sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Villepin: governar é pau de cocô


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Dada a perda da atualidade (e como os eventos se atropelam!), meu desejo era ter traduzido este vídeo antes, mas só agora tive tempo. Em 9 de junho de 2024, após a vitória da União Nacional (RN) nas eleições francesas pro Parlamento Europeu, o presidente Emmanuel Macron dissolveu a Assembleia Nacional (câmara baixa do Parlamento nacional, eleita por sufrágio universal), mesmo que seu partido tenha ficado em segundo. O chefe de Estado disse que queria um “esclarecimento” político da parte da população, mas essa dissolução, sem razão aparente e mal recebida pelos eleitores, nunca pareceu bem explicada pros especialistas.

O “esclarecimento” veio na vitória da Nova Frente Popular, o bloco de esquerda que reúne da extrema-esquerda à centro-esquerda, em nova redução do bloco presidencial (que já não tinha mais a maioria absoluta desde as eleições regulares de 2022) e em votação recorde do RN, que mesmo assim ficou como o terceiro bloco. É um tipo de votação incomum que se dá em dois turnos, nesse caso, nos dias 30 de junho e 7 de julho. No dia 13 seguinte, convidado pro programa de David Pujadas, o ex-premiê socialista francês, Dominique de Villepin, afirmou que Macron devia primeiro conversar com o NFP pra escolher um novo chefe de governo, e caso se recusasse, devia renunciar pra acabar com a crise política.

Curiosamente, Villepin usou uma expressão conhecida a quem já assistiu à primeira edição do filme O Menino Maluquinho, baseado no famoso personagem infantil de Ziraldo. Ele disse que ninguém podia desejar formar um governo nas novas condições, pois tal incumbência seria um “bâton merdeux”, que podemos traduzir como “pau de cocô” – lembrando que a palavra “merde” é muito mais usada em francês do que em português sem necessariamente uma carga chula demais. Macron exumaria Michel Barnier, o maior picolé de chuchu que ele conseguiu achar, mesmo após mais de um mês de consultas, e mesmo esse seria deposto pela Assembleia Nacional em pouco mais de dois meses. Além disso, insistindo em só escutar a si mesmo, sabemos hoje que ele empossou outro picolé, mas com gosto mais de jiló, François Bayrou, como uma “última alternativa”, mas mesmo esse pode estar com os dias contados.

Ou seja, não somente a formação de um novo governo se revelaria um “pau de cocô”, mas também o almofadinha dos ricos terminou jogando a França e os franceses na m... Assim como no Ziraldoverso, o bâton merdeux também era uma brincadeira na França pré-moderna, e abaixo segue apenas o trecho recortado da fala que achei mais interessante pra contextualizar o uso da expressão. Eu mesmo transcrevi e traduzi (sem o Google!) direto do francês, e aceito sugestões de traduções melhores. E no final, uma surpresinha pra meu público, rs:


E essa Nova Frente Popular (NFP), a partir daquele que a dirige, é encarregada de formar um governo, e é aí que começa a dificuldade, porque sabemos que a NFP evidentemente só dispõe de uma frágil maioria relativa. E que ela vai precisar, portanto, construir uma maioria que lhe permita durar um pouco mais que… um, dois, três dias. E esse é o começo, pra todos os franceses e pra toda a classe política, do aprendizado da época nova.

Significa que de repente a NFP, que pode pensar que ganhou e que vai governar durante meses, vai se encontrar face a uma dura realidade: é que formar um governo hoje não é um presente. Na verdade mesmo, é um pau de cocô. É preciso encarar a realidade de frente.

Aliás, se continuarmos na confusão atual, um dos riscos é que todo mundo se dê conta que ninguém politicamente se interessa em dirigir esse governo, que finalmente o Presidente se enxergue no caos e que, portanto, uma questão vai ser apresentada a ele: renunciar é a única forma de desenrolar. Portanto, a primeira opção deve ser o NFP.


Et ce Nouveau Front populaire (NFP), à partir de celui qui le dirige, est chargé de former un gouvernement, et c’est là où la difficulté commence, puisqu’on sait que ce NFP ne dispose évidemment que d’une maigre majorité relative. Et qu’il faut donc qu’il construise une majorité qui lui permette de durer un peu plus que… un, deux, trois jours. Et ça, c’est le début, pour tous le Français et toute la classe politique, de l’apprentissage de l’ère nouvelle.

C’est à dire que tout à coup le NFP, qui peut penser qu’ils ont gagné et qu’ils vont pendant des mois gouverner, vont se trouver devant une dure réalité : c’est que c’est pas un cadeau que de former un gouvernement aujourd’hui. La vérité même, c’est un bâton merdeux. Il faut voir la réalité en face.

Et l’un des risques, d’ailleurs, si on continue dans la confusion actuelle, c’est que tout le monde se rende compte que personne politiquement n’a intérêt à diriger ce gouvernement, et que le Président finalement se retrouve dans le chaos et donc d’une question qui lui sera posée : démissionner, c’est la seule façon de dénouer. Donc, première option, le NFP.



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