domingo, 9 de julho de 2017

Emmanuel Macron comemora 2.º turno


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Estou postando o outro lado do 1.º turno das eleições presidenciais francesas de 2017, só pra gente relembrar um pouco. No dia 23 de abril, Emmanuel Macron, que se posicionou à frente de Marine Le Pen (Front national) na votação do primeiro turno das eleições francesas, fez uma declaração a seus torcedores logo depois das primeiras previsões se confirmarem. Ex-ministro de François Hollande (Partido Socialista), cujo mandato findou em 14 de maio, Macron surpreendeu ao ter ajudado a tirar da disputa, pela primeira vez em décadas, os dois principais partidos, o socialista (esquerda) e Os Republicanos (direita), que mudou de nome muitas vezes, mas em 2007 elegeu Nicolas Sarkozy sob o nome União por um Movimento Popular.

Surpresa da vez, Macron causou as mais diversas sensações até finalmente vencer o 2.º turno. Em síntese, foi o candidato europeísta, universalista, modernizante, em meio a uma insatisfação geral contra a situação da União Europeia (maior na Inglaterra, claro), aproveitada pelos Le Pen e por Jean-Luc Mélenchon (extrema-esquerda, que também concorreu e perdeu a disputa) pra contestar a situação do bloco. A extrema-direita e a esquerda radical o reputaram um velho candidato dos bancos, das finanças e dos industriais, que queria comprometer de vez a soberania da França e destruir as conquistas sociais e trabalhistas consolidadas. Pra eles, seu discurso de renovação e mudança não convenceu, uma vez que teria meramente saído do seio do antigo poder, ou seja, de um ministério de Hollande.

Tendo sido secretário do gabinete presidencial de 2012 a 2014 e, a seguir, ministro da Economia, Indústria e Tecnologia, Emmanuel Jean-Michel Frédéric Macron deixou a pasta em 2016 pra lançar seu próprio movimento à presidência, chamado En Marche!, conhecido como EM! e não por acaso com as mesmas iniciais de Macron. Ele é um ex-banqueiro nascido em 1977, casado com uma ex-professora de francês 24 anos mais velha, a qual conheceu quando ele tinha apenas 15 anos. Ela tem três filhos do primeiro casamento, mas ele não teve nenhum. Macron ficou conhecido por ter batizado no governo Hollande uma lei de sua iniciativa, que pretendia flexibilizar as relações de trabalho pra deslanchar a economia francesa, que continua, porém, estagnada. Sabemos bem em que país essa novela está se repetindo.

O primeiro turno das eleições presidenciais foi em 23 de abril, um domingo, tendo ficado Macron com 24,01% dos votos e Marine Le Pen, 21,3%, mostrando a divisão e a falta de consenso nacionais. A França tem um sistema presidencialista, onde o Presidente da República, eleito pelo voto popular, escolhe o primeiro-ministro, que vai, por sua vez, formar o governo. Grosso modo, o premiê se ocupa mais com a política interna, e o presidente, com a política externa; já houve casos de ambos serem de partidos diferentes, como Jacques Chirac do UMP e Lionel Jospin do PS. O segundo turno foi em 7 de maio, e muito sangue rolou até a vitória final de Macron.

Baixei o vídeo completo sem legendas do próprio canal da campanha de Emmanuel Macron, e cortei apenas uma parte do começo e do fim, pra manter só o essencial. Ouvi e traduzi de cabeça, tendo feito ao mesmo tempo as legendas. Seguem abaixo a legendagem que postei no meu extinto canal do YouTube e a tradução em português:


Meus caros compatriotas!

Hoje, domingo, 23 de abril, o povo da França se expressou. Enquanto nosso país atravessa um momento inédito na história, marcado pelo terrorismo, pelos desafios econômicos, por chagas sociais e pelo drama ecológico, ele reagiu da maneira mais bela: indo às urnas massivamente. Ele decidiu me botar na frente do primeiro turno dessa eleição! Reconheço a honra e a notável responsabilidade que isso me dá.

Esta noite quero saudar aqui os outros candidatos deste turno: Nathalie Arthaud, François Asselineau, Jacques Cheminade, François Fillon, Nicolas Dupont-Aignan, Benoît Hamon, Jean Lassalle, Jean-Luc Mélenchon e Philippe Poutou. Obrigado por terem acabado de aplaudi-los todos e todas. Isso une vocês. Isso une a nós. Sei como estão despontados eles e seus apoiadores. E agradeço a Benoît Hamon e François Fillon por terem chamado a votarem em mim no segundo turno.

A todos os que desde abril de 2016 me acompanharam, criando e dando vida ao En Marche!, esta noite quero dizer umas palavras. Em um ano, mudamos o rosto da vida política francesa. O sentimento profundo, orgânico, milenar que sempre guiou nosso povo, o compromisso com a pátria, a energia pelo interesse coletivo para além das divisões, venceram esta noite. Nunca vou esquecer a vontade obstinada e a energia exigente que milhares de vocês gastaram para que isso acontecesse.

Desde um ano atrás, por toda a França, vocês tomaram sua parte no destino nacional, souberam mostrar que confiar em nosso país não era utópico, inútil ou fantasioso, mas era uma vontade persistente e benévola. Vocês doaram os seus dias. Quando eles não bastavam, vocês doaram as suas noites. Esta noite, meus amigos, sei que devo tudo isso a vocês.

Vocês devem manter esse compromisso vibrante até o fim e ir além. Não desistir nunca, jamais esquecer estes meses durante os quais vocês mudaram o curso de nosso país e abalaram o status quo. Manter-se corajosos e exigentes como estão. Desde já compete a vocês prosseguir nesse caminho.

Esta noite, me comprometo a ir além e unir todos os franceses. Nunca vou ficar longe de vocês. E sempre vou precisar de vocês. Às milhões de francesas e franceses que confiaram em mim esta noite dando seu voto, quero dar meu obrigado. Quero dizer que reconheço o peso disso e esta noite eu sou tomado por uma alegria séria e lúcida. Em nome de vocês, vou levar para o segundo turno desta eleição a exigência do otimismo e a voz da esperança que queremos para nosso país e para a Europa!

Agradeço a meus parentes, ainda vivos ou já falecidos. Ninguém faz nada de bom caso esqueça quem é e de onde veio. A toda minha família e à minha Brigitte, sempre presente, e mais ainda, sem a qual não seria o que sou. A partir de hoje, meus amigos, devo criar uniões ainda mais amplas, reconciliar nossa França para ganhar em 15 dias, e amanhã, para presidir nosso país.

Percebi durante esses últimos meses, e ainda hoje, os receios, a raiva, o medo do povo da França, bem como sua ânsia por mudança. Esta foi o que o levou esta noite a tirar da corrida os dois grandes partidos que governam há mais de 30 anos. Esta noite quero falar a todos os cidadãos da França. Tanto da Metrópole quanto do Ultramar. Sei que vocês esperam.

Desejo em 15 dias tornar-me seu presidente! O presidente de todo o povo da França, o presidente dos patriotas, face à ameaça nacionalista! Um presidente que proteja, que transforme e que construa. Um presidente que permita aos que querem criar, empreender, inovar e trabalhar, fazer tudo isso mais rápido e facilmente. Um presidente que ajude os que têm menos e são mais frágeis ou são perturbados pela vida, por meio da escola, do trabalho, da saúde e da solidariedade.

Ouvi vocês reclamarem por uma verdadeira alternância, pela vitalidade democrática, por cuidados com a ecologia e a economia. Para formar um futuro possível, que tornará a França mais forte, numa Europa que proteja, vou precisar do voto de vocês, vou precisar da confiança de vocês.

Meus caros compatriotas, vou trabalhar nos próximos 15 dias para que juntos possamos reunir o máximo de pessoas em torno de minha candidatura. A força dessa união será determinante para presidir e para governar. A partir desta noite, o desafio não será ir votar contra quem quer que seja. O desafio será decidir romper até o fim com o sistema que não soube reagir aos problemas do país em mais de 30 anos. O desafio será abrir uma nova página de nossa vida política e agir para que cada um, com justiça e eficácia, possa achar seu lugar na França e na Europa! Esse é nosso desafio!

Meus caros compatriotas, é por isso que quero construir desde já uma maioria de governo e de transformação nova. Ela será feita de novos rostos, de novos talentos. Cada uma e cada um pode ter aí seu lugar. Não vou perguntar àqueles que me acompanharem de onde vêm, mas se concordam em renovar nossa vida política, em garantir a segurança dos franceses, em livrar o trabalho, em refundar a escola, em deixar cada um progredir na sociedade, donde quer que venha, e relançar a construção europeia!

Assumam já esta noite a parte de risco que lhes cabe para me seguirem, assim como à maioria parlamentar que vou construir a partir de amanhã!

Meus caros concidadãos, vocês conseguiram! Vocês nos conduziram! Vocês provaram que em nosso país nada era impossível de mudar! Vocês são esse rosto da renovação! Vocês são esse rosto da esperança francesa, a qual em 15 dias vou levar à vitória!

Meus caros concidadãos! Não há várias Franças. Há apenas uma, a França, a nossa, a França dos patriotas, numa Europa que protege e a qual teremos que refundar. A tarefa será imensa. Ao lado de vocês, estou pronto a enfrentá-la. O combate sobre quem merece conduzir nosso país começa esta noite. E vamos ganhá-lo!

Viva a República!

Viva a França!