Hoje estou postando ao mesmo tempo duas canções gravadas pelo grande astro checo Karel Gott, que foram traduzidas do francês e do italiano a esse idiomas eslavo. A primeira, gravada em 1975, mesma data do show, chama-se Léta prázdnin (Anos de férias), e é a tradução da faixa Le moribond (O moribundo), composta e lançada pelo belga Jacques Brel e cuja letra tem um sentido quase todo diferente. O letrista checo Zdeněk Borovec (como na maioria das músicas de Gott) manteve a estrutura textual e trocou a despedida do cara que ia morrer pela partida de um jovem que estava se casando, acrescendo ainda o pai e o irmão (brácha tem sentido coloquial, como “mano”). A batida e a letra foram mais inspiradas na versão em inglês Seasons In The Sun, na voz de Terry Jacks, mas mesmo aí há referência à morte. Será que no comunismo todo mundo devia ser alegre, e as referências melancólicas eram desencorajadas?
Eu mesmo traduzi direto do checo a letra e legendei o vídeo que se encontra neste ótimo canal com canções checas e checoslovacas. Trata-se do festival Bratislavská lýra 1975, contando com a orquestra de Ladislav Štaidl e o coro de Jarmila Gerlová, Vlasta Kahovcová e Jitka Zelenková. Ouça também a versão estúdio, álbum Karel Gott ’76.
A segunda música é uma tradução de Il mondo, imortalizada na voz do Jimmy Fontana e cuja melodia foi composta por ele, Lilli Greco e Carlo Pes. Karel Gott gravou uma tradução em checo ainda em 1966, no comecinho da carreira, com o arranjo métrico um pouco alterado, o nome V máji (Em maio) e texto de Jiří Štaidl. As imagens do primeiro vídeo são do programa de TV Přehlídkový koncert, em 1966, no qual tocam o conjunto de Lubomír Pánek e o TOČR dirigido por Josef Vobruba. Há também o clipe oficial da Supraphon, com a qual Gott quase sempre gravou. As imagens do segundo são de um show que Gott gravou em 1985, no ápice de sua carreira, demonstrando já as muitas influências internacionais que absorveu nos anos 70 e 80 (esse é o vídeo completo, e V máji começa mais ou menos aos 46 minutos.
Il mondo foi lançada em 1965 num compacto de Enrico Sbriccoli (1934-2013), que adotou Jimmy Fontana como pseudônimo. Ele a cantou no antigo festival Un disco per l’estate em 1965, e mesmo tendo ficado em quinto lugar, muito de longe foi a que mais obteria sucesso no futuro. Tendo se incorporado à cultura popular italiana, foi posteriormente traduzida pra muitas línguas (nas quais também ficava no topo das paradas) e regravada por vários outros conterrâneos, de modo a tornar-se a marca registrada de Fontana. Ele pode ser considerado o famoso “artista de um hit só”, se não contarmos sua composição Che sarà, que também estourou.
Às vezes é estranho traduzir músicas checas pro português, porque a estrutura simbólica e de pensamento deles é muito diferente. Atesta-o o fato de ser aceita numa canção de tal envergadura a descrição de um homem “plantando bananeira” ou “andando de cabeça pra baixo” (literalmente, “caminhando com as mãos”), o que de fato devia ser comum em jardins quentes entre jovens magrelos de países comunistas. Além disso, colegas locais de estilo, como Pavel Novák, apareciam constantemente fazendo ginástica em clipes. Eu mesmo também traduzi a letra de V máji, legendei e cortei o quadro do vídeo original, tendo encontrado a letra no Google Play Music.
Karel Gott (1939-2019) nasceu durante a ocupação nazista e foi grande sucesso também nos países de língua alemã, na qual ele também cantava (Gott significa “Deus” em alemão). Ele também era pintor amador, e sua formação foi como eletricista, mas ficou célebre por meio da música, começando a carreira de cantor profissional em 1960. O deslanche de sua trajetória foi na década de 1970, tendo gravado muitos álbuns e inclusive sendo lançado na URSS em 1977, em cujos futuros países ele também seria admirado. Gott encerrou a carreira em 1990, mas retornou em 1993, embora naquela década se focasse mais na pintura e nas exposições que realizou. Faleceu em 1.º de outubro de 2019, vítima de leucemia, mas seu site oficial em checo persiste. Apesar do controle comunista, a antiga Checoslováquia desenvolveu uma rica cultura fonográfica e traduziu muito rock e pop então estourando no Ocidente. A mesma excelência em se tratando de música popular, superando inclusive a extinta URSS, se deu com a Polônia, outro país onde o comunismo nunca se enraizou, e a antiga Iugoslávia, de modelo social bastante divergente.
1. Dê adeus, mano, aos anos da infância,
Então adeus, mano, tenho que ir,
Refrão:
2. Adeus, papai, você se esforçou
Então adeus, papai, tenho que ir,
(Refrão 2x) 3. Adeus, minha querida, se cuide,
Então adeus, querida, tenho que ir,
(Refrão 2x) ____________________
Tak sbohem brácho, musím jít,
Refrén:
2. Buď sbohem táto, ty ses dřel,
Tak sbohem táto, musím jít,
(Refrén 2x) 3. Buď sbohem lásko, tak se měj,
Tak sbohem lásko, musím jít,
(Refrén 2x) |
Estou ansioso, estou ansioso
Somente em maio
Somente em maio
____________________
Jen v máji
Jen v máji
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe suas impressões, mas não perca a gentileza nem o senso de utilidade! Tomo a liberdade de apagar comentários mentirosos, xenofóbicos, fora do tema ou cujo objetivo é me ofender pessoalmente.