sexta-feira, 5 de abril de 2024

Pica-Pau em árabe + abertura nashiid


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/picapau-ar


Eis aqui um conteúdo interessante que até poderia viralizar se tivesse sido botado no YouTube, mas vamos ficar por aqui mesmo... Há alguns anos, viralizou um vídeo mostrando como foi dublado em vários países um dos surtos de raiva da vilã Carminha, interpretada por Adriana Esteves na novela Avenida Brasil (2012). Grande interesse foi revelado nos comentários, sobretudo, pela versão em árabe (um padrão simplificado, acredito), que pros ouvidos brasileiros soava muito engraçada!

Não sei bem se foi por causa disso ou se foi por alguma outra razão que ou achei por acaso, ou procurei os desenhos do Pica-Pau dublados em árabe, que não são poucos: só este vídeo, por exemplo, tem quatro horas e quinze minutos, e provavelmente contém todos os episódios já exibidos no Brasil. Selecionei abaixo apenas os momentos mais conhecidos, ou que pelo menos acho mais engraçados, e no final coloquei também a parte mais famosa do episódio do “rachador”, em que o Pica-Pau dirige que nem um louco numa estrada e é parado por um guarda.

Em árabe, o bichinho é chamado نقار الخشب (naqqaar al-khashab), bem literalmente “bicador/batedor de madeira”. Pra quem entende um pouco como a língua funciona, naqqaar (نقار) é o chamado “substantivo ocupacional” (ou seja, “o que faz alguma coisa”) relativo à raiz verbal naqara (نقر) (bater, bicar). Khashab (خشب), acima com o artigo definido, é a madeira processada ou na natureza, enquanto produto de consumo, ou a árvore vista como fonte de produção da madeira.

No total deu quase 8 minutos, e você pode baixar o vídeo, se desejar, pra usar algum trecho nas redes sociais ou fazer memes, rs. Logo depois estão indicados os minutos (a ser acessados, infelizmente, de forma manual) em que aparecem as cenas famosas, geralmente conhecidas como bordões na cultura pop brasileira. São versões mais recentes do cartoon, portanto infelizmente não consegui achar o clássico Bathing Buddies (“boliña de gorfe”) com o Leôncio, que é mais antigo... Se você entende árabe ou conhece alguém que entenda, e acha interessante ter os trechos transcritos e traduzidos ao pé da letra, pode entrar em contato comigo também (ver canto superior direito). Bom divertimento!


Início: Zé Jacaré faz seu “vodu” dentro de uma caverna e canta aquele verso que pra nós (mas não em árabe!) parece algo como “Rígbi, rígbi, rígbi tchu!”

10 seg: Gina Estafa começa seu programa de rádio sobre “o culto do voduísmo”.

17 seg: “Vodu é pra jacu!”

23 seg: Wild Bill Hiccup: canção do início e momentos em que o caubói começa a soluçar ao falar ou ouvir o próprio nome.

45 seg: O cachorro da empresa telefônica dizendo “Testando: um, dois, três” (Ikhtibaar: waahid, ithnaan, thalaatha).

47 seg: Idem, dizendo “Em todos esses anos nesta indústria vital, esta é a primeira vez que isso me acontece.”

55 seg: Pica-Pau hipnotiza o Zé Jacaré cantando: “Dorme, filhinho do coração. Não tenha medo do Bicho Papão!”

1 min 6 seg: Acontece um acidente na obra em que o único operário (!) dizia nunca ter sofrido um acidente: “Não vá sofrer um acidente... Sofreu!”

1 min 14 seg: Episódio do pai e filho ursos que parecem comer só quando os visitantes do parque lhes dão alguma coisa. Logo no início, o filho: “Esse é meu pai!” (Haadhaa huwa abii!), e logo a seguir, “Hmmm, bolo de morango!”, que ficou engraçada porque todo mundo parece escutar “bolho de murango”, rs.

1 min 21 seg: “Agora uma palavra do nosso patrocinador: Socorro!”

1 min 26 seg: Náufrago que habitava uma ilha e só comia coco, e quando vê o Pica-Pau chegando, quer comê-lo devorá-lo. Quando criança, eu gostava do nome do episódio: “Pica-Pau tropical”, rs.

1 min 42 seg: GRANDE CLÁSSICO: “Chamando o doutor Hans Chucrutes!”

1 min 51 seg: Canção em que no começo o Pica-Pau canta que “só tem azar”, e depois, quando acha um trevo de quatro folhas, canta “sorte grande, sorte grande!”.

2 min 23 seg: O show do mágico que o Pica-Pau interrompe com o barulho da pipoca: “Obrigado (Shukran lakum), obrigado. Como meu primeiro truque...”

2 min 37 seg: Episódio “Em Roma, faça como os pica-paus”, em que o pássaro faz diversos penteados e um número de “exibição” circense com um leão que pertencia a um imperador assemelhado a Nero.

3 min 40 seg: Pra se livrar do frio, Pica-Pau vai jogando na lareira o álbum de família dizendo: “Adeus, fulano! Adeus, beltrano!” Mas quando vê o tio (’amm, subentende-se “tio paterno”, o que nem o inglês, nem o português precisa) Scrooge, pega-o de volta e vai o procurar em sua mansão.

4 min: Scrooge (óbvia inspiração no romance de Charles Dickens e mesmo nome original do Tio Patinhas) é tão sovina que até os mergulhos (!) do torrão de açúcar no café devem ser contados. O mordomo dá “dois mergulhinhos” e Scrooge tem um chilique, dizendo que “um mergulho basta”.

4 min 10 seg: Pica-Pau vende esculturas de madeira e está esculpindo um índio. Ele atende ao telefone: “Alô? Eu não ouço nada! (Sopra.) Melhorou”, que muita gente também escuta “melholou”, rs.

4 min 16 seg: O delegado: “Tentando me enganar com um índio de madeira!” Mais pra frente ele também lê na caixa: “Um índio de madeira” (Hindiyyun khashabiyyun waahad). Pros estudantes: o numeral waahid (waahad consta ser dialetal sul-levantino) é usado depois, como substantivo, pra ressaltar a unidade, o caráter isolado. A noção de indefinição é dada pela simples ausência de determinantes, em especial do artigo al- prefixado.

4 min 23 seg: O delegado: “Um índio de papel!” Desta vez é um hindiyyun waraqiyyun, que vem de waraq (papel).

4 min 28 seg: “De volta à fase de planejamento!” Em outros momentos do episódio, o funcionário diz “De volta ao planejamento!”

4 min 33 seg: OUTRO CLÁSSICO! Aquele episódio em que o casal se chama mutuamente de “mãe” e “pai” (algo considerado “caipira” no Brasil...), e que tem tanta parte engraçada que nem vou apontar cada uma, rs. Quando eles se batem, “Foi você sim!” (quem comeu a comida) é Akaltahaa! (lit. “Você a comeu!”), e “Não fui eu!” é Lam aakulhaa! (lit. “Eu não a comi!”).

5 min 14 seg: “Meu pangaré é um cavalo amigo que anda, que anda comigo...”

5 min 39 seg: “O meu pangaré é uma boa comida, me enche, me enche a barriga...”

5 min 53 seg: “Éééé, eu sou o Lobo Mau e vou comer uma vovó bem gorda no jantar, hehehe!”

6 min 3 seg: Músicas que o Pica-Pau canta, e parte final onde ele leva sacos de ouro pra vender na cidade, mas descobre que é “ouro dos tolos”.

7 min 18 seg: O policial (shurtiyy) rodoviário está procurando um “rachador”, que na verdade é o Pica-Pau fazendo barbeiragens na estrada.



Isto é bizarro: abertura em árabe do Pica-Pau, provavelmente de algum momento da década de 1990, em versão “islâmica”, ou seja, só a cappella, inscrições em árabe e cenas de episódios. Um verdadeiro nashiid...

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