sábado, 22 de janeiro de 2022

Por que Rússia não invadirá Ucrânia?


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(Nota, 27/2/2022: Sim, a Ucrânia foi invadida. Sim, o exército ucraniano está resistindo bravamente. Porém, as notas aqui expostas, como também podemos ver bem pelo desenrolar dos fatos, continuam muito válidas no que concerne ao passo em falso que Putin deu ao tomar essa decisão, e às péssimas consequências que ela terá pro futuro da Rússia.)

Na edição de 19 de janeiro de 2022, um dos telejornais do canal privado francês TV5 Monde trouxe, como de praxe, uma crônica de Slimane Zeghidour, cientista político e escritor nascido na Argélia. Ele explica por que é praticamente improvável que a Rússia invada a Ucrânia pelo leste, como estão apregoando vários meios de comunicação brasileiros. Esta minha tradução do francês não tem por objetivo defender Putin, mas trazer um contraponto à nossa mídia vira-lata que quase toda só papagueia o que diz os EUA:

Mohamed Kaci: Essa novela não tem mais fim e já está durando semanas, na verdade meses. Então, sim ou não, existe um risco da Rússia invadir seu vizinho ucraniano?

Slimane Zeghidour: Logicamente, nenhum. Por quê? Por que a Rússia não tem necessidade de invadir a Ucrânia. Olhe pro mapa: a Rússia está direta e concretamente presente na Ucrânia. Primeiro, de todos os 44 milhões de ucranianos, praticamente oito milhões são russos ou se sentem russos.

Olhe pra parte laranja a leste do país: Lugansk e Donetsk. Essa parte é o Donbass, é a bacia mineira do Donbass. Ela é majoritariamente russa, e a população russa e que fala russo criou duas repúblicas: a República de Lugansk e a de Donetsk, que são repúblicas fantoches, que não são reconhecidas por nenhum Estado, assim como a República do Norte do Chipre, turca, ou a do Nagorno-Karabakh. Mas elas existem, e além disso quase dez por cento da população ucraniana está nessa zona laranja. E ainda por cima a Rússia já lhe distribuiu quase um milhão de passaportes.

Assim, temos pessoas que falam russo, que querem se juntar de novo à Rússia, que não querem mais viver na Ucrânia e que agora têm passaportes russos. Portanto, por que a Rússia correria o risco de realizar uma invasão militar em pleno coração da Europa?


Mohamed Kaci: Ce feuilleton n’en finit pas et dure depuis des semaines, voire des mois. Alors, oui ou non, y a-t-il un risque que la Russie envahisse son voisin ukrainien ?

Slimane Zeghidour: Logiquement, aucun. Pourquoi ? Parce que ce n’est pas nécessaire pour la Russie d’envahir l’Ukraine. Regardez sur la carte : la Russie est-elle directement et concrètement présente en Ukraine. D’abord, pratiquement 8 [huit] millions d’Ukrainiens sur les 44 [quarante-quatre] millions sont Russes ou se sentent Russes.

Regardez la partie orange à l’est du pays : Lougansk et Donetsk. Cette partie, c’est le Donbass, c’est le bassin minier du Donbass. Il est majoritairement russe et la population russe et russophone a créé deux républiques : la République de Lougansk et celle de Donetsk, qui sont des républiques fantoches, qui ne sont reconnues par aucun État, à l’instar de la République Chipre Nord, turque, ou du Haut-Karabakh. Mais elles sont là, et en plus de cela, à peu près dix pour cent de la population ukrainienne est dans cette zone orange. Et la Russie en plus l’aura distribué presque un million de passeports.

Donc, on a des gens qui sont russophones, qui veulent être rattachées à la Russie, qui ne veulent plus vivre en Ukraine et qui ont maintenant des passeports russes. Alors, pourquoi la Russie prendrait-elle le risque de faire une invasion militaire en plein cœur de l’Europe ?