quarta-feira, 5 de março de 2025

Wałęsa e amigos em prol da Ucrânia


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Meu amigo Claudio me mandou outro dia uma tradução desta carta aberta a Donald Trump publicada em 3 de março pelo ex-presidente polonês Lech Wałęsa (pron. “lérr vauénnça”) em sua página do Facebook e assinada por diversos outros prisioneiros políticos do tempo da Polônia socialista. Porém, a edição estava péssima, e decidi procurar o original, o que consegui por meio do New York Times, que a traduziu pro inglês e deixou o link original. O ex-líder sindicalista e fundador do célebre sindicato “Solidariedade”, que enfrentou os governos de Stanisław Kania e, após o golpe militar de 1981, do general Wojciech Jaruzelski, na virada entre as décadas de 1970 e 1980, expressou sua repulsa quanto ao (des)tratamento concedido pelo Imperador do Mundo ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em Washington, no último 28 de fevereiro.

Embora de idade bem avançada e mesmo não tendo sido muito aprovado como primeiro presidente da Polônia pós-soviética, Wałęsa ainda tem sua voz muito respeitada e chegou a participar em manifestações de rua contrárias a vários retrocessos que o atual presidente ultraconservador Andrzej Duda queria impor. A sorte, pelo menos, é que na “Polska” até a extrema-direita é anti-Putler, o que não é necessariamente o caso em outros países da Europa e das Américas, e a contrariedade a Moscou nasceu de séculos de dominação imperial e repressão à cultura local, bem antes do bolchevismo.

Deixo a vocês o desfrute do conteúdo, lembrando apenas que entre nossas “ex-querdas”, ainda existe uma gigante incompreensão sobre a natureza do regime soviético e de seu surgimento e evolução nos países vizinhos a partir de 1945. Só porque esse bloco se dizia “antiamericano”, nossos “comunistas” se calaram diante da desumanização das populações locais, denunciando apenas os excessos ocorridos sob governos ditos “capitalistas” e “burgueses”. Infelizmente, esse desconhecimento, alimentado pela falta de domínio de línguas estrangeiras e pela tradução mais ampla somente de literatura enviesada (tanto pró-URSS quanto da direita moralista), acaba legitimando a defesa do indefensável, a qual termina se estendendo do terrorismo comunista pro genocídio putinista. Só pra ficar contra o Til Çan...

Associando essa distopia aos delírios do Tio Patinhas, Wałęsa joga nessa juventude aloprada um banho de água fria.



O Carnaval alemão costuma ser muito mais político (ou politizado) do que o nosso, mesmo no tocante aos carros alegóricos.


Depois da decisão dos EUA de suspender os fornecimentos à Ucrânia, se a resposta estivesse em minhas mãos, seria “Vamos fazer nossa parte”, nem um passo para trás. AMÉM.

Assinamos este texto:

Caro Senhor Presidente,

Assistimos com horror e desgosto à reportagem de sua conversa com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Esperamos que o sr. demonstre respeito e gratidão pela assistência material fornecida pelos EUA à Ucrânia na luta contra a ofensiva da Rússia. Agradecemos aos heroicos soldados ucranianos que derramaram seu sangue em defesa dos valores do mundo livre. Eles são os que estão morrendo na linha de frente há mais de 11 anos em nome desses valores e da independência de sua pátria atacada pela Rússia de Putin.

Não entendemos como o líder de um país que é um símbolo do mundo livre não consegue ver isso.

Também ficamos horrorizados pelo fato de que a atmosfera no Salão Oval durante essa conversa nos lembrou daquela que lembramos bem dos interrogatórios do Serviço de Segurança e dos tribunais comunistas. Promotores e juízes comissionados pela todo-poderosa polícia política comunista também nos explicaram que eles tinham todas as cartas na mão e nós não tínhamos nenhuma. Eles exigiram que interrompêssemos nossas atividades, argumentando que milhares de pessoas inocentes estavam sofrendo por nossa causa. Eles nos privaram de nossa liberdade e direitos civis porque não concordamos em cooperar com as autoridades e não lhes mostramos gratidão. Ficamos chocados que o sr. tenha tratado o presidente Volodymyr Zelensky de maneira semelhante.

A história do século 20 mostra que toda vez que os EUA tentaram se distanciar dos valores democráticos e de seus aliados europeus, acabaram ameaçando a si mesmos. O presidente Woodrow Wilson entendeu isso e decidiu levar os EUA à 1.ª Guerra Mundial em 1917. O presidente Franklin Delano Roosevelt entendeu isso quando decidiu, após o ataque a Pearl Harbor em dezembro de 1941, que a guerra em defesa da América seria travada não apenas no Pacífico, mas também na Europa, em aliança com os países atacados pelo Terceiro Reich.

Lembramos que sem o presidente Ronald Reagan e o envolvimento financeiro americano, a desintegração do império da União Soviética não teria sido possível. O presidente Reagan sabia que na Rússia Soviética e nos países que conquistou, milhões de pessoas escravizadas estavam sofrendo, incluindo milhares de prisioneiros políticos que pagaram por seu sacrifício em defesa dos valores democráticos com sua liberdade. Sua grandeza consistia, entre outras coisas, em ter chamado sem hesitação a URSS de “Império do Mal” e declarado uma luta decisiva contra ela. Nós vencemos, e uma estátua do presidente Ronald Reagan está hoje em Varsóvia, em frente à Embaixada dos EUA.

Senhor Presidente, a ajuda material (militar e financeira) não pode ser equivalente ao sangue derramado em nome da independência e da liberdade da Ucrânia, da Europa e de todo o mundo livre. A vida humana não tem preço, seu valor não pode ser medido com dinheiro. A gratidão é devida àqueles que sacrificam seu sangue e sua liberdade. Para nós, membros do “Solidariedade”, antigos prisioneiros políticos do regime comunista a serviço da Rússia Soviética, isso é óbvio.

Apelamos aos EUA para que honrem as garantias que eles e a Grã-Bretanha forneceram no Memorando de Budapeste em 1994, que estipula explicitamente um compromisso de defender a inviolabilidade das fronteiras da Ucrânia em troca dela entregar seu arsenal de armas nucleares. Essas garantias são incondicionais: não há uma palavra sobre tratar tal ajuda como troca econômica.


Lech Wałęsa, ex-prisioneiro político, líder do Solidariedade, presidente da Terceira República Polonesa
Marek Beylin, ex-prisioneiro político, editor de editoras independentes
Seweryn Blumsztajn, ex-prisioneira política, membro do Comitê de Defesa dos Trabalhadores
Teresa Bogucka, ex-prisioneira política, ativista da oposição democrática e da Solidariedade
Grzegorz Boguta, ex-prisioneiro político, ativista da oposição democrática, editor independente
Marek Borowik, ex-prisioneiro político, editor independente
Bogdan Borusewicz, ex-prisioneiro político, líder do movimento clandestino Solidariedade em Gdańsk
Zbigniew Bujak, ex-prisioneiro político, líder do movimento clandestino Solidariedade em Varsóvia
Władysław Frasyniuk, ex-prisioneiro político, líder do movimento clandestino Solidariedade em Wrocław
Andrzej Gincburg, ex-prisioneiro político, ativista clandestino do Solidariedade
Ryszard Grabarczyk, ex-prisioneiro político, ativista do Solidariedade
Aleksander Janiszewski, ex-prisioneiro político, ativista do Solidariedade
Piotr Kapczyński, ex-prisioneiro político, ativista da oposição democrática
Marek Kossakowski, ex-prisioneiro político, jornalista independente
Krzysztof Król, ex-prisioneiro político, ativista pela independência
Jarosław Kurski, ex-prisioneiro político, ativista da oposição democrática
Barbara Labuda, ex-prisioneira política, ativista clandestina do Solidariedade
Bogdan Lis, ex-prisioneiro político, líder do movimento clandestino Solidariedade em Gdańsk
Henryk Majewski, ex-prisioneiro político, ativista do Solidariedade
Adam Michnik, ex-prisioneiro político, ativista da oposição democrática, editor de editoras independentes
Sławomir Najnigier, ex-prisioneiro político, ativista clandestino do Solidariedade
Piotr Niemczyk, ex-prisioneiro político, jornalista e impressor de publicações clandestinas,
Stefan Konstanty Niesiołowski, ex-prisioneiro político, ativista pela independência
Edward Nowak, ex-prisioneiro político, ativista clandestino do Solidariedade
Wojciech Onyszkiewicz, ex-prisioneiro político, membro do Comitê de Defesa dos Trabalhadores, ativista do Solidariedade
Antoni Pawlak, ex-prisioneiro político, ativista da oposição democrática e da Solidariedade clandestina
Sylwia Poleska-Peryt, ex-prisioneira política, ativista da oposição democrática
Krzysztof Pusz, ex-prisioneiro político, ativista clandestino do Solidariedade
Ryszard Pusz, ex-prisioneiro político, ativista clandestino do Solidariedade,
Jacek Rakowiecki, ex-prisioneiro político, ativista clandestino do Solidariedade
Andrzej Seweryn, ex-prisioneiro político, ator, diretor do Teatro Polonês em Varsóvia
Witold Sielewicz, ex-prisioneiro político, impressor de editoras independentes
Henryk Sikora, ex-prisioneiro político, ativista do Solidariedade
Krzysztof Siemieński, ex-prisioneiro político, jornalista e impressor de publicações clandestinas
Grażyna Staniszewska, ex-prisioneira política, líder do Solidariedade na região de Beskidy
Jerzy Stępień, ex-prisioneiro político, ativista da oposição democrática
Joanna Szczęsna, ex-prisioneira política, editora da imprensa clandestina Solidariedade
Ludwik Turko, ex-prisioneiro político, ativista clandestino do Solidariedade
Mateusz Wierzbicki, ex-prisioneiro político, impressor e jornalista de editoras independentes



Alice Weidel, líder da AfD, é retratada como dando um “falso agrado” aos jovens eleitores alemães de primeira viagem.



As redes sociais são apresentadas como a “fábrica de doces” onde a extrema-direita fabrica suas “deliciosas” mentiras.

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