domingo, 15 de novembro de 2015

Hollande repudia ataques em Paris


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François Hollande, presidente da França, fez um discurso no dia seguinte aos atentados que atingiram Paris em 13 de novembro de 2015. À noite, atiradores islâmicos em vários pontos da capital haviam assassinado dezenas de pessoas, a maior parte delas na casa de shows Bataclan, onde se apresentava uma banda musical norte-americana, e outras próximo ao Stade de France, onde ocorria um jogo entre França e Alemanha.

O presidente Hollande repudiou com força os ataques jihadistas, atribuindo-os ao grupo Daesh e prometendo desbaratá-lo onde quer que fosse. Até o momento, diz, haviam sido contadas 127 vítimas fatais e muitíssimos feridos, a França estava em estado de choque e as famílias dos mortos, transtornadas. Como na ocasião do atentado ao Charlie Hebdo em janeiro, Hollande pediu que toda a população se unisse, afirmou terem sido tomadas todas as medidas de segurança e anunciou uma coalizão internacional para combater a onda terrorista em ascensão naqueles dias.

O Estado Islâmico, também conhecido como ISIS, estava ultimamente intensificando seus atentados ao redor do mundo, e a França havia se engajado ainda mais no combate armado ao grupo. Logo após o tiroteio, Hollande também decretou o fechamento das fronteiras do país (o primeiro desde 1944), num momento em que centenas de milhares de imigrantes fugiam do Oriente Médio e do Norte da África para a Europa justamente por conta da intensa guerra entre os terroristas e os exércitos ocidentais e locais.

Qual será o próximo capítulo dessa novela? A xenofobia vai aumentar no Velho Continente e o fluxo imigratório será bloqueado? A Rússia, que já vinha bombardeando alvos do Estado Islâmico na Síria, vai finalmente começar a colaborar com os Estados Unidos e a União Europeia? Ou a França, como os EUA durante o governo George W. Bush, vai se tornar novo destino de atentados e instalar um Estado de paranoia e cerceamento?

Eu legendei o vídeo em português pouco após ele ter sido posto no ar em francês, tendo baixado sem legendas do canal francês BFMTV. Este discurso não tinha uma versão escrita nem mesmo no site do Élysée, e ao contrário de outras legendagens, fiz os trabalhos de escuta, tradução e inserção ao mesmo tempo na manhã mesma do pronunciamento. Abaixo do vídeo, uma transcrição adaptada em francês e uma tradução mais bem elaborada:



Mes chers compatriotes,

Ce qui s’est produit hier à Paris et à Saint-Denis, près du Stade de France, c’est un acte de guerre. Et face à la guerre, le pays doit prendre les décisions appropriées. C’est un acte de guerre qui a été commis par une armée terroriste, Daesh, une armée jihadiste, contre la France, contre les valeurs que nous défendons partout dans le monde, contre ce que nous sommes : un pays libre qui parle à l’ensemble de la planète.

C’est un acte de guerre qui a été preparé, organisé, planifié de l’extérieur et avec des complicités intérieures que l’enquête permettra d’établir. C’est un acte d’une barbarie absolue : à cet instant, 127 morts et de nombreux blessés. Les familles sont dans le chagrin, la détresse. Le pays est dans la peine, et j’ai pris un décret pour proclamer le deuil national pour trois jours.

Toutes les mesures pour protéger nos concitoyens et notre territoire sont prises dans le cadre de l’état d’urgence. Les forces de sécurité intérieure et l’Armée, auxquelles je rends hommage, notamment pour l’action qui s’est produite hier et qui a permis de neutraliser les terroristes, elles sont donc mobilisées au plus haut niveau de leurs possibilités. Et j’ai veillé à ce que tous les dispositifs soient renforcés à l’échelle maximale. Des militaires patrouilleront en plein Paris tout au long de ces prochains jours.

La France, parce qu’elle a été agressée lâchement, honteusement, violamment, elle sera impitoyable à l’égard des barbares de Daesh. Elle agira avec tous les moyens dans le cadre du droit, et tous les moyens qui conviennent, et sur tous les terrains, intérieurs comme extérieurs, en concertation avec nos alliés qui eux-mêmes sont visés par cette menace terroriste. Dans cette période si douloureuse, si grave, si décisive pour notre pays, je l’appelle à l’unité, au rassemblement, au sang-froid, et je m’adresserai au Parlement réuni en Congrès à Versailles lundi pour rassembler la nation dans cette épreuve.

La France est forte, et même si elle peut être blessée, elle se lève toujours, et rien ne pourra l’atteindre, même si le chagrin nous assaille. La France, elle est solide, elle est active, elle est vaillante, et elle triomphera de la barbarie : l’histoire nous le rappelle, et la force que nous sommes capables aujourd’hui de mobiliser nous en convainc.

Mes chers compatriotes,

Ce que nous défendons, c’est notre patrie, mais c’est bien plus que cela : ce sont les valeurs d’humanité, et la France saura prendre ses responsabilités, et je vous appelle à cette unité indispensable.

Vive la République et vive la France !

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Meus caros compatriotas,

O que ocorreu ontem em Paris e em Saint-Denis, perto do Stade de France, foi um ato de guerra. E diante da guerra, o país deve tomar as decisões apropriadas. Foi um ato de guerra cometido por um exército terrorista, o Daesh, (1) um exército jihadista, contra a França, contra os valores que defendemos no mundo inteiro e contra o que somos: um país livre que fala ao planeta em conjunto.

Foi um ato de guerra preparado, organizado e planejado a partir do exterior, com cúmplices internos que a investigação nos permitirá descobrir. Foi um ato absolutamente bárbaro: neste momento, 127 mortos e inúmeros feridos. As famílias estão tristes, angustiadas. O país está sofrendo, e sancionei um decreto para instituir três dias de luto nacional.

Todas as medidas para proteger nossos concidadãos e nosso território foram tomadas no quadro do estado de emergência. As forças de segurança interna e o Exército, os quais homenageio especialmente pela ação que ocorreu ontem e permitiu neutralizar os terroristas, estão, pois, mobilizados ao nível mais alto de suas possibilidades. E cuidei para que todos os dispositivos fossem reforçados à escala máxima. Militares patrulharão no meio de Paris por todos esses próximos dias.

A França, por ter sido agredida covardemente, vergonhosamente, violentamente, será impiedosa para com os bárbaros do Daesh. Agirá com todos os meios nos limites do direito, os meios que convierem, e em todo território interior e exterior, em acordo com nossos aliados que também são visados por essa ameaça terrorista. Nesse período tão doloroso, tão grave e tão decisivo para nosso país, eu o chamo à unidade, à união e ao sangue-frio, e falarei ao Parlamento, reunido em Congresso em Versalhes (2) na segunda-feira para congregar a nação em provação.

A França é forte, e mesmo podendo ser ferida, sempre se reergue, e nada poderá atingi-la, mesmo se a tristeza nos atormenta. A França é sólida, é ativa, é valente, e triunfará sobre a barbárie: a história o relembra para nós, e a força que hoje somos capazes de mobilizar nos convence disso.

Meus caros compatriotas,

O que defendemos é nossa pátria, mas muito além disso, são os valores de humanidade. A França saberá arcar com suas responsabilidades, e eu chamo vocês a essa unidade indispensável.

Viva a República e viva a França!


Notas do tradutor
(Clique no número para voltar ao texto)

(1) “Daesh” em inglês, ou “Daech” em francês, é um acrônimo de origem árabe que designa o Estado Islâmico. É o termo preferido por seus inimigos, escondendo as palavras “Estado” e “islâmico”, pois o grupo não seria nem um Estado constituído, nem seguidor do “verdadeiro” islã. Alguns estadistas ocidentais e agências de notícias, porém, o evitam por considerarem-no “ideológico” e parecido com palavras árabes que denotam “esmagadores” e “desestabilizadores”, associação considerada favorável aos terroristas. Quem evita “Daesh” prefere usar “organização/grupo Estado Islâmico” ou “o assim chamado Estado Islâmico”.

(2) Trata-se do Congresso do Parlamento Francês (Congrès du Parlement français), ocasião em que se reúnem as duas câmaras parlamentares (Assembleia Nacional e Senado) na Sala do Congresso do Palácio de Versalhes para votar uma revisão constitucional, ouvir uma declaração do Presidente da República ou autorizar a adesão de um Estado à União Europeia. O Congresso de 16 de novembro de 2015 seria o segundo destinado a uma declaração presidencial, tendo sido o primeiro em 22 de junho de 2009 sob Nicolas Sarkozy.



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