segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Estoicismo no lugar das religiões?


Endereço curto: fishuk.cc/estoicos-folha

Tenho evitado republicar artigos de grandes veículos de mídia, mas como compartilhei uma cópia adaptada pra contatos no WhatsApp, desta vez decidi trazer este aqui. Em texto publicado na Folha de S. Paulo em 13 de dezembro de 2025, Hélio Schwartsman comenta o livro Stoic Stories (Histórias estoicas), do psiquiatra, filósofo, escritor e educador britânico Neel Burton. Ele argumenta que a recuperação da filosofia estoica poderia, de alguma forma, suprir (com uma nova ética?) o vazio deixado pelo recuo das religiões no Ocidente.

Sinceramente, isso me parece mais uma “modinha” que logo vai ser deixada de lado em prol da primeira tábua que as mentes desorientadas encontrarem no mar. Veja o caso do neoateísmo no início da década de 2010, por exemplo, que recuou como movimento porque não conseguiu se organizar de forma atraente, coerente e consciente: até a tentativa do filósofo francês Alain de Botton de fundar “templos ateus” deve ter ido pro saco por falta de quórum... Sem mais, seguem o artigo e a ilustração original:



- Livro Histórias estoicas traça retrato do estoicismo através de episódios da vida de personagens como Cícero, Sêneca e Marco Aurélio
- Movimento estoico pode preencher vácuo deixado pelo esvaziamento de religiões em certos meios no Ocidente

A religião grega era essencialmente ritualística. Estipulava quantos bois você precisaria sacrificar para qual deus, mas não dizia muito sobre como cada um de nós deveria se comportar ou reagir aos acontecimentos da vida. Para isso, era necessário recorrer a filosofias.

E filosofias não eram um gênero escasso na Grécia Antiga. Só de Sócrates brotaram várias escolas de pensamento. Seu sucessor mais célebre é Platão, que fundou a Academia, onde estudou ninguém menos do que Aristóteles, criador do Liceu.

Mas de Sócrates também vieram Antístenes e a tradição ascética, que redundaria no cinismo, e Aristipo, fundador da escola cirenaica, que defendia um hedonismo muito mais radical do que o de Epicuro, que acabou carregando, injustificadamente, a má fama da busca pelos prazeres.

Entre esses dois extremos, temos uma miríade de tradições filosóficas também tributárias de Sócrates, com destaque para o ceticismo e o estoicismo. Este último alcançou enorme sucesso em Roma, onde acabou se tornando quase que a filosofia oficial das elites do império. Um dos imperadores, Marco Aurélio, é também um importante autor estoico.

Stoic Stories, do prolífico Neel Burton (já comentei outro livro dele aqui), faz essa genealogia e compõe uma boa história do estoicismo e sua busca pela ataraxia, a quietude da alma, através de episódios da vida de personagens como Zenão de Cítio, Catão, Cícero, Sêneca, Epicteto e outros, inclusive figuras míticas como Hércules e Creusa.

O estoicismo foi perdendo tração à medida que encontrou um competidor no cristianismo, um pacote que já combinava religião com filosofia. Mas isso não quer dizer que o estoicismo não tenha influenciado vários pais da Igreja Católica. Burton também conta essas histórias.

No que muitos podem ver como uma espécie de vingança, Burton sugere que estaria havendo agora uma alta no interesse pelo estoicismo justamente porque ele seria uma forma de preencher o vácuo deixado pelo esvaziamento da religião cristã em certos meios do Ocidente.



Nenhum comentário:

Postar um comentário