domingo, 18 de maio de 2025

Eu, poetinha: sonetos de 2005 (2)


Endereço curto: fishuk.cc/eupoeta2

A primeira vez em que publiquei sonetos inéditos escritos no ano de 2005 (eu tinha 17 anos) foi ainda em agosto de 2018, achando-os menos “bregas” (hoje se diria “cringe”) por eu os ter escrito como atividade de Português. No final de 2004, durante o ano de 2005 e ocasionalmente em anos posteriores, tive “surtos líricos” em que escrevi diversos sonetos relativos aos temas mais díspares e prosaicos: tratava-se tanto de dar vazão a uma criatividade contida quanto de praticar a versificação e aspectos linguísticos a ela ligados. Ao mesmo tempo, enquanto menino de poucos namoros, eu parecia idealizar encontros e relações amorosos...

Alguns realmente terminei jogando fora, mas outros guardei digitalizados, e os que restaram aparecem aqui hoje. Realmente, devido à pieguice da linguagem e à estranheza dos temas, tive vergonha de os expor até agora, mas preciso fazer você rir um pouco! Em cada soneto, o ritmo da métrica é constante, mas talvez a escolha de fazer algumas ligações, elisões ou reduções possa não ter sido feliz. Amanhã vou publicar outros que fiz pra escola, além de “haicais” (ou “haikus”, micropoemas de origem japonesa com três linhas) pra mesma ocasião: esses, sim, ficaram legais. Atualizei a ortografia, mas não fiz nenhuma alteração na redação e no conteúdo:


Soneto aos sotaques brasileiros (29/4/2005)

Os falares do Brasil são diversos
E as palavras são muito diferentes.
As pronúncias, variadas entre as gentes,
Não podem ser descritas nestes versos.

O “tchê” e o “uai”, para mim, são congruentes:
Semanticamente, não são diversos.
O “mano” e o “cabra” se encontram imersos
Até nas bocas dos inteligentes.

Sendo puxada para o italiano,
Baseada no espanhol ou no holandês,
A fala muda, tal como um cigano.

Seja praticada pelo cortês,
Seja modificada pelo insano,
Quão rico é o idioma português!

____________________


Soneto à má distribuição
demográfica brasileira
(25/4/2005)

Um Brasil Central vazio, sem população,
E muita gente e pobreza no litoral:
É um problema que tomou dimensão formal
E que, com muito trabalho, tem solução.

Deslocar ao centro aquele que não é mau:
Trabalho em ferrovia e pavimentação
Para trazer a soja e toda produção
Do Norte, das chapadas e do Pantanal.

Rios como vias de transporte aproveitadas,
Urbanização onde ocupar é possível:
Famílias em novos serviços empregadas.

Ocupações que melhorem da vida o nível
São a chave para o sucesso de empreitadas
Que visem redistribuir um povo incrível.

____________________


Soneto ao amor de mulher (31/5/2005)

As mãos que ternamente acariciam
Meus braços, meus cabelos e meu peito,
Agarram-me e seguram-me de jeito
Para viver as noites que aliciam.

Meu corpo também é seu de direito
E o seu é meu, pois minhas mãos o amaciam
E, enquanto meus pulmões mágoas tossiam,
Dava-me a cura: desfrutes no leito.

Seu coração repleto de verdades
É fogareiro aceso que me esquenta
Sem ver nossa diferença de idades.

Seu beijo é lança que arrebenta
Todas as minhas insalubridades
E todos meus dizeres acalenta.

____________________


Soneto ao uso da energia nuclear (1/6/2005)
(inspirado pelo workshop de bomba atômica, rs)

Núcleos são o problema do momento,
Pois fala-se sobre suas consequências
Durante o uso sem interferências
Para a geradores dar movimento.

Seu emprego já gerou displicências,
O que para muitos foi um lamento,
Porque suas radiações são um tormento
E preocupam as cabeças das potências.

Creio que o Brasil não precisa disso
Por possuirmos coisas alternativas,
Como um sistema de rios movediço.

Eu não sou contra suas forças altivas,
Mas se um dia houver uso mais maciço,
Controlemos suas partes destrutivas!

____________________


Amor em Arcádia (31/7/2005)

Ao raiar dos olhos lacrimejantes,
A moça sobre a grama, mãos no rosto.
“Bela, qual a razão de teu desgosto?”,
Pergunto-lhe, sem que ela me visse antes.

“Choro pelo castigo a mim imposto
De viver sobre os campos verdejantes
Sozinha, à mercê dos ventos cortantes”,
Responde, doce, um pouco a contragosto.

“Não mais desprezada estás, ficarei,
Ó, dona destes lábios que murmuram
Méis e néctares para o meu frescor.”

“Por isso, em meu peito te guardarei,
Ó, pastor dos prados limpos que asseguram
Momentos naturais ao nosso amor.”

____________________


Soneto de Natal (24/12/2005)

O Verbo de Deus se fez carne e habitou
Entre os viventes que a Ele próprio mataram,
Aquele que, ao aparecer, anjos louvaram
E, ao falecer, em três dias ressuscitou.

Ave à Mulher que, na gravidez, rejeitaram,
A quem o Anjo a gerar o Senhor incitou,
Cujo ventre o Espirito Santo fitou
E fez nascer o Homem-Deus que profetizaram.

Salve, Belém, cidade santa, manjedoura
Sobre a qual nasceu o Profeta Salvador,
Arauto da prosperidade duradoura.

Ao Nascido, meio mundo dá seu louvor
E agarra os dedos de Sua mão acolhedora
Em busca do verdadeiro divino amor.

____________________


Soneto de Dia de Ano (1/1/2006)

Um ano vai-se para dar lugar
A mares de promessas e pedidos
A ser por divindades atendidos,
Agentes da vivência salutar.

Então, mais nos tornamos aguerridos,
Com forças e vontade de lutar
Por tudo o que se preste a melhorar
As sinas nossa e dos irmãos sofridos.

Mais uma cachoeira de esperança,
Depósito das oportunidades,
Presente dos que esperam por bonança.

Os sonhos verterão realidades
A quem não se debate nem se cansa
Até diante de adversidades.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe suas impressões, mas não perca a gentileza nem o senso de utilidade! Tomo a liberdade de apagar comentários mentirosos, xenofóbicos, fora do tema ou cujo objetivo é me ofender pessoalmente.