Eis uma raridade na videosfera brasileira: um descendente de Stalin falando a respeito de temas políticos passados e presentes. Esse é Iakov Dzhugashvili (ou, em inglês, Jacob Jugashvili), ativista conhecido na Rússia e artista de profissão, mas também atuante em iniciativas pra defender a memória de seu bisavô e outras bandeiras da extrema-esquerda. Cheguei a tê-lo como contato no Facebook, mas nunca trocamos ideia. Ele sempre postava coisas a favor de Stalin e encontrava muitos brasileiros que, geralmente em inglês, o apoiavam.
Nesta entrevista, concedida na Praça Vermelha a um grupo em que ele milita, a favor de maior responsabilização do poder público perante o povo, Iakov relata uma ocasião em que foi convidado para eventos na Crimeia celebrando os 70 anos da Conferência de Ialta, uma das que contaram com a presença de Stalin, Franklin Roosevelt e Winston Churchill para definir o futuro do mundo após a 2.ª Guerra Mundial. Bem a caminho de Simferopol, capital da península, onde se dariam os debates, recebeu mensagem dizendo que os organizadores não iam gostar de sua presença lá, supostamente, segundo Iakov, por causa das ideias que ele defende na internet. Mesmo assim, ele afirma que gostaria de ter ido não apenas pra defender o papel de Stalin naquele período histórico, mas também posições próprias a respeito da geopolítica atual. É de se perceber que a Crimeia já estava anexada à Rússia em 2015, e Iakov se refere não somente à sua defesa de Stalin, que o próprio governo russo não execra, mas não executa abertamente, bem como à sua militância contra os abusos de Putin.
Iakov Ievgenievich Dzhugashvili nasceu em 1972 em Tbilisi, capital da Geórgia, tem a cidadania georgiana e de profissão é artista plástico, embora também atue muito como ativista político e social. Ele é filho de Ievgeni Dzhugashvili (1936-2016), cientista militar (engenheiro e historiador) que também defendia a memória de Stalin e era, por sua vez, filho de Iakov Dzhugashvili (1907-1943), único filho de Iekaterina Svanidze, primeira esposa de Stalin morta prematuramente, e morto pelos alemães na Segunda Guerra. O Iakov atual formou-se em artes plásticas em Tbilisi e completou os estudos no Reino Unido, onde também trabalhou e expôs várias obras. Atualmente vive na capital georgiana com a esposa Nina Lomkatsi e a filha Olga. Chegou a enviar carta a Putin pedindo a concessão da plena cidadania russa, talvez sem resposta. Também critica a postura intervencionista do Kremlin na Ucrânia e o tratamento desigual que ele lhe dispensa em comparação com outros países. Seu Facebook pessoal está nesta página.
Eu tirei o vídeo sem legendas desta página. Quem o filmou foi o grupo de militância por um poder público responsável, em que ele atua. Fiz uma primeira tentativa de transcrição da fala, que ficou quase completa, mas quem a corrigiu totalmente foi Anatoliy Oveka. Contudo, eu mesmo traduzi em português e legendei. Seguem abaixo as legendas, a transcrição corrigida (com os números também por extenso) e a tradução literal, cujo texto foi abreviado para compor as legendas:
В декабре месяце 2014 года я получил предложение принять участие в мероприятиях, посвящённых 70-летию (семидесятилетию) Ялтинской конференции (Крымской конференции) глав держав антигитлеровской коалиции. А эти мероприятия должны были пройти в Ялте, в Крыму, 4-6 (четвёртого-шестого) февраля 2015 (две тысячи пятнадцатого) года. Я согласился. Значит в январе мы согласовали детали моей поездки, мне выслали, значить меня проинформировали о программе мероприятий. Значит выслали даже список приглашённых. В общем всё шло нормально, мы готовились к поездке. Я должен был значит прибыть в Москву первого числа, чтобы 3-го (третьего) февраля отправиться вместе с остальными участниками конференции в Симферополь. Однако 30-го (тридцатого) января я получил сообщение о том, что... буквально скажу дословно… было написано так, что моё присутствие на мероприятиях организаторы считают «нежелательным» ввиду межэтнической напряжённости в Крыму. Вот такой был ответ. Я не могу сказать точно, какова истинная причина, об этих причинах можно только догадываться. Моя догадка такова, что скорее всего организаторы мероприятий слишком поздно, наверное, знакомились с материалами, которые я публикую на своём сайте и, наверное, сочли это политически значит неприемлемым для них. Наверно так, потому что другого объяснения я найти не могу.
Ялта 45-го (сорок пятого) коснулась миллионов людей. И я считаю, что любые мероприятия, посвящённые Ялтинской конференции, они должны иметь какой-то общественно полезный характер, они должны быть общественно полезны. А по программе, которую я получил, в соответствии с этой программой, там было девять докладчиков, это минимум девять часов. Понимаете, это был такой... какой-то научный междусобойчик, что ли. Я бы хотел, я ехал туда с намерением как-то говорить о проблемах не совсем Ялты, а скорее о проблемах... тех проблемах, которые стоят сейчас перед нами. Но и заодно рассказать моё видение роли Сталина в истории не только Советского Союза, но и мира.
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No mês de dezembro de 2014 recebi a proposta de participar de eventos dedicados aos 70 anos da Conferência de Ialta (Conferência da Crimeia), que reuniu os líderes das potências contra Hitler. Esses eventos deveriam ocorrer em Ialta, na Crimeia, de 4 a 6 de fevereiro de 2015. Eu aceitei. Então, em janeiro acertamos os detalhes da minha viagem, depois me enviaram informações sobre a programação dos eventos. E enviaram até mesmo a lista dos convidados. No geral tudo ia bem, nos aprontamos para a viagem. Então eu tive de ir até Moscou no dia 1.º para partir em 3 de fevereiro junto com os demais participantes da conferência para Simferopol. Porém, no dia 30 de janeiro, fui comunicado de que... vou repetir ao pé da letra... estava escrito que minha presença nos eventos, para os organizadores, era “indesejável” por causa da tensão interétnica na Crimeia. Foi essa a resposta. Não posso dizer ao certo quais foram os reais motivos, e sobre eles só podemos conjeturar. Minha suposição mais provável é a de que os organizadores dos eventos talvez tenham, tarde demais, travado contato com o material que publico em meu site e o considerado politicamente, digamos, inaceitável para eles. Deve ser isso, pois não posso achar outra explicação.
Em 45, Ialta concernia a milhões de pessoas. E julgo que quaisquer eventos dedicados à Conferência de Ialta devam ter um caráter de utilidade pública, devam ser socialmente úteis. E no programa que recebi, olhado mais atentamente, havia nove palestrantes, eram no mínimo nove horas. Será então que não se tratava de algo como um conchavo científico? Eu queria ter ido lá pensando em abordar algo dos problemas nem mesmo de Ialta, mas antes dos problemas que estamos presenciando agora. Mas, como acertado, também exporia minha visão sobre o papel de Stalin na história não apenas da União Soviética, como do mundo.
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