueles tempos, nada se fazia sem o Partido ou fora dele, ele era condição indispensável de carreira e estabilidade.

Serafim Sergeievich Tulikov (1914-2004) e Lev Ivanovich Oshanin (1912-1996) estiveram entre os grandes artistas de sua época, e ganharam muitos prêmios por sua prolífica e estruturada obra. É como eu disse, desdenha-se hoje de seu louvor aos governantes, mas fizeram o melhor dentro dos quadros do possível. Quanto ao cantor, Artiom Shlepetinski, essa apresentação foi feita numa noite de gala promovida pelo PC da Federação Russa em honra dos 140 anos do nascimento de Lenin, em Moscou, a 21 de abril de 2010. Não há muitas informações sobre ele além do fato de que não parece ser muito conhecido fora do círculo de nostálgicos da URSS. Pelas informações nas redes sociais, nasceu em 1980, é formado em agronomia, mora atualmente (ou morou há pouco tempo) em Pskov, é casado e tem dois filhos. Não parece haver muito mais informações sobre ele a partir de 2015, mais ou menos: ou largou as redes sociais, ou desistiu da carreira. Ele afirma que sua atuação é destinada “a quem ama e recorda o fundo dourado da canção soviética e acredita na grandeza de nossa Pátria”. Confira suas redes sociais: Facebook, VKontakte e seu aparentemente abandonado grupo no VK.

Eu tirei a letra em russo desta página no SovMusic.ru, famoso site russo. Eu baixei o vídeo sem legendas desta página, depois eu mesmo traduzi, legendei e postei no meu canal. A legendagem, a letra em russo e a tradução em português seguem abaixo:


1. День за днём идут года –
Зори новых поколений, –
Но никто и никогда
Не забудет имя ЛЕНИН.

Припев:
Ленин всегда живой,
Ленин всегда с тобой –
В горе, в надежде и радости.
Ленин в твоей весне, (*)
В каждом счастливом дне,
Ленин – в тебе и во мне!

(*) No vídeo, ele canta “судьбе”.

2. В давний час, в суровой мгле,
На заре Советской власти,
Он сказал, что на Земле
Мы построим людям счастье.

(Припев)

3. Мы за Партией идём,
Славя Родину делами,
И на всём пути большом,
В каждом деле Ленин с нами.

(Припев)

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1. Dia após dia passam os anos,
Auroras de novas gerações,
Mas ninguém vai jamais
Esquecer o nome LENIN.

Refrão:
Lenin está sempre vivo,
Lenin está sempre com você
Na dor, esperança e alegria.
Lenin na sua primavera, (*)
Em cada dia feliz,
Lenin, em você e em mim!

(*) No vídeo, ele canta “destino”.

2. Nos tempos idos de densa treva,
Ao surgir o Poder Soviético,
Ele disse: “Na Terra vamos
Edificar a felicidade humana.”

(Refrão)

3. Nós seguimos o Partido,
Louvando a Pátria com obras,
E em cada grande trajeto,
Em cada obra Lenin nos segue.

(Refrão)



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Kalinka-Malinka (canção russa de 1860)


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/kalinka


Essa é uma das mais famosas canções folclóricas russas e se chama “Калинка” (Kalinka), ou “Калинка-Малинка” (Kalinka-Malinka), numa referência carinhosa a duas frutinhas típicas da Rússia, o viburno (kalina) e a framboesa (malina). Ela data de 1860, tendo sido composta por Ivan Larionov.

Por muito tempo se pensou que essa música fosse anônima, mas na verdade ela tem a autoria de Larionov, cuja peça foi executada pela primeira vez em Saratov, num espetáculo de artistas amadores. Larionov também compôs a parte musical dessa apresentação, e logo o regente Dmitri Argenev-Slavianski conheceu a canção e pediu pra incluí-la em seu repertório. Começou aí a fama de Kalinka, mas o renome mundial viria na era soviética, com o arranjo de Aleksandr Aleksandrov, autor do hino nacional da URSS e diretor do Coral do Exército Vermelho, que a tocou na maioria das turnês no estrangeiro.

O próprio vídeo que legendei exibe uma das gravações desse coral, que hoje faz parte do Exército Russo, leva o nome de Aleksandrov e, além da parte cantada e tocada, tem o conjunto de dança, especializado no folclore russo. O coral voltou à mídia no Natal (católico) de 2016, quando um avião que o levava pra apresentar-se na Síria caiu no mar Mediterrâneo, causando uma perda cultural irreparável. O vídeo que baixei pra legendar está no canal do Coral do Exército Vermelho, mas há ainda outras interpretações de que talvez vocês gostem: um vídeo mais antigo com o coral, de 1965, tendo Ievgeni Beliaiev por solista, conhecido como “Mr. Kalinka” por cantá-la com frequência no exterior; com Ivan Rebroff, pseudônimo de um célebre cantor alemão especializado na música russa; e uma versão mais moderna, com batida eletrônica, na voz de Marina Deviatova.

A letra é muito simples, mas a densidade das informações contidas é que torna trabalhosa uma descrição. O viburno (kalina) e a framboesa (malina) são duas bagas, ou frutas em bolinhas, que na mitologia eslava pagã eram oferecidas como oferenda a Liuli, deusa da primavera, terra, amor e fertilidade (daí sua invocação na música). Segundo outras fontes, “liuli” (além de muitas outras formas nas línguas eslavas) aparece como uma invocação de Lelia (ou Lialia), não exatamente uma deusa pagã, mas uma personagem folclórica dos eslavos orientais, já da época do cristianismo ortodoxo, associada à beleza feminina, juventude, floradas e casamento. Liuli e outras formas aparecem justamente nas canções primaveris de amor, sobretudo em refrões, num fenômeno parecido com o “aê, aô”, “olelê, olalá” ou “arerê, bará berê” do Brasil, sendo que foneticamente poderia se relacionar com as palavras russas liubov (amor) e liubit (amar).

De fato, o viburno aparece no paganismo eslavo como representando a beleza de jovens donzelas, e como kalyna em ucraniano (também se escreve “калина”), símbolo nacional da Ucrânia, já apareceu em outras canções aqui do blog. “Viburno”, na verdade, é o nome do gênero de arbustos a que pertence a kalina, espécie cujo nome científico é Viburnum opulus e cujo fruto não tem um nome popular famoso no Brasil. Sendo um gênero originário da Europa, a Wikipédia lista como traduções de kalina: bola-de-neve, noveleiro, novelo, novelo-da-china, novelo-cromático, espirema e, o mais comum, rosa-de-gueldres. Mas no meu Dicionário Aurélio de 2004, nenhuma dessas palavras aparece com tal significado. Mais importante é saber que o autor, na primeira estrofe, joga com a omissão quanto a quem o estaria “deitando”; na segunda, com a associação da araucária (na verdade, “pinheiro”, que em russo é feminino) à figura da mulher; e, na terceira, com a revelação de que se trata mesmo de uma jovem, ligada na letra inteira à kalina e à malina. Por isso mesmo, escrevi “viburninha”, e não “viburninho”, e usei “araucária”, que é o que temos de mais próximo ao pinheiro (“pinheira” é sinônimo de “fruta-do-conde”).

Há quem pense ainda que o andamento variado da canção tem a ver com um ato sexual, ou apenas com uma cerimônia nupcial, mas ocorreu que a expressão “Kalinka”, ou às vezes “Kalinka-Malinka”, ganhou o mundo representando coisas relacionadas à Rússia (como restaurantes, lojas de lembranças etc.), e a música está presente em jogos de videogame, partidas de futebol, séries televisivas etc. Como eu disse, traduzi a letra e eu mesmo inseri as legendas no vídeo:



Sugiro que veja também esta versão ao vivo com o mitológico cantor checo Karel Gott, o solista Vadim Ananiev e todo o resto do Conjunto Aleksandrov! Convidado a cantar na Rússia, Gott celebra com os colegas os 75 anos do coral em 2003 no Kremlin, ocasião sobre a qual só achei esta notícia em francês no site da Rádio Praga.

Vadím Petróvich Anániev (n. 1959) é um dos principais solistas do Conjunto Aleksandrov, conhecido por executar a ária que se segue ao refrão de Kalinka nas atuais apresentações públicas. Karel Gott (1939-2019), que nasceu durante a ocupação nazista, é considerado o maior cantor masculino de língua checa, mas com grande sucesso também nos países de língua alemã, na qual ele também canta. Também foi pintor amador e eletricista de formação, mas ficou célebre por meio da música, começando a carreira de cantor profissional em 1960. O deslanche de sua trajetória foi na década de 70, tendo gravado muitos álbuns e inclusive sendo lançado na URSS em 1977, em cujos futuros países ele também seria admirado. Gott encerrou a carreira em 1990, mas retornou em 1993 e continuou até morrer de leucemia.

Eu mesmo traduzi a fala inicial de Gott direto do russo e inseri as legendas dela e da letra da canção:


Калинка, калинка, калинка моя!
В саду ягода малинка, малинка моя!

Ах, под сосною, под зелёною,
Спать положите вы меня!
Ай-люли, люли, ай-люли, люли,
Спать положите вы меня.

Калинка, калинка, калинка моя!
В саду ягода малинка, малинка моя!

Ах, сосёнушка ты зелёная,
Не шуми же надо мной!
Ай-люли, люли, ай-люли, люли,
Не шуми же надо мной!

Калинка, калинка, калинка моя!
В саду ягода малинка, малинка моя!

Ах, красавица, душа-девица,
Полюби же ты меня!
Ай-люли, люли, ай-люли, люли,
Полюби же ты меня!

Калинка, калинка, калинка моя!
В саду ягода малинка, малинка моя!

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Viburninha, viburninha minha!
No jardim, minha baga framboesinha!

Ah, sob a araucária, verde araucária,
Ponha-me deitado pra dormir!
Ai, Liuli, Liuli, ai, Liuli, Liuli,
Ponha-me deitado pra dormir!

Viburninha, viburninha minha!
No jardim, minha baga framboesinha!

Ah, tu, araucarinha verde,
Não farfalhe em cima de mim!
Ai, Liuli, Liuli, Ai, Liuli, Liuli,
Não farfalhe em cima de mim!

Viburninha, viburninha minha!
No jardim, minha baga framboesinha!

Ah, lindinha, querida donzela,
Apaixone-se por mim!
Ai, Liuli, Liuli, Ai, Liuli, Liuli,
Apaixone-se por mim!

Viburninha, viburninha minha!
No jardim, minha baga framboesinha!