Em 2020 ou 2021 selecionei e postei no antigo Pan-Eslavo Brasil (YouTube) um trecho do discurso de posse de Alberto Fernández, atual presidente da Argentina, pra comparar com a atitude escrota de Jair Bolsonaro, que sequer cumprimentou ou desejou ir a sua posse, após ter sido eleito no fim de 2019. Na cordialidade de seu discurso inaugural, o peronista e eunuco citou o nome inteiro da “República Federativa do Brasil” pra aludir a uma futura colaboração criativa em vários domínios científicos e econômicos.
Minha impressão na época era: ninguém é obrigado a gostar do Partido Justicialista, muito menos da vice-presidente Cristina Kirchner, essa sim uma corrupta arrogante e cínica. Mas o próprio Fernández, apesar de escorregar no quiabo com a intromissão na causa do “Lula Livre”, parece um político bem razoável, destoa um pouco do kirchnerismo tradicional e tem tido aprovada sua atitude perante a pandemia da covid-19, mesmo pela oposição. Agora em maio de 2023, o que pude contastar é que em boa parte das iniciativas seu governo vai acabar em fiasco: alta mortalidade na pandemia, inflação e cotação do dólar nas alturas, seca nas grandes plantações, violência em alta, briga com o FMI, apelo por uma ajuda do Brasil (agora com o PT de volta do poder) e descrédito por parte do povo.
Resultado: há alguns dias, ele anunciou que sequer vai tentar a reeleição nas eleições deste ano, e ainda não sabemos quem pode o substituir. Apesar de também ter falhado em quase tudo, o direitista Mauricio Macri, ex-prefeito de Buenos Aires e antecessor de Fernández, pode ter alguma chance de voltar à Casa Rosada. Em todo caso, desde os primeiros tempos de Juan Domingo Perón, a Argentina parece ter se tornado um poço sem fundo e um abacaxi irresolvível, de forma que todo seu brilho de potência austral no início do século 20 ficou no passado. Ainda por cima, ficou conhecido por gafes e falas impensadas: em 2021, tendo se confundido entre poetas e cantores, causou polêmica ao dizer num discurso: “Os mexicanos vieram dos índios, os brasileiros saíram da selva, mas nós os argentinos, chegamos de barcos.” Em outra ocasião, trocou o nome da revista Garganta Poderosa, em que trabalhava um amigo seu, por Garganta profunda, um famoso filme pornô de 1972.
Eu nem sei por quê, mas a cara do general Mourão me deu vontade de colocar a abertura desta bela polca paraguaia ao fundo, com o andamento reduzido, rs. O discurso completo do Doutor Chapatín de Alberto Fernández foi pronunciado em 10 de dezembro de 2019 na presença da vice Kirchner e do antecessor Macri. O essencial do texto em português (que mudei pouco) eu tirei do site do PT, que disponibilizou uma tradução integral, e também se pode ler numa página argentina todo o texto em espanhol.
Seguem os referidos trechos nas duas línguas:
“Con la República Federativa del Brasil, particularmente, tenemos para construir una agenda ambiciosa, innovadora y creativa, en lo tecnológico, productivo y estratégico, que esté respaldada por la hermandad histórica de nuestros Pueblos y que va más allá de cualquier diferencia personal de quienes gobiernan la coyuntura. La vamos a honrar, vamos a avanzar juntos en la construcción de un futuro de progreso compartido.”
“Com a República Federal [sic] do Brasil, em particular, temos que construir uma agenda ambiciosa, inovadora e criativa, na área tecnológica, produtiva e estratégica, apoiada pela irmandade histórica de nossos povos e que vá além de qualquer diferença pessoal daqueles que governam a conjuntura. Vamos honrá-la, avançaremos juntos na construção de um futuro de progresso compartilhado.)
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