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No começo do ano, eu estava procurando os votos de feliz 2018 feitos por Emmanuel Macron (França) e Vladimir Putin (Rússia), mas por acaso achei também as felicitações de outros dois chefes de Estado falando em russo: Aleksandr Lukashenko (Belarus) e Nursultan Nazarbayev (Cazaquistão). Baixei os quatro, mas decidi legendar antes os dois últimos, pois a um(a) brasileiro(a) parecem material interessante e inusitado. Neste vídeo, o líder belarusso fala apenas na língua russa, majoritária em seu país, enquanto o presidente cazaque falou primeiro na língua local, e depois em russo. Eu mesmo traduzi o texto e adaptei enquanto legendava.
Lukashenko reconhece que Belarus está passando por graves problemas econômicos, mas põe fé nas reformas recém-iniciadas e pede pra população, de todas as idades e profissões, colaborar na volta do crescimento. Ele elogia todas as categorias de trabalhadores, aponta o capital humano como o principal patrimônio nacional e exige do povo manter-se unido e pôr a casa em ordem. É que pra 2019, como ele cita, a capital Minsk foi escolhida como sede dos Jogos Europeus, uma espécie de Olimpíada regional que inclui também a Turquia e os países do Cáucaso. A primeira sede, em 2015, foi justamente Baku, capital da antiga república soviética do Azerbaijão.
De fato, os três países que compõem o espaço eslavo oriental (Rússia, Ucrânia e Belarus) tiveram em 2017 uma queda em seu IDH, segundo dados de 2015, alinhando-se a nações em situação de guerra ou catástrofe política, como Venezuela, Iêmen, Síria, Líbia, Sudão do Sul e Suriname. Não são poucos os analistas que comentam a piora do nível de vida russo há meses consecutivos, certamente por conta das sanções econômicas ocidentais e da queda do preço internacional do petróleo, grande responsável pelas exportações de Putin. Mas acredito que outro fator seja o crescente gasto militar, com sua intervenção no leste ucraniano e a anexação da Crimeia, que até a população da Rússia vê como um ralo de dinheiro.
Na Ucrânia, não preciso mencionar a guerra civil e o caos político, mas creio que as medidas “pró-Europa” de Poroshenko só estão gerando uma austeridade empobrecedora. Esse país, como Belarus, também depende muito da economia russa, então se esta cai, muitos vizinhos tombam. A Moldávia foi outro país, já muito pobre, cujo IDH piorou em 2017. O do Brasil congelou, não subiu nem caiu. Tanto na Rússia quanto em Belarus houve recentes protestos contra o autoritarismo e a carestia de vida, mas os governos os reprimiram duramente.
Embora a língua belarussa seja oficial em Belarus e boa parte da população seja bilíngue, o idioma predominante nos centros urbanos, Estado e negócios é o russo, no qual se pronunciou Aleksandr Lukashenko (em belarusso, Aliaksandr Lukashenka) ao findar 2017. O belarusso é uma língua linda, mas considerada provinciana, típica das zonas rurais ou interioranas, onde também se falam por vezes misturas idiomáticas. Certa vez, Iryna Tumilovich me disse que Lukashenko falava com forte sotaque belarusso, mas não acreditei, porque parecia muito nativo. Mas quando estudei a fundo as fonéticas do russo e do belarusso, percebi o quanto a fonética deste influenciava a pronúncia daquele, ou seja, a um ouvido estudado, o discurso de Lukashenko soa com forte sotaque.
Em breve, pretendo legendar também a parte russa do discurso do cazaque Nazarbayev. Em seu país, que também é muito imbricado à Rússia e tem uma vasta imigração daí, a língua russa exerce forte influência e tem uso na política, ciência e cultura, às vezes até gerando discriminações. Não vou legendar agora os de Putin e Macron pra 2017-18, pois minha intenção é criar playlists específicas pros votos dos presidentes da França (desde 1994) e da Rússia (desde 2000), começando pelo mais antigo. O discurso sem legendas, lançado por uma agência de notícias belarussa, está nesta página, e o mesmo serviço fornece também o texto em russo, a partir do qual eu traduzi. Seguem abaixo a legendagem, que postei no meu antigo canal do YouTube, e a tradução em português, paragrafada segundo o original e sem as adaptações feitas pras legendas:
Caros amigos!
Parece que não, mas está começando confiante e irreversível o Ano Novo de 2018. Nestes minutos percebemos bem como o tempo voa rápido.
Sim, a principal distinção de nosso tempo é seu correr impetuoso. Andar devagar equivale hoje a parar, e deter-se significa andar para trás. Constantemente corremos para algum lugar, devemos alcançar muita coisa para vislumbrar à frente aquele resultado desejado.
Entretanto, na agitada corrente desta vida, às vezes também é preciso desacelerar, mesmo por um instante, para olhar, avaliar, refletir sobre o que importa e dizer palavras boas.
Os últimos minutos do ano são exatamente esse instante. Agora que falta muito pouco para o relógio bater, lembramos o principal, pensamos no futuro.
No ano que passou, tomamos medidas decisivas para aperfeiçoar a economia, o que traz inevitável mudança em nossa sociedade. Arriscamos olhar além do horizonte, colocamos diante do país metas para o amanhã. Atingi-las levará muitos anos!
Quanto a isso, apelo à juventude: inovem, inventem! Todas as portas lhe estão abertas! É dever de vocês tomar essa altura muitíssimo difícil. O futuro do país é de vocês!
E não adianta, geração mais velha, pensarem em quietude. Agora é que precisamos de vocês, de sua experiência, conhecimento, sabedoria. São vocês que devem ajudar os jovens no complexo processo de avanços, protegê-los do esforço infundado em realizar tudo num segundo, do perigo de apartar-se da vida real e esbanjar o tempo com futilidades.
Cada dia agora é precioso para o trabalho construtivo. À nossa frente estão muitas tarefas graves em todas as esferas da vida do país.
E o próximo ano será a véspera de grandes eventos esportivos de alcance internacional. Nós acolheremos milhares de hóspedes. E como autênticos senhores da terra belarussa, vamos nos unir e pôr nosso lar comum na devida ordem.
Pois Belarus sempre foi famosa pela limpeza, pela comodidade das cidades e vilas, pela hospitalidade do povo. Mas agora precisamos superar a nós mesmos, tornar exemplar o país. Cada hóspede deverá muito tempo guardar na alma boas lembranças dele. Temos que poder nos orgulhar ainda mais de nossa Pátria, arrumada, gostosa de viver, amigável e estimada no mundo.
E foi por esse país, livre e independente, que nossos avós lutaram, para sermos, vivendo nesta terra, seus verdadeiros senhores.
Continuidade, respeito aos méritos de cada pessoa, igualdade e justiça são os princípios básicos de nosso Estado.
Belarus é um país voltado para o futuro! A base de nosso desenvolvimento é a alta tecnologia, a ciência. É isso! Mas sempre será exigido o labor do operário e do camponês. Graças a seus esforços, estamos hoje sentados numa rica mesa festiva.
Caros amigos!
O maior patrimônio da terra belarussa foram e são as pessoas. Por trás de toda conquista estão vocês, inteligentes, talentosos, obstinados:
que lutam diariamente pela vida e saúde de cada paciente;
que velam pela lei e pela ordem, defendem as fronteiras, garantem a defesa e segurança de nosso país, guarnecem postos estatais;
que trabalham na mineração, indústria, construção civil ou agricultura;
que educam e criam as crianças, instruem com êxito nos ensinos básico e superior, fazem a ciência avançar;
que enaltecem a Pátria com sucessos artísticos ou esportivos.
Felicito em especial os que passam o Ano Novo não na mesa familiar, mas no local de trabalho. Que esta noite seja para vocês tranquila e festiva.
Caros amigos!
Dentro de poucos segundos abriremos um novo capítulo de nossas vidas. As próximas 365 páginas ainda estão em branco. E o que será inscrito em nossa história depende de cada um de nós.
Desejo de todo coração que este novo ano seja de paz, sucesso e prosperidade.
Tenham sentimentos generosos, deem a seus parentes e próximos o mais valoroso: coração caloroso, atenção e cuidados. E que seus lares se encham com a luz do amor e do bem!
Felicidades, caros amigos!
Feliz Ano Novo, Belarus!
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