Quem conhece a história da “mamadeira de piroca” nas eleições de 2018, ou mesmo da maconha que FHC colocaria nas lancheiras das crianças paulistanas, segundo seu concorrente vitorioso Jânio Quadros em 1984, sabe que essas em geral são projeções dos próprios desejos reprimidos sobre os adversários ou desafetos em todos os domínios. Os vídeos delirantes de Olavo de Carvalho contra a diversidade de gênero, de sexo, de religião e de ideologia política – mas notadamente seu temor contra o “gayzismo”, um suposto plano de dominação mundial pelos homossexuais – revelam sua inabilidade em lidar com o diferente e a opção por relegá-lo ao campo da patologia, da perversidade ou mesmo do crime.
O cachimbador de estrume seco detestava Putin e o ideólogo Dugin, mas certamente não acharia tão ruim viver numa Rússia que praticamente está executando repressões baseadas em todo tipo de neurose recalcada no finado campineiro. Hoje terminam as eleições que, estranhamente durando mais de um dia pra um país com bem menos eleitores que o Brasil, na verdade só servem pra dar uma aparência de legalidade a uma ditadura cada vez mais terrorista e que, segundo especialistas, ainda não alcançou a de Stalin em sufocamento social, mas já passou a Era Brezhnev. Os outros três “candidatos” na verdade não querem eles mesmos ganhar, e seus próprios “programas” não ficariam devendo nada ao de um Rússia Unida da vida.
No canal do YouTube de Nikolái Kharitónov, por exemplo, deputado federal e candidato pelo partido comunista que vai enfim substituir o encarquilhado Gennádi Ziugánov, toda uma propaganda de 6 minutos é dedicada a ameaçar quem não for votar (em Putin, claro, pois todos dão no mesmo) de estar ajudando pra criar na Rússia de 2036 uma “ditadura gay” (que eles chamam de “valores ocidentais”), igualzinha à que o Malafaia temia aqui. É claro que o trend atual em Moscou é ser reacionário e xenofóbico, e é claro que a URSS, nisso que hoje chamamos rasteiramente de “pautas identitárias”, estava longe de ser um exemplo, muito pelo contrário. Mas é absolutamente absurdo que, só pra fazer birra contra os EUA e o “Ocidente genérico”, muitos dos ditos “esquerdistas”, “marxistas” e mesmo “comunistas” na Banânia passem pano pra quem destruiria exatamente o tipo de sociedade que permite defender o que (ainda de libertário) eles defendem...
Não vou fazer propaganda de stalinista. As versões que seguem aqui são do site em russo da Rádio Liberdade (Radio Svoboda), sob a narração da repórter Meláni Báchina, e incluem também uma propaganda do governo em que a mulher ameaça o homem devido à possibilidade de cortarem benefícios sociais. O resumo do vídeo (ou das fantasias...) de Kharitonov dispensa tradução, a não ser o fato de que se vive na Rússia de 2036 e que o velho censura o moço por não ter ir votado. A rua com placa azul se chama “Gays Libertadores, 69”, e o mais engraçado é que o canal do comuna foi invadido por trolls que perguntavam em russo: “Como faço pra morar na rua Gays Libertadores?”, “Em quem voto pra viver nesse país?”, rs.
Mudando um pouquinho de assunto: no meio de algumas pesquisas, achei este meme a respeito da segurada de dinheiro pelo Congresso dos EUA pra ajudar militarmente a Ucrânia, preferindo ajudar Israel. O ex-humorista diz: “Você me prometeu!” Biden: “É pros judeus!” Zelensky: “Eu também sou judeu!”
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