O Hino Nacional Mexicano se fixou em 1943, mas a letra de Francisco González Bocanegra (1824-1861) é de 1853, e a melodia de Jaime Nunó Roca (1824-1908), de 1854. Embora fosse usado desde então, adotou-se apenas por decreto do presidente Manuel Ávila Camacho (1897-1955), que governou em 1940-46 e reverteu traços socializantes e anticlericais da Revolução Mexicana. Também chamado Mexicanos, al grito de guerra (a primeira estrofe), o texto grande tem refrão e 10 estrofes, mas hoje só se cantam as estrofes 1, 5, 6 e 10.
O Hino Nacional Mexicano é um dos três símbolos pátrios, junto com a bandeira e o brasão, e desde 1984 o uso é regulado por secretaria especial. Nesse ano, também se fixaram as quatro estrofes correntes, tendo Ávila Camacho já mandado cortar em 1943. Contudo, ainda se publicaram então todas as 10 estrofes, e houve a redução porque o poema aludia a Antonio López de Santa Anna (1794-1876), ditador do México na época da composição. Político controverso, o militar Santa Anna ocupou a presidência várias vezes, em horas pontuais de crise política e econômica, foi ditador e teve outros cargos.
Nos primeiros anos após a independência (1821), a adoção de um hino nacional não foi preocupação dos nacionalistas mexicanos. Os presidentes e vice-presidentes mandavam tocar em eventos oficiais marchas e melodias que fossem do próprio agrado. Nos anos de 1840, fizeram-se várias propostas informais e concursos de escolha, mas nenhum texto obtinha sucesso geral, num clima de derrota e desonra após a guerra contra os EUA de 1846 a 1848. O país perdeu então metade de seu território, e diz-se que a indignação teria sido um dos motivos do ditador Santa Anna ter chamado novo concurso. Finda a ditadura, os sucessores imediatos recusaram o novo hino, e os autores caíram no anonimato, mas aos poucos entrou no gosto popular.
Ao mesmo tempo, outras canções serviam de hino nacional, inclusive satíricas, enquanto os liberais da metade do século 19 preferiam A Marselhesa. Porém, Mexicanos, al grito de guerra gradualmente se firmou nos arroubos patrióticos, e já durante a revolução de 1910 era chamado Hino Nacional Mexicano, mesmo não oficial. Na década de 1900, inclusive, Nunó Roca (então cidadão dos EUA vivendo em Nova York) e os descendentes de González Bocanegra receberam tardia compensação financeira. Após polêmicas sobre direitos autorais, a composição passou a domínio público em 2008, mas muitos ainda criticam o tom bélico demais ou o suposto caráter de direita (por ter surgido sob o odiado Santa Anna). Mesmo assim, volta e meia a mídia afirma, sem provar com fatos, que o hino nacional do México seria considerado um dos mais belos do mundo.
O poema do hino foi traduzido pra diversas línguas indígenas locais, mas apenas algumas versões foram sancionadas pelo governo. Desde 2005 seu ensino em todos os níveis escolares é obrigatório, e por isso um concurso anual escolhe a melhor interpretação por corais infantis. Eu baixei o vídeo sem legendas do canal do coral que venceu o 31.º concurso em 2013, e nesta página há outra bela montagem legendada em espanhol e inglês. E apesar do áudio ruim, vocês podem conhecer ainda, com legendas em espanhol, a versão original de 10 estrofes. Eu mesmo traduzi direto do espanhol e legendei: a tradução não é literal, pois a linguagem do poema é muito formal e arcaica, e muitos termos são usados em sentido figurado. Seguem a legendagem, o texto em espanhol e a tradução:
Estribillo: 1. Ciña ¡Oh Patria! tus sienes de oliva (Estribillo) 2. ¡Guerra, guerra sin tregua al que intente (Estribillo) 3. Antes, Patria, que inermes tus hijos (Estribillo) 4. ¡Patria! ¡Patria! tus hijos te juran (Estribillo) ____________________ Refrão: Mexicanos, ao grito de guerra Preparem a espada e o cavalo; E que o centro da terra tremule Sob o rugido sonoro do canhão, E que o centro da terra tremule Sob o rugido sonoro do canhão. 1. O arcanjo divino da paz ponha (Refrão) 2. Muita guerra cruel a quem tentar (Refrão) 3. Antes que seus filhos desarmados (Refrão) 4. Ó Pátria, seus filhos lhe juram (Refrão) |
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