Esta semana, pra lembrar o 70.º aniversário da Revolução Chinesa comunista, comandada por Mao Zedong (cujo nome era escrito antigamente Mao Tsé-tung, que pra nós reflete melhor a pronúncia original), traduzi e legendei vários vídeos com canções patrióticas ou comunistas compostas na China no século 20. Pessoalmente não sou comunista, mas considero importante, como historiador, recordarmos os fatos pacíficos ou violentos que marcaram nosso passado recente e, de alguma forma, moldaram a geopolítica moderna. Além do hino nacional que já postei aqui, traduzi e expliquei mais três canções muito animadas, marciais ou mais folclóricas. Como você lerá, eu não conheço o mandarim (variedade dominante da língua chinesa) a fundo, então às vezes me vali do texto original jogado no Google Tradutor, mas também traduzindo de versões em outras línguas. Aproveite!
Uma brincadeirinha que fiz no auge da pandemia, hehehe:
Esta é Sem o Partido Comunista, a Nova China não existiria (没有共产党就没有新中国; pinyin: Méiyǒu Gòngchǎndǎng jiù méiyǒu xīn Zhōngguó), que teve a letra escrita em outubro de 1943 por Cao Huoxing, um comunista de apenas 19 anos. Nenhuma versão da Wikipédia menciona a autoria da melodia, nem mesmo a chinesa. Durante a 2.ª Guerra Mundial, quando os chineses estavam combatendo a invasão japonesa, o líder do Guomindang (Partido Nacional Popular), Jiang Jieshi (antes escrito Chiang Kai-shek) publicou um livro chamado O destino da China (1943), com o slogan “Sem o Guomindang, a China não existiria”. Pouco depois, o Partido Comunista da China publicou num de seus diários um editorial crítico ao livro, chamado “Sem o Partido Comunista, a China não existiria”, o qual inspirou o jovem Cao, membro do Grupo de Propaganda Antijaponesa, a escrever uma canção com o mesmo nome. (Lembrem-se que na transliteração pinyin, a letra “c” se pronuncia como um “ts” bem forte e ligado, como em russo.)
Em 1950, pouco após tomar o poder, Mao Zedong sugeriu que o título fosse mudado pra Sem o Partido Comunista, a Nova China não existiria, com o acréscimo do adjetivo “nova”. A iniciativa teria o objetivo, segundo a imprensa oficial, de “apontar os sucessos do PC chinês de modo mais preciso”. A canção foi inserida no filme épico de dança e música O Oriente é vermelho (1965), criado pra dramatizar a história da Revolução Chinesa na esteira da chamada “Revolução Cultural”. Até mesmo o ex-presidente Jiang Zemin reconheceu em 2001 a importância do poema, ao dedicar-lhe uma mensagem no dia do aniversário dela. Em 2006, foi inaugurado no distrito pequinês de Fangshan, onde a canção foi composta, um memorial em homenagem a ela, com 6000 m².
Na letra, Cao Huoxing tornou o Partido Comunista um sujeito masculino ao usar o caractere 他 (tā), que significa literalmente “ele” (mas com a mesma pronúncia do que indica “ela”), embora normalmente seja considerado de gênero neutro. Curiosamente, o verso sobre guerrilhas significa literalmente “Ele formou bases por trás das linhas inimigas”, mas a tradução moderna é realmente a citada. Todas essas informações históricas vêm das Wikipédias inglesa e espanhola. Eu mesmo montei e legendei o vídeo, usando um áudio que pode ser encontrado neste vídeo. Traduzi a partir das versões em inglês, alemão e espanhol, comparando também com o resultado de quando eu jogava o texto original no Google Tradutor.
Pinyin:
Méiyǒu Gòngchǎndǎng Jiù méiyǒu xīn Zhōngguó Méiyǒu Gòngchǎndǎng Jiù méiyǒu xīn Zhōngguó Gòngchǎndǎng xīnláo wèi mínzú Gòngchǎndǎng tā yīxīn jiù Zhōngguó Tā zhǐgěi le rénmín jiěfàng de dàolù Tā lǐngdǎo Zhōngguó zǒuxiàng guāngmíng Tā jiānchí le kàngzhàn bā nián duō Tā gǎishàn le rénmín shēnghuó Tā jiànshè le díhòu gēnjùdì Tā shíxíng le mínzhǔ hǎochù duō Méiyǒu Gòngchǎndǎng Jiù méiyǒu xīn Zhōngguó Méiyǒu Gòngchǎndǎng Jiù méiyǒu xīn Zhōngguó Chinês simplificado:
Tradução:
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Esta é a canção Cruzar os mares depende do timoneiro (大海航行靠舵手; pinyin: Dàhǎi hángxíng kào duòshǒu), composta em 1964 por Wang Shuangyin (melodia) e Li Yuwen (letra), com pequenas alterações propostas por Zhou Enlai, primeiro-ministro durante todo o mando de Mao Zedong. Por ter um tom muito laudatório e personalista, era cantada frequentemente durante a chamada “Revolução Cultural”, que devastou a China de 1966 a 1976. Fiocu popular também em outros países do então chamado “terceiro mundo”, em que havia fortes partidos comunistas ou movimentos libertadores antieuropeus. Seu nome original era A revolução depende do pensamento de Mao Zedong.
No começo dos anos 60, a China vivia muitos altos e baixos, o que inspirou a crescente leitura dos textos teóricos e políticos de Mao. Por isso, Wang Shuangyin e Li Yuwen se inspiraram a compor uma canção que falasse do pensamento maoista como uma bússola ou liderança que guiava os operários, camponeses e soldados de então. A música causou um imediato impacto positivo nas autoridades políticas, e Wang com isso conseguiu se tornar deputado e liderar as maiores associações culturais. Isso porque na “Revolução Cultural”, a música também teve um papel muito importante pra mobilização artística e política. Wang, contudo, sofreu a perseguição dos sucessores de Mao, com consequências durando até 1987.
A letra é muito poética, e só quero destacar: a gente quase sempre lembra de “parreiras” pra uvas, mas os melões também dão numa espécie de planta trepadeira, que é o sentido genérico da palavra. Eu mesmo legendei a partir deste vídeo e traduzi a partir das versões inglesa e espanhola da Wikipédia, bem como do resultado que saía direto da letra no Google Tradutor. Por precaução, também joguei no Google as traduções em estoniano e coreano da Wikipédia, e deram algo muito parecido.
Pinyin:
Dàhǎi hángxíng kào duòshǒu, Wànwùshēng zhǎng kào tàiyáng. Yǔlù zīrùn hémiáo zhuàng, Gàn gémìng kào de Shì máozédōng sīxiǎng. Yú’ér lí bùkāi shuǐyā, Guā’ér lí bùkāi yāng. Gémìng qúnzhòng lí Bùkāi gòngchǎndǎng. Máozédōng sīxiǎng Shì bùluò de tàiyáng. Chinês simplificado:
Tradução:
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Este é o chamado Hino Militar do Exército de Libertação Popular da China (中国人民解放军军歌; pinyin: Zhōngguó Rénmín Jiěfàngjūn Jūngē), que são as forças armadas do país comunista. Ele foi composto na cidade de Yan’an em 1939 por Gong Mu (letra) e Zheng Lücheng (melodia), chamando-se inicialmente Marcha do 8.º Exército de Rota, ainda durante a guerra de resistência contra a invasão japonesa.
Durante a segunda fase da guerra civil na China, entre os nacionalistas do Guomindang e os comunistas sob Mao Zedong, a canção também era chamada Marcha do Exército de Libertação, e após a vitória comunista a letra foi reeditada em 1951 e o título atual foi dado em 1965. Porém, apenas em 1988 ela se tornou o hino oficial das Forças Armadas da China, e entre as várias letras estou postando apenas a que constitui a forma final. A melodia tocada pelas bandas militares também é muito usada nas paradas comemorativas.
Eu traduzi direto da versão em alemão que se encontra na Wikipédia, e depois comparei com a versão da Wikipédia macedônia, que eram as que tinham tradução, além da japonesa e coreana. Também joguei o original no Google Tradutor pra fazer a comparação (em português e inglês não houve diferenças), e fiz apenas uma pequena correção. Eu legendei a videomontagem que já estava pronta no ótimo canal “Socialist East”.
Pinyin:
Xiàng qián! Xiàng qián! Xiàng qián! Wǒmen de duìwǔ xiàng tàiyáng,
Wǒmen shì gōngnóng de zǐdì,
Tīng! Fēng zài hūxiào jūnháo xiǎng,
Tóngzhìmen zhěngqí bùfá
Chinês simplificado:
我们的队伍向太阳,
我们是工农的子弟;
听! 风在呼啸军号响;
同志们整齐步伐奔
Tradução:
Nossas tropas estão voltadas na direção do Sol,
Somos filhos e irmãos de operários e camponeses,
Ouçam o vento rugir e o clarim ressoar;
Os camaradas marcham em ordem
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