segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Mianmar afunda e esquerda não sabe


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Esta publicação já era pra ter ido ao ar no próprio dia de publicação das matérias (1.º de dezembro) ou no máximo no dia seguinte, mas por razões de calendário, só consegui concluir e lançar agora. Além disso, dada a importância política e histórica do tema, decidi não renunciar à tradução dos textos, mesmo estando com o prazo apertado pra finalizar minha tese de doutorado. Traduzi com a ajuda do Google Tradutor e depois retoquei pessoalmente estes dois artigos em inglês sobre os reveses do Exército de Mianmar contra grupos guerrilheiros dissidentes, país do Sudeste Asiático chamado “Birmânia” no passado, que sofreu um golpe militar em fevereiro de 2021 e desde então é governado por uma das juntas mais violentas do mundo. O primeiro é um editorial do Japan Times dizendo que o fim da ditadura não implica a volta automática da democracia, e o segundo é uma reportagem da Associated Press republicada pela NBC News, que fala mais do aspecto militar.

Não é “falso moralismo”, mas decidi os trazer aqui porque não vi um artigo ou vídeo sequer vindo de qualquer parte das esquerdas brasileiras criticando o golpe ou mostrando os rebeldes, muito menos chamando a atenção pro jogo duplo da China, que inicialmente apoiava o Exército de Mianmar e suas atrocidades, mas agora parece estar aos poucos transferindo seu peso pra oposição. De qualquer forma, meu objetivo principal é confirmar uma constatação que vários observadores internacionais já fizeram sobre esse barulho todo com Israel e os palestinos: quando são brancos eurodescendentes ou judeus que cometem opressão, crimes ou violações, as esquerdas beiram a histeria, mas quando são árabes, asiáticos, negros etc. se entrematando, elas comodamente se calam. E olha que em Mianmar as vítimas são muito mais numerosas, sobretudo desde o genocídio ou deslocamento forçado da minoria muçulmana rohingya pelos mesmos militares.



Membros de um grupo das forças étnicas armadas com um blindado supostamente tomado dos militares de Mianmar no estado de Shan em 24 de novembro. (Associated Press)


Devemos impedir a queda de Mianmar rumo a um Estado falido

Grupos rebeldes armados ganham terreno enquanto a junta perde o controle

A situação em Mianmar está se deteriorando, e a junta governante está perdendo o controle do país.

Infelizmente, não é a oposição democrática que está em vantagem; em vez disso, os muitos grupos rebeldes armados que estão desafiando o governo parecem estar vencendo e ameaçando com o caos.

Embora a junta deva ceder o poder, Mianmar não pode se tornar um Estado falido. As forças que buscam um Mianmar democrático e tolerante devem convergir e encontrar um terreno comum. O mundo deve ajudar a nutrir esse processo.

Mianmar não sabe o que é paz desde que os militares derrubaram o governo democraticamente eleito em fevereiro de 2021, após uma eleição em que o partido da junta foi derrotado. Esse golpe desencadeou uma guerra civil, com as forças pró-democracia se reunindo sob a bandeira do Governo de Unidade Nacional (GUN), um governo no exílio.

Vários dos grupos insurgentes lutam há muitos anos contra os diversos governos de Mianmar, incluindo o derrubado pela junta, por seus próprios direitos. Tem sido um conflito horrível. Segundo a ONU, a junta matou cerca de 4 200 manifestantes e outros cidadãos. Além disso, suas brutalidades deslocaram cerca de 2 milhões de pessoas em Mianmar, enquanto outro milhão foi impelido pela fronteira para países vizinhos.

Nos últimos meses, as forças rebeldes, em sua maioria milícias étnicas que operam nas fronteiras do país, lançaram ofensivas coordenadas. A Operação 1027, batizada conforme o dia em que começou (27 de outubro), invadiu municípios e postos militares na fronteira com a China ou perto dela.

Embora seja difícil obter informações precisas, cerca de 160 postos militares podem ter sido tomados pelos rebeldes. Membros do GUN dizem que mais ataques vão se seguir e que a ofensiva vai ser generalizada, incluindo greves e protestos nas cidades.

Embora a perda de território seja significativa (o chefe em exercício do GUN disse que as forças de resistência controlam cerca de 60% do território de Mianmar), tão ou mais prejudicial é a perda de receitas provenientes das travessias de fronteira, estimada em 40% do comércio transfronteiriço, e dos impostos que gera. Relatos recentes de ataques à capital, Nepiedó, evidenciam a fragilidade do governo.

A ampla dispersão e o combate (e as perdas) em múltiplas frentes tem minado o moral entre os soldados do governo. As deserções estão aumentando: segundo uma estimativa, cerca de 14 mil soldados podem ter abandonado a luta. O governo tem recorrido a uma campanha aérea que acarreta ataques indiscriminados e a morte de civis.

Alguns grupos também acusam o governo de usar armas químicas, o que seria um crime de guerra, se comprovado. O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos disse que os militares também efetuam assassinatos em massa e queimam aldeias para dissuadir os civis de ajudarem seus inimigos.

Há uma fórmula pra negociações de paz. Em 2021, os líderes da Associação das Nações do Sudeste Asiático e o general Min Aung Hlaing, chefe da junta governante, concordaram em cinco pontos: o fim imediato da violência; diálogo entre todas as partes; a nomeação de um enviado especial; assistência humanitária da ASEAN; e a visita de um enviado especial da ASEAN a Mianmar pra encontrar todas as partes. O GUN também exige a libertação de todos os presos políticos, estimados em cerca de 20 mil pessoas.

A junta, no entanto, tem se recusado a encontrar membros do NUG, e a ASEAN, relutante em abandonar seu compromisso de não interferir nos assuntos internos dos Estados-membros, não tem conseguido avançar. A posição do grupo é ainda mais prejudicada pela disposição de alguns governos membros a continuarem comerciando normalmente com o governo militar de Mianmar.

Crucial pra eficácia da ASEAN é a presidência do grupo, um posto que roda anualmente entre os membros. Espera-se que o país que o detém mobilize a organização e promova seus interesses. A Indonésia detém atualmente o martelo e, embora seja um dos membros mais enérgicos e ambiciosos do grupo, não tem sido capaz de sair do impasse. A presidência em 2024 vai ser do Laos, do qual poucos esperam muito, ou nada.

Se a ASEAN for marginalizada, a China provavelmente vai desempenhar um papel mais importante no futuro de Mianmar. Ela apoia a junta e usa esse apoio pra ganhar influência num país que é central pra geopolítica do Sudeste Asiático. Mianmar é rico em recursos naturais, tem uma localização estratégica e é subdesenvolvido. As sanções que o Ocidente impôs à junta criaram uma oportunidade pra China.

Porém, nos últimos meses, a China pode estar nuançando seu apoio ao governo militar ao trabalhar com o Exército da Aliança Democrática Nacional de Mianmar, um grupo que está combatendo a junta. A China teme que a anomia nas regiões de fronteira, famosas pela produção de drogas e pelo tráfico de pessoas, se espalhe até a China. A área também é conhecida por abrigar gangues que estão realizando golpes digitais no mundo todo, o que estaria irritando a China.

No final do mês passado, caminhões que traziam mercadorias da China pra Mianmar foram incendiados depois que o governo reprimiu os golpistas. No dia seguinte, a China anunciou que seu exército realizaria exercícios na área pra “testar a capacidade de manobra rápida, a proteção das fronteiras e as capacidades de ataque de fogo das tropas em teatros de operações”.

Diplomatas chineses continuam encontrando os membros da junta pra discutir “a cooperação em matéria de paz e estabilidade e Estado de direito ao longo das zonas de fronteira”. Ao mesmo tempo que clama pelo cessar-fogo, a China também diz que mantém sua política de não interferência nos assuntos internos de Mianmar.

Embora a ASEAN tenha sido marginalizada, o mesmo aconteceu com a ONU, onde a China tem poder de veto, de fato protegendo o governo de Mianmar contra ações da organização. E embora o GUN mantenha o assento do país na ONU, ele tem lutado pra ganhar reconhecimento internacional, o qual nem o Japão nem os Estados Unidos concederam.

O resultado é um esforço diplomático que tem sido dificultado por partes determinadas a bloquear qualquer progresso, a menos que seja nos próprios termos. Isso não é apenas frustrante, mas ajuda a agravar a crise humanitária.

Os milhões de pessoas deslocadas pelos combates brutais estão sobrecarregando os serviços públicos e, por ruim que seja essa situação, foi encoberta por crises em outros países, sobretudo em Gaza e na Ucrânia. A ONU reclama que só recebeu cerca de um terço dos fundos necessários pra atender às necessidades em Mianmar. As sanções ocidentais à junta também prejudicam a capacidade do governo de cuidar dos refugiados internos.

Por mais preocupante que seja a situação, a perspectiva de Mianmar se tornar um verdadeiro Estado falido é ainda mais alarmante. O colapso poderia instigar à intervenção não só da China, mas também da Índia, que divide uma fronteira de 1 643 km com Mianmar. O governo de Délhi não cederia à influência de Pequim num país que considera essencial pra seu futuro económico.

O processo de paz precisa ser revigorado. O reconhecimento do GUN é um primeiro passo crucial. A ASEAN também precisa ajudar a convencer a junta de que ela não pode seguir no poder e que a democracia precisa ser restaurada; o país e a própria credibilidade da organização o exigem.

Não se pode permitir que Mianmar, um país central no Sudeste Asiático em termos de tamanho, localização e importância geopolítica, entre em colapso.

O Conselho Editorial do Japan Times



A tomada do poder em 2021 pelo comandante do exército, general Min Aung Hlaing, levou milhares de manifestantes pró-democracia às ruas das cidades de Mianmar. (Associated Press)


Os militares de Mianmar estão perdendo terreno contra ataques coordenados, nutrindo as esperanças da oposição

Um analista disse que a ofensiva foi “de longe o momento mais difícil” que os líderes militares do país do Sudeste Asiático enfrentaram desde que tomaram o poder por meio de um golpe de Estado, há quase três anos.

BANCOQUE – Cerca de duas semanas após o início de uma grande ofensiva contra o governo militar de Mianmar, lançada por uma aliança de três milícias bem armadas de minorias étnicas, um capitão do exército, lutando numa área de selva perto da fronteira nordeste com a China, lamentou nunca ter visto uma operação tão intensa.

Seu comandante na 99.ª Divisão de Infantaria Leve de Mianmar foi morto em combates no estado de Shan na semana anterior, e o soldado de carreira de 35 anos disse que os postos avançados do Exército estavam desordenados e sendo atingidos por todos os lados.

“Nunca enfrentei esse tipo de batalhas antes”, disse o veterano combatente à Associated Press por telefone. “Esses combates em Shan são inéditos.” Oito dias depois, o próprio capitão morreu defendendo um posto avançado e foi enterrado às pressas perto de onde caiu, segundo sua família.

A ofensiva coordenada no nordeste inspirou forças de resistência a atacarem no país todo, e os militares de Mianmar estão recuando em quase todas as frentes. O exército diz que está se reagrupando e que vai recuperar a iniciativa, mas aumenta a esperança entre os opositores de que este poderia ser um ponto de virada na luta pra expulsar os líderes do exército que depuseram, há quase três anos, a presidente democraticamente eleita Aung San Suu Kyi.

“A atual operação é uma grande chance pra mudar a situação política em Mianmar”, disse Li Kyar Win, porta-voz do Exército da Aliança Democrática Nacional de Mianmar (EADNM), uma das três milícias conhecidas juntas como Aliança das Três Irmandades, a qual lançou a ofensiva em 27 de outubro.

“O objetivo e o propósito dos grupos da aliança e de outras forças de resistência são os mesmos”, disse ele à AP. “Estamos tentando eliminar a ditadura militar.”

Pegos de surpresa pelo ataque denominado Operação 1027, os militares perderam mais de 180 postos avançados e pontos fortes, incluindo quatro bases principais e quatro passagens de fronteira economicamente importantes com a China.

Ambos os lados afirmam ter infligido pesadas perdas ao oponente, embora não estejam disponíveis números precisos de vítimas. Cerca de 335 mil civis foram deslocados durante os atuais combates, elevando o total pra mais de 2 milhões de refugiados em todo o país, segundo a ONU.

“Este é o maior desafio no campo de batalha que os militares de Mianmar enfrentaram em décadas”, disse Richard Horsey, especialista sobre Mianmar do Grupo Internacional de Crise.

“E pro regime, este é de longe o momento mais difícil já enfrentado desde os primeiros dias do golpe.”

Complicando as coisas pros militares, a China parece apoiar tacitamente a Aliança das Três Irmandades, como resultado, ao menos em parte, da crescente irritação de Pequim com o aumento no comércio de drogas ao longo de sua fronteira e a proliferação em Mianmar de centros a partir dos quais se realizam golpes digitais, frequentemente por gangues chinesas organizadas com trabalhadores traficados da China ou de outros lugares da região.

À medida que a Operação 1027 ganha terreno, milhares de cidadãos chineses envolvidos em tais operações são repatriados sob custódia policial na China, dando a Pequim poucas razões pra exercer pressão sobre a Irmandade pra que ela pare de lutar.

Os militares, conhecidos como Tatmadaw, seguem sendo muito mais numerosos e bem treinados do que as forças de resistência e possuem blindados, poder aéreo e até meios navais pra combater as fracamente armadas milícias organizadas por vários grupos étnicos minoritários.

Mas com as perdas inesperadamente rápidas e generalizadas e com as forças sobrecarregadas, o moral está afundando e mais tropas estão se rendendo e desertando, dando origem a um otimismo cauteloso entre seus diversos oponentes.

Os ganhos atuais são apenas parte de uma longa luta, disse Nay Phone Latt, porta-voz do Governo de Unidade Nacional (GUN), a principal organização de oposição.

“Eu diria que a revolução atingiu um novo nível, em vez de dizer que atingiu um ponto de virada”, afirmou.

“O que temos agora são os resultados de nossa preparação, organização e construção ao longo de quase três anos”, concluiu.

A ofensiva – A tomada do poder em 1.º de fevereiro de 2021 pelo comandante do Exército, general Min Aung Hlaing, levou milhares de manifestantes pró-democracia às ruas das cidades de Mianmar.

Os líderes militares responderam com repressões brutais, prenderam mais de 25 mil pessoas e mataram mais de 4 200 até 1.º de dezembro, segundo a Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos, e investigadores independentes da ONU no início deste ano acusaram o regime de ser responsável por múltiplos crimes de guerra.

Suas táticas violentas originaram as Forças de Defesa Popular, ou FDP’s, forças de resistência armada que apoiam o GUN, muitas das quais foram treinadas pelas organizações étnicas armadas que os militares têm combatido nas regiões de fronteira do país durante anos.

Mas a resistência estava fragmentada até a Operação 1027, quando três dos grupos étnicos armados mais poderosos do país (o Exército da Aliança Democrática Nacional de Mianmar e o Exército de Libertação Nacional Ta’ang no estado de Shan, a nordeste, e o Exército Arakan no estado de Rakhine, a oeste) reuniram uma força de cerca de 10 mil combatentes, segundo estimativas de especialistas, e rapidamente invadiram posições militares.

Percebendo a fraqueza e inspirado pelos primeiros sucessos desses ataques, o Exército de Independência de Kachin lançou na sequência novos ataques no estado de Kachin, a norte, e depois se juntou ao Exército Arakan pra ajudar a liderar um grupo FDP na tomada de uma cidade em Sagaing, no centro do país, coração do tradicional apoio étnico bamar ao Tatmadaw.

No estado oriental de Kayah, também conhecido como Karenni, uma aliança de organizações étnicas armadas lançou seus próprios ataques, iniciando uma ofensiva direta em 11 de novembro à capital do estado de Loikaw, onde o Tatmadaw tem uma base de comando regional.

Nos ferozes combates por Loikaw em curso, os militares estão usando artilharia e bombardeios pra atacar as posições das milícias.

Mas Khun Bedu, chefe da Força de Defesa das Nacionalidades de Karenni, uma das maiores milícias envolvidas no ataque, disse que era fundamental tomar a base do Tatmadaw.

“Temos tempo e é uma boa oportunidade”, disse à AP.

Completando o cerco às forças do Tatmadaw, o Exército Arakan atacou postos avançados em seu estado natal de Rakhine, no oeste do país, em 13 de novembro. Seu sucesso tem sido lento, com o Tatmadaw empregando o poder naval na costa ocidental pra bombardear posições, junto com artilharia concentrada e ataques aéreos, de acordo com um relatório do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS).

Morgan Michaels, que assinou o relatório e dirige o projeto Myanmar Conflict Map do IISS, advertiu que o Tatmadaw tem sido capaz de concentrar forças em pontos fortes, abandonando posições e se retirando, e continua sendo uma força formidável.

“Os combates ainda não acabaram e os ataques por ar e terra estão aumentando e se intensificando”, disse. “Portanto, temos que ver quais são os desdobramentos.”

E apesar de falarem em livrar o país do regime militar, muitos dos combates também concernem aos vários grupos que tomam o controle do território, especialmente o EADNM, que foi expulso da região de Kokang no estado de Shan, incluindo a capital Laukkaing, há mais de uma década pelos militares.

“Os militares provavelmente poderiam encerrar grande parte disso com um acordo, se necessário”, disse Michaels. “Teria de renunciar a algo considerável, mas penso que poderia estancar a hemorragia dando uma concessão considerável ao EADNM, se fosse absolutamente necessário.”

Contudo, ao contrário da guerra civil na Síria, onde vários grupos têm objetivos diferentes e muitas vezes contraditórios, em Mianmar os grupos antimilitares não estão lutando entre si, disse ele.

“É importante enfatizar que muitos grupos têm o objetivo comum de derrubar, desmantelar ou esgotar severamente a capacidade do regime militar”, disse Michaels.

Era 15 de novembro quando a AP contatou pela primeira vez o capitão do Tatmadaw, o alcançando enquanto ele fugia de uma posição pela selva perto da cidade fronteiriça de Monekoe, um dos principais alvos da aliança.

Ele conseguiu se conectar com outros e depois liderou uma coluna de volta à região de Monekoe pra assumir o comando de um posto avançado em 22 de novembro, quando deu à AP uma avaliação sombria de sua situação.

“Estamos cercados por inimigos”, disse ele, acrescentando que mesmo as milícias locais leais ao Exército não eram confiáveis.

“Aqui é difícil distinguir quem é inimigo ou amigo”, disse.

O capitão, que falou sob condição de anonimato por medo de represálias contra ele ou sua família por falar com a mídia, disse que não havia tempo nem pra refeições.

“Temos que estar sempre prontos em posição de ataque”, disse, enquanto o som de tiros e uma explosão irrompiam ao fundo.

“Não posso continuar falando”, disse rapidamente. “Eles estão vindo atacar.”

O papel da China – Bem ciente da irritação de Pequim com a atividade criminosa ao longo de sua fronteira, a Aliança das Três Irmandades sublinhou, ao lançar sua ofensiva, que estava empenhada em “combater a fraude generalizada dos jogos online que tem atormentado Mianmar”.

O general Min Aung Hlaing tenta, sem sucesso, dar um fim em tudo isso e diz que a ofensiva está sendo financiada pelo tráfico de drogas.

À medida que as forças da milícia avançam em direção à cidade de Laukkaing, onde muitos dos centros de golpes estavam localizados, suas operações se dispersam e muitos suspeitos de alto nível são capturados e entregues à China.

Sabendo dos laços históricos da China com as milícias da Irmandade e da influência que ela exerce, os apoiadores dos generais que governam Mianmar realizaram várias manifestações nas principais cidades, incluindo em frente à Embaixada da China em Yangon, acusando o país de ajudar a aliança de milícias.

Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, evitou esta semana uma pergunta sobre tais alegações, dizendo aos repórteres que Pequim “respeita a soberania e a integridade territorial de Mianmar” e reiterando os apelos à paz.

Mas as ações de Pequim falam mais alto do que as suas palavras, disse Horsey.

“Se eles realmente desejassem o cessar-fogo, eles estariam em posição de o aplicar ou de avançar bastante pra o aplicar”, disse ele. “Eles não o fizeram, então isso é revelador.”

A morte do capitão – O último contato da AP com o capitão que lutava no estado de Shan foi em 23 de novembro. A chamada foi curta.

“Tenho algo pra preparar pra nosso posto avançado”, disse apressado. “Vou te ligar de volta.”

A ligação seguinte foi de um parente, em 25 de novembro, que disse ter sido informado de que ele foi morto num ataque noturno contra seu posto avançado e enterrado no local.

Não ficou claro onde exatamente se localizava o posto avançado, mas naquela noite só uma batalha foi relatada na região.

O Exército de Libertação Nacional Ta’ang, membro da Irmandade, disse que suas forças atacaram um grande posto militar avançado no município de Lashio em 23 de novembro e o tomaram na manhã seguinte.

Em seu relato fatual, as forças Ta’ang disseram ter tomado um obus, 78 armas menores e munições, e encontrado as sepulturas de “mais de 50 inimigos”.