domingo, 10 de abril de 2016

Auferstanden aus Ruinen, hino da RDA


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Esta canção foi empregada entre 1949 e 1990 como hino nacional da República Democrática Alemã (ou RDA, ou a sigla alemã DDR), a chamada Alemanha Oriental que foi proclamada em 1949 na antiga zona de ocupação soviética resultante da 2.ª Guerra Mundial, que incluía ainda o leste de Berlim. Seu nome é Auferstanden aus Ruinen, literalmente “Ressurgida das ruínas”, mas nas legendas pus “Ressurgindo das ruínas” para manter, como em alemão, a ambiguidade no gênero. Assim, “Ressurgindo” pode aludir tanto à Alemanha quanto aos cidadãos que a querem servir “para o seu bem”, e o presente contínuo casa com a ideia de que em 1949 o país ainda se reconstruía, num processo ainda inconcluso.

A melodia do hino é do político, romancista e poeta Johannes Robert Becher (1891-1958), e a letra é do compositor austríaco Hanns Eisler (1898-1962), cuja melodia do hino da Comintern é conhecida do blog. Aprovado pela liderança do SED (o partido governante), pelo presidente Wilhelm Pieck e pelo Conselho de Ministros da RDA, o hino foi ratificado em 6 de novembro de 1949, aniversário da Revolução de Outubro. Ele foi se popularizando nas décadas de 1950 e 1960, mas criado num contexto ainda aberto à reunificação das zonas de ocupação e chamando a Alemanha “pátria unida”, foi ficando inadequado à crescente “guerra fria”, culminada com o Muro de Berlim em 1961. Em 1973, as duas Alemanhas entraram juntas na ONU e o hino passou a ser tocado apenas na melodia.

Em janeiro de 1990, apressada a via da reunificação após a queda do Muro em outubro de 1989, a televisão da Alemanha Oriental passou a exibir um clipe com o hino cantado ao encerrar as transmissões (para deixar saudades?), e a letra de fato já era evocada em ocasiões não oficiais, como após o início do ocaso comunista. Com a total reunificação em 2 de outubro de 1990, Auferstanden aus Ruinen deu lugar ao hino ocidental Das Lied der Deutschen e perdeu todo emprego oficial, mas ainda habita a memória cult e nostálgica sobre a RDA/DDR. O primeiro-ministro comunista Lothar de Maizière chegou a propor ao chanceler Helmut Kohl, mas sem sucesso, que a terceira estrofe do hino único tivesse o texto de Becher.

É minha primeira tradução e legendagem direta do alemão, e de fato me apoiei em traduções de várias Wikipédias para chegar ao resultado, mas como tive noções básicas do idioma na segunda metade de 2015, pude usar também dicionários e sites especializados na língua alemã. Assim, o texto final é todo meu, tal como a culpa por erros ou imprecisões. O vídeo original está neste endereço, mas não consegui tirar o texto inglês, que pode ser visto pelo menos para mostrar seus problemas de sentido e sincronia. Devo citar duas legendagens anteriores em português, uma de 2012 e outra de 2014, mas enquanto uma usava a fraca tradução da Wikipédia, a outra, apesar do entusiasmo do iniciante, tem redação e montagem sofríveis.

Seguem abaixo a legendagem, a letra em alemão e a tradução em português, igual na legenda. Além disso, apresento também, repetida três vezes, a execução instrumental do hino pela banda do NVA (Exército Popular Nacional), no início da parada militar comemorando os 40 anos de criação da RDA em 7 de outubro de 1989 (alemão: Die Ehrenparade der Nationalen Volksarmee (NVA) zum 40. Jahrestag der DDR, 7. Oktober 1989). Notavelmente, pouco depois do evento começaram os protestos por mais democracia, culminados em repressão violenta e, logo após, na derrubada do Muro de Berlim, a qual marcou o começo do fim do comunismo na Europa. Essa execução do hino ocorre diante de Erich Honecker (o vovô de chapéu preto e óculos), ditador da Alemanha Oriental, Mikhail Gorbachov (da URSS) a seu lado e muitos outros líderes comunistas ou antiliberais, como Jaruzelski, Ceauşescu, Zhivkov e Arafat. O contexto da época é muito bem retratado no filme Adeus, Lenin! (2005), embora com picadas cômicas e mercadológicas.




Auferstanden aus Ruinen
und der Zukunft zugewandt,
laß uns dir zum Guten dienen,
Deutschland, einig Vaterland.
Alte Not gilt es zu zwingen,
und wir zwingen sie vereint,
denn es muß uns doch gelingen,
daß die Sonne schön wie nie
über Deutschland scheint,
über Deutschland scheint.

Glück und Friede sei beschieden
Deutschland, unsrem Vaterland.
Alle Welt sehnt sich nach Frieden,
reicht den Völkern eure Hand.
Wenn wir brüderlich uns einen,
schlagen wir des Volkes Feind.
Laßt das Licht des Friedens scheinen,
daß nie eine Mutter mehr
ihren Sohn beweint,
ihren Sohn beweint.

Laßt uns pflügen, laßt uns bauen,
lernt und schafft wie nie zuvor,
und der eignen Kraft vertrauend,
steigt ein frei Geschlecht empor.
Deutsche Jugend, bestes Streben
unsres Volks in dir vereint,
wirst du Deutschlands neues Leben.
Und die Sonne, schön wie nie
über Deutschland scheint,
über Deutschland scheint.

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Ressurgindo das ruínas
E olhando para o futuro,
Sirvamos para o seu bem,
Alemanha, pátria unida.
Resta vencer a velha miséria,
E vamos vencê-la juntos,
Pois é o que devemos fazer
Para o sol, belo como nunca,
Brilhar sobre a Alemanha,
Brilhar sobre a Alemanha.

Que tenha paz e felicidade
A Alemanha, nossa pátria.
O mundo anseia pela paz,
Estendam a mão aos povos.
Se nos unirmos fraternais,
Bateremos o inimigo do povo.
Deixem brilhar a luz da paz
Para as mães nunca mais
Chorarem por seus filhos,
Chorarem por seus filhos.

Vamos lavrar e construir,
Obrem, estudem como nunca
E confiante na própria força
Ascenderá uma geração livre.
Jovem alemão, o melhor desejo
De nosso povo incide em você,
Futura vida nova da Alemanha.
E o sol, belo como nunca,
Brilhará sobre a Alemanha,
Brilhará sobre a Alemanha.


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