domingo, 25 de fevereiro de 2018

O vermelhinho (poema de Erick Fishuk)


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/vermelhinho


Observando as notícias acadêmicas e jornalísticas do dia anterior e escutando Tonico & Tinoco após o café da manhã, me inspirei pra escrever este poema no dia 24 de fevereiro de 2018, em Bragança Paulista. Misturo linguajar simples, palavras rebuscadas, referências implícitas e eventos temporalmente localizados, ou seja, é mais uma poesia de banheiro expelida na hora do que um monumento pra eternidade ou um clássico asséptico. Com o bicho pegando e a chapa esquentando, ficarei curioso sobre que usos far-se-lhe-ão.




O vermelhinho

Lá vai o vermelhinho
Tremendo bandeira,
Critica opressão
Mais a roubalheira,
Sai do sindicato,
Combate a pobreira,
Renova as esquerdas,
Reúne as estrelas
Por nação altaneira.

De barba esculpida,
Disputa eleição:
“Caçar marajás?
Mas que enganação!”
Se diz contra tudo,
O fim da inflação,
Real e outros planos
Que apontam enganos
Da má administração.

Quer prender corruptos,
Afina o discurso:
Explora as fraquezas
De um rei sem recursos
E bate panelas
Pedindo outro curso.
Carta aos Brasileiros
Agrada aos banqueiros,
O Planalto vem num impulso!

Agora co’as rédeas,
Descobre a verdade:
Deter o pepino
Chama habilidade,
E a parasitagem
Exige sua parte.
Maluco por grana,
Se afunda na lama
Da governabilidade.

A “paz social”
Surfava na onda
Do crédito livre,
Finanças com sonda
E o mundo comprando
Primários sem conta.
Aos pobres, migalhas,
Ao Eike, medalhas:
Não há crise que o ronda!

As picaretagens
Saltavam às vistas,
Julgadas nas cortes
Por duros juristas.
A cada denúncia,
Culpava a revista:
“Pobre no avião,
Com carro e cartão
Enfurece os elitistas!”

A ave bicuda
Não cheira nem fede:
Louvando o passado,
Do pau se escafede.
E o velho Centrão
Mais quer e mais pede.
Em dois mil e dez,
Sucessão aos pés
Briga e ódio nas redes.

A companheirada
Está nos caixotes,
Mais firmes e armados
Se encontram os hostes.
Pra manter o osso
Restou só um poste.
Nos próximos anos,
Entre altos e danos,
A luta seria de morte.

Os dias de glória
Sustinham as facas,
Mas logo foi fácil
Fundir-se na jaca:
Sempre generosas
As tetas da vaca,
A inflação subiu,
Dinheiro sumiu
E aí o Estado empaca.

O povo é esperto
Vivendo à espreita:
Em dois mil e treze
Os roubos rejeita.
Mas o “Vem pra rua”
Passou pra direita:
Agora as panelas
De ricas janelas
Rechaçavam a dama eleita.

O Novo Reaça,
Babando de espuma,
É velho de cuca,
Na CIA se apruma,
Bajula milicos
E o resto é comuna.
Até o vermelhinho,
De papo mansinho,
Serviria à barafunda.

O ardor partidário
Virou palhaçada,
Lobões e Olavos
Lecionam piadas,
E a esquerda abstrata,
Atabalhoada,
Gritava na pista:
“Coxinha, fascista!”,
Na cátedra mimada.

O Centro então salta
Do barco imergindo:
Governabilidade
Ficou sem arrimo
E o vice vampiro
Lá do Gradus Primus
Põe frase na carta:
“Se vão as palavras,
Mas os escritos ficam.”

Sem claro programa,
Ao Cão paralelo
Restou só o mesmo
Que o Collor de Mello:
“Impitchar” a líder,
Botar no chinelo,
Berrando na web
Com o eme-bê-ele
E um lindo pato amarelo.

O escorraçamento
Chegou a galope.
Como um papagaio,
Gritava: “É golpe!”
Vermelho de raiva,
Chamou gente pop:
De Chico até Wagner
Xingava o PTemer,
Dizia que ele era torpe.

O choro prossegue,
Nenhuma esperança,
Põe culpa nos outros
Igual a criança
E quer vermelhinho
No pleito-lambança:
Chuchu, Bolsonaro,
Marina, Ciralho,
Só cidadãos de pança!

A tal gerentona
Viaja por milhas
Falando estrangeiro,
Mas é dislalia
Contrária à raposa
Que apoiou um dia.
Dizia já Gramsci:
Não era só lanche,
Faltou a velha hegemonia!

O som do Plim-Plim
Deu logo o sinal:
A revolução
Virou Carnaval
E a Sapucaí,
O Paço Invernal.
Cobrir Tuiuti,
Descer jabuti,
Beijar a flor do normal.

Grade optativa,
Escola e partido,
Facção e cadeia
Tomaram o pito,
E a tal Previdência
Aumenta o prurido.
De Cabral a Cabral,
Preso num lamaçal,
O Brasil tá perdido!