segunda-feira, 22 de agosto de 2022

O presidente dançarino do Tajiquistão


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/emomali


Em meu antigo canal Pan-Eslavo Brasil, eu sempre gostava de postar os presidentes do antigo espaço soviético dançando, sobretudo Boris Ieltsin, e às vezes até Vladimir Putin. Um dos que mais me atraiu foi Emomali Rahmon, ditador e praticamente dono do Tajiquistão desde 1994, quando ainda ocorria a guerra civil que se sucedeu à dissolução da URSS. No conflito que durou de 1992 a 1997, ele sofreu várias tentativas de golpe e assassinato, e desde então conseguiu se tornar líder absoluto do pequeno país de cultura persa, inclusive com mudanças sucessivas na constituição. Hoje o Tajiquistão é o país mais pobre entre as antigas repúblicas soviéticas, mas de alta importância estratégica pro combate ao terrorismo islâmico na região, sobretudo em proveito da Rússia.

País pobre, ditador e sua família vivendo no luxo e na abundância. Eu postei o primeiro vídeo no antigo canal, juntando cenas de um dos festejos públicos do Nowruz, o Ano Novo persa, e do casamento em 2013 do filho mais velho de Rahmon, Rustam Emomali, que de quebra também é prefeito de Dushanbe, capital do Tajiquistão. Mas descobrindo este vídeo por acaso, que contém muito mais cenas do casamento comentadas pelo jornalista oposicionista Dodojon Atovulloyev (em tadique, Dodojoni Atovullo), resolvi cortar as cenas principais e também repostar aqui. Gosto muito do estilo de música deles, e as danças dos tiozinhos são hilárias! O vídeo foi postado em maio de 2013, e infelizmente não entendo sua narração em tajique. Ironicamente, alguns comentários em russo e tajique (cuja escrita posso deduzir um pouco), mesmo recentes, elogiam o ditador e dizem que ele também tinha o direito de se divertir. Alguém chegou a comentar: “Por que não criticam da mesma forma quando fazem igual na monarquia britânica?”...

Atovulloyev (n. 1956) ainda possui conta no Facebook, embora eu não saiba se está ativa, e em 2013 ele tinha gravado de seu exílio em Hamburgo, na Alemanha. Segundo esta curta nota biográfica feita pela agência russa RIA Novosti, após um atentado que ele sofreu em Moscou em janeiro de 2012, Atovulloyev é opositor de Rahmon desde 1992, e há anos está fugido do Tajiquistão. Várias vezes Dushanbe abriu processos e ordenou sua prisão e deportação, mas ironicamente a própria Rússia (outros tempos...) nunca obedecia. Em dezembro de 2019, a agência Fergana (também russa) anunciou que a ditadura tajique tinha anistiado o jornalista de todos os processos, e que o próprio Atovulloyev estava pensando em voltar à pátria. Não achei nada mais a respeito do homem e de seu destino, embora também haja um pequeno verbete dedicado a ele no Historical Dictionary of Tajikistan, de Kamoludin Abdullaev (p. 65-66), parcialmente disponível no Google Livros, embora a obra seja de 2018.

Enfim, chega, vamos nos divertir!


Este foi o primeiro vídeo que postei no antigo canal, misturando as duas cenas e, no caso do casamento, com uma música que deve ter sido posta após edição. Lembrando que em persa tajique, a palavra Nowruz (Ano Novo persa) se lê e se escreve Navruz. A parte mais engraçada é quando aparece aquele camelo sustentado por dois caras fantasiados cujas pernas aparecem bem, hehehe. Infelizmente não tenho mais as fontes originais.


Adendo (6/4/2023): Descobri neste vídeo a celebração inteira de Nowruz em que o vídeo anterior foi filmado: a de 2017, e no trecho logo acima você vê o momento completo em que Rahmon dançou sob a canção de quem acredito ser Muhammadrofe Karomatullo, irmão de Noziya, outra popstar do Tajiquistão. Infelizmente, as melhores partes da dança captadas pela Freedom TV em tajique não aparecem ali, mas se você for aos 53 min 45 seg do show completo, vai ver também a cena em que aparecem as crianças com o falso camelo.


Enfim, o casalzinho real: Rustam Emomali, filho do ditador, e a noiva sortuda. Vejam a felicidade de ambos, sobretudo da donzela. Uma produção digna daqueles profissionais que gravavam batizados e casamentos em VHS nos anos 90!


Agora vem a cereja do bolo: seis minutos de muita dança, música e tiozinho passando vexame! É notável de onde tiram tanta energia e alegria, sendo que no islã o álcool é proibido. Mas vai saber o que fumaram, né... Não tenho certeza se a música também é a original: acredito que sim, pois até a banda aparece cantando. O astro principal, claro, é Emomali Rahmon, com seus passos originais, seu sorriso inextinguível e sua ginga digna de um Silvio Santos no auge do Show de Calouros ou do Topa Tudo por Dinheiro!


Esta é talvez a parte mais constrangedora: o ditador pega ele mesmo o microfone e começa a fazer uma espécie de karaokê improvisado, com outro senhor que deve ser artista com algum grau de profissionalismo. Embora, na verdade, não seja muito agradável ouvir a voz de nenhum dos dois... Constrangidos ficam os noivos, que não desfazem a cara de paisagem, seja por fome, seja mesmo por pensarem “Que que eu tô fazendo aqui?”. Ainda fico me perguntando quem filmou, por que filmou e pra quem filmou, porque podia ser uma recordação pessoal (que vazou?), ou até foi coberto pela mídia, embora eu não saiba se o povo não ia mesmo era ficar com raiva.


Se o tiozinho do karaokê já tinha uma voz pouco suportável, pelo menos nos poupamos de ouvir Emomali Rahmon cantando com sua voz de quem abocanhou batata quente. Como disse, quase não entendo tajique, mas separei esta cena pra que vocês o vissem falando alguma coisa, talvez saudando o público e o agradecendo por participar desse cringe festival.


Finalmente, separei este trecho sem esperar muita utilidade, porque mal se ouve a música, e o jornalista Atovulloyev fala por cima. Mas como a dança dos tiozões continua engraçada e como ela podia inspirar outros memes, deixo à disposição pra concluir nossa diversão, hehehe.