terça-feira, 13 de setembro de 2022

Morte da rainha pode ser mau agouro


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Esta edição do programa de entrevistas francês C dans l’air (Está no ar), geralmente apresentado pela jornalista Caroline Roux, me deixou espantado em retrospectiva. O título da transmissão faz alusão ao fato de Liz Truss, sucessora de Boris Johnson no comando do Reino Unido, apresentar-se como uma nova Margaret Thatcher, mas o foco das conversas é a crise econômica, social e política que atravessa o país, e em dado momento, chega a pergunta de um telespectador, sobre os perigos desses abalos pra sobrevivência da monarquia.

Uma das jornalistas participantes responde que a crise em si não apresenta perigo pra monarquia, mas que a morte da rainha poderia sacudir bastante a sociedade britânica. Isso foi no dia 5 de setembro, e no dia 8 falecia Elizabeth 2.ª, a soberana que parecia imortal. Achei o mau agouro tão interessante que decidi separá-lo e traduzi-lo aqui, seguido da transcrição em francês. Apenas numa palavra entre colchetes fiquei em dúvida se a primeira jornalista falou isso mesmo, mas não prejudica o todo. Obviamente, é esta que fala a maior parte, mas decidi colocar a resposta de ambas, porque traz informação instrutiva e pra não tirar de contexto a frase da segunda.

Vamos ver se a profecia vai se cumprir...


Caroline Roux – Pergunta de Dominique, do departamento de Yvelines: “A crise no Reino Unido poderia desestabilizar a monarquia inglesa?”

Anne-Élisabeth Moutet – Não, provavelmente não, não é isso que vai desestabilizar a monarquia inglesa. Só se o príncipe Andrew continuar pensando que pode ocupar o centro das atenções, não é bom. Mas é que nesse caso dizem: “Espera-se da família real uma moralidade absoluta, a mesma da rainha, e quando um de seus filhos não a tem, é algo que choca”. Mas pelo contrário, o símbolo da rainha é o símbolo de alguém frugal, mesmo se ela mora num palácio de 360 cômodos, que apaga a luz quando sai do cômodo em que está, que baixa a temperatura – porque em todo caso a calefação central não é algo de sua geração. E acho que não, pelo contrário, a monarquia, assim como a covid, vai unir as pessoas, e provavelmente, aliás, vai haver gestos tanto da rainha quanto do príncipe Charles – que está se aproximando, mesmo devagar, do trono e que fundou há muito tempo uma instituição de caridade que é mais do que isso e que trabalha pra dar oportunidades a jovens desfavorecidos. É algo que educa até os 30 anos, o Prince’s Trust. Portanto, não, pelo contrário, isso vai manter uma certa coesão no país.

Marion Van Renterghem – De fato, acho que a crise não pode desestabilizar a monarquia. Em contrapartida, acho que a morte da rainha pode desestabilizar consideravelmente a sociedade britânica.


Caroline Roux – Question de Dominique, dans les Yvelines : “La crise au Royaume-Uni pourrait-elle déstabiliser la monarchie anglaise ?”

Anne-Élisabeth Moutet – Non, probablement pas, c’est pas ça qui va déstabiliser la monarchie anglaise. C’est si le prince Andrew continue à penser qu’il peut venir sur le devant de la scène, c’est pas bien. Mais, parce que là on dit : “On attend de la famille royale une moralité absolue, qui est celle de la reine, et quand l’un de ses enfants ne l’a pas, ça c’est quelque chose qui choque”. Mais au contraire, le symbole de la reine, c’est le symbole de quelqu’un de frugal, même si elle vit dans un palais de 360 (trois-cent-soixante) pièces, qui ferme la lumière quand elle quitte la pièce où elle est, qui fait baisser la température – parce que de toute façon le chauffage central, c’est pas quelque chose de sa génération. Et je pense que non, au contraire, la monarchie, comme pour le covid, va rassembler les gens, et il y aura probablement des gestes d’ailleurs, et de la reine, et du prince Charles – qui se rapproche, même lentement, du trône et qui a créé depuis très longtemps un organisme charitative qui est plus que ça et qui s’occupe de donner des chances à des jeunes défavorisés. Ça c’est quelque chose qui [élève] 30 (trente) ans, le Prince’s Trust. Et donc non, au contraire, ça va garder une certaine cohésion au pays.

Marion Van Renterghem – Je pense que la crise, en effet, ne peut pas déstabiliser la monarchie. En revanche, je pense que la mort de la reine peut déstabiliser la société britannique considérablement.