domingo, 12 de fevereiro de 2023

Cultura talian: imigração italiana no Sul


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/taliani


A cultura da imigração italiana no Brasil é uma graça! Junto com as diversas culturas do Norte, Nordeste e Centro, vem enriquecer nosso país com muito mais cores, sabores e sons. Quem tem família com antepassados italianos (vêneto-napolitano) ou que manteve a maior parte das tradições, como eu, sabe da alegria contagiante nesse meio cheio de comida e piadas.

Graças aos colegas do grupo “Amici del Talian” no WhatsApp, alguns anos atrás consegui vídeos que mostram como ainda hoje é preservada a tradição do “filó”. Inicialmente uma reunião noturna em que os italianos e descendentes vinham justamente ajudar a tecer as rendas de filó, acabou se estendendo a músicas, jogos, paqueras, causos e muita comida. Até hoje são organizadas festas especialmente pros turistas no Sul do Brasil, sobretudo Santa Catarina e Serra Gaúcha, visando manter essa linda lembrança. Não há melhor explicação pro “filó” do que nesta matéria de um jornal sul-rio-grandense.

O primeiro vídeo abaixo foi feito na cidade de Lindoia do Sul, estado de Santa Catarina, onde houve grande imigração de italianos, sobretudo da região do Vêneto, ninho de origem do idioma “talian”, símbolo de nossa imigração “carcamana”, rs. Os senhores de chapéu de palha estão jogando a famosa “mora”, em que se deve falar rapidamente a soma do número de dedos que eles lançam na mesa. Desviando um pouco, recomendo que visitem também as estâncias balneárias de Lindoia e Águas de Lindoia do Circuito das Águas aqui do interior de São Paulo: cidades pacíficas, receptivas e confortáveis!

Não sei se o segundo vídeo abaixo também foi feito em Lindoia do Sul, mas tenho certeza que é na região Sul, pois a quase totalidade do grupo no Whats é de homens ou senhores desses pagos. Não temos o jogo da “mora”, mas o senhor calvo toca a sanfona e canta muito bem. Desfrute dessa maravilha, e quem não conhece esse ambiente, seja bem-vindo!




Esta outra pérola da cultura “talian” deve ter sido filmada por volta do fim de novembro de 2019, e mostra o grupo Ucceli de Bosco (Pássaros de Bosque) participando numa igreja de um encontro de corais na cidade de Ipuaçu, estado de Santa Catarina. Muito bonito de se ouvir!

Como eu já disse aqui outras vezes, o talian é uma língua de pleno direito, formada da fusão do dialeto vêneto com outros dialetos do norte da Itália, durante o processo de emigração em fins do século 19, e depois com o português brasileiro falado, sobretudo, na região Sul, quando os italianos aqui se alojaram e tentaram adaptar sua vida. Neste site, você pode ver a iniciativa completa de Jaciano Eccher pra resgatar, codificar e difundir esse idioma.

É interessante que essa cultura de cantos corais, embora seja difundida na Itália como um todo, também é muito comum na Eslovênia, país bem próximo da região italiana do Vêneto e que faz trabalhos semelhantes com canções “partisans”, como você pode ver pelo YouTube. Um belo grupo que recomendo muito é o Coral Feminino Kombinat (Ženski pevski zbor Kombinat), que canta em esloveno. Divirta-se relembrando nossos “nonnos”!


Adendo (13/2/2023): O humorista gaúcho que se apresenta no YouTube, em outras redes sociais e em shows de comédia ao vivo com o nome de Badin, o Colono, faz uma zoeira com essa cultura colonial (i)taliana do Sul e de outras partes do Brasil, apresentando-a de forma lúdica e criando enredos dentro desse ambiente. Eu pessoalmente o acho um chato, mas como minha mãe o adora, vejo alguns vídeos com ela às vezes e um dos últimos foi esse muito interessante, em que Badin apresenta algumas expressões em talian ainda usada pelos descendentes no cotidiano.

Aproveito também pra fazer um pequeno disclaimer: uma de minhas trisavós, Pierina Garla, nasceu em Veneza, e suas filhas, uma delas minha bisavó, nasceram em Santa Rita do Passa Quatro, SP, que é um dos núcleos isolados fora do Sul em que se fala talian. Mas meu trisavô correspondente, Achille Pellicci, nasceu em Nápoles, e não faço ideia de como se conheceram em Santa Rita. Porém, minha avó materna, assim como o pai dela, nasceram em São Paulo, onde a cultura dita “italiana”, por sua vez, tem origens muito mais napolitanas. Uma napolitana residente na Argentina e que conheci certa vez num evento online chegou a dizer que São Paulo é a cidade do mundo onde há mais napolitanos e descendentes, mais até do que Nápoles. De fato, nossa herança cultural italiana mistura um pouco de Nápoles e de Veneza (talian, inclusive algumas expressões), mas por eu ter herdado da mãe e da avó uma cultura “paulistana” genérica, mesmo nunca tendo morado na capital, é muito forte nosso substrato napolitano mediado pelos costumes dessa cidade.


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