quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Co jsem měl dnes k obědu; Její láska


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Este programa especial de fim de ano na antiga Checoslováquia comunista, o Gramohit, apresentava as músicas que faziam mais sucesso a cada ano. A edição de 1967, por exemplo, é uma fábrica infinita de memes, como talvez a de outros anos. Além das animadas e bonitas músicas de Pavel Novák, não pude deixar de traduzir e legendar uma canção cômica executada por Jiří Šlitr (1924-1969), um de seus compositores junto com Jiří Suchý (n. 1931). Ela se chama Co jsem měl dnes k obědu (O que comi hoje no almoço), e embora o tema seja bem banal, a graça está na letra estrambólica e na ausência de pausas entre os rápidos versos. A música mesma foi lançada em 1965.

Šlitr e Suchý, às vezes conhecidos como “os Jiří”, realizaram grandes parcerias que influíram fortemente no teatro e música populares checos da década de 1960. Apareceram juntos nos filmes Bylo nás deset (Éramos dez, 1963) e Kdyby 1000 klarinetů (Se 1000 clarinetes, 1964), e em 1968 Šlitr reencenou sua peça Ďábel z Vinohrad (O diabo de Vinohrady, 1966) como resposta ao esmagamento da Primavera de Praga. Juntos “os Jiří” também assinaram naquele ano o Manifesto das Duas Mil Palavras, anticomunista, redigido por Ludvík Vaculík.

Embora não fatigante, traduzir essa canção me exigiu baita pesquisa! São citados vários nomes e comidas e pratos: alguns só existem na Chéquia e na Eslováquia ou nos países ao redor; outros até existem no Brasil ou têm nome em português, mas são bem raros no consumo diário. Alguns pratos checos, com pouca variação, também são consumidos na Alemanha e entre nossa imigração alemã: por isso usei os nomes alemães, mas com o plural em “s”, e não original, pra simplificar. Outros eu apenas adaptei pra coisas mais conhecidas, por isso a letra parece não fazer sentido, até porque a intenção foi mais zoar mesmo, e não passar coerência lógica. Em muitos pontos foi preciso adaptar, mas acredito que o espírito de diversão foi passado!

O pessoal é capaz de fazer piada com o comunismo, dizendo que lá devia haver “fome”, embora a Checoslováquia fosse relativamente rica, e por isso os Jiří faziam uma apologia à comida... Engraçado é que Šlitr consegue segurar o ar durante o canto, mas a prisão favorece depois esse “efeito especial" no fim! Eu mesmo traduzi e legendei direto do checo, copiando este texto que precisou de umas correções. Eu cortei essa versão do programa Gramohit, mas há também esta gravação mais longa feita ao vivo no Teatro Semafor.

A segunda canção é Její láska (O amor dela), uma tradução do schlager alemão gravado em 1965 por Drafi Deutscher, Marmor, Stein und Eisen bricht, e lançada pelo cantor Jaromír Mayer em 6 de janeiro de 1967. A letra original foi escrita por Günter Loose, a melodia composta por Christian Bruhn, e a versão checa criada por Ivo Fischer, letrista nacional muito célebre. Mayer nasceu em Praga em 1943, ainda sob o domínio nazista, e em 1986 emigrou pra Alemanha Ocidental, e depois pro Canadá. Devido a problemas vocais, há muitos anos já não canta, mas tinha uma banda no Canadá, na qual tocava ocasionalmente. Marmor, Stein... chegou a estar no topo das paradas da antiga Alemanha Ocidental, e até mesmo nos EUA recebeu uma versão em inglês, Marble Breaks and Iron Bends.

O primeiro vídeo é do mesmo Gramohit em 1967, no qual ele parece um clone do deputado estadual paulista Frederico D’Ávila. Eu mesmo traduzi direto do checo utilizando esta página como fonte, e também legendei e cortei o quadro, repetindo a própria canção.

No segundo vídeo, legendei a canção inteira, incluindo as estrofes que eu já tinha traduzido no outro vídeo, mas ficaram fora das legendas. E eu mesmo também procurei as fotos na internet e fiz a montagem.


Imaginem, imaginem
O que comi hoje no almoço,
Imaginem, imaginem
O que comi hoje no almoço:

Knödels com couve,
Com uma couve azeda.
Aí comi junto à mesa
Gelatina de sei lá o quê.
Comi repolho cozido
Junto com Mariazinha.
Eu mesmo fiz no forno
Uma carne de cordeiro.
Devorei como um louco
Mohnnudels gordinhas.
Eu comprei em Londres
Um esturjão com alcaravia
Que defumado na ervilha
Eu atirei pro meu irmão,
Engoli na base da água
Pãozinhos com zabaglione,
Achei na minha cueca
Mirtilos com toucinho,
Uma torta, panquequinhas,
Batatas, pratos com porco
[Lit. “Batatas, porcarias”],
O que é muito, isso é muito,
Queijo de Olomouc,
Pão com queijo Romadur
Da Madame de Pompadour,
Estou abrindo agora mesmo
Uma conserva de espinafre,
Os pastores abocanharam
Carne de porco cozida,
Iogurte zincica de Levoca
Célebre no sul da Boêmia,
Uma boa senhorinha deu
Copos de chá de endro,
Me afoguei no uísque
Com lábios de coelho,
Me trouxeram de Fleky
Rabo de marta no bacon,
Frango frito, mas
Já sem Mariazinha.

Vocês estão vendo,
Vocês estão vendo,
Hoje comi isso no almoço.

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Představte si, představte si,
Co jsem měl dnes k obědu,
Představte si, představte si,
Co jsem měl dnes k obědu:

Knedlíky se zelím,
Se zelím kyselým.
Pak jsem jed u stolu
Kdo ví co v rosolu.
Kapustu vařenou
Jedli jsme jí s Mařenou.
Sám jsem si za pecí
Zadělal telecí.
Škubánky maštěný
Baštil jsem jak praštěný.
Uzený na hráchu,
Střílel jsem ho na bráchu,
Jeseter na kmíně,
Koupil jsem ho v Londýně,
Buchtičky se šodó,
Zapíjel jsem je vodó,
Borůvky na sádle,
Našel jsem je ve prádle,
Pirožku, blinčiky,
Portofěly, svinčičky,
Co je moc, to je moc,
Syrečky from Olomóc,
Na chlebě romadur
Od madam de Pompadur,
Špenátovou konzervu,
Teďka všechno rozervu,
Vařené bravčové,
Sežrali ho bačové,
Žinčica z Levoče,
Zná ji každý Jihočech,
Koprovou vode dna
Dala tetka hodná,
Zaječí pysky
Zapíjel jsem whisky,
Kuní ocas na špeku,
Přinesli mě od Fleků,
Kuřata smažený,
Ale už bez Mařeny.

To koukáte, to koukáte,
To jsem měl dnes k obědu.




1. No mínimo por um ano e meio,
Dam-dam, dam-dam,
Fui com um buquê ver Marlene,
Dam-dam, dam-dam.

Refrão:
O amor dela está enferrujando,
Sei lá com quem ela anda saindo,
Não gosto, não gosto mais dela,
Não há por que insistir.

2. Aí eu quis comprar pra loira Cris,
Dam-dam, dam-dam,
Um par de aliancinhas douradas,
Dam-dam, dam-dam.

(Refrão 2x)

3. Quem tenho agora fora Paulinha,
Dam-dam, dam-dam,
Gozo a vida com ela sem veneno,
Dam-dam, dam-dam.

4. O amor dela ignora limites,
Cheira melhor que sabugueiro,
Mal sabe, mal sabe mentir
E eu gosto dela.

O amor dela ignora limites,
Cheira tal sabugueiro em maio,
Mal sabe, sequer sabe mentir
E eu gosto dela.

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1. Celý rok a půl nejméně,
Dam dam, dam-dam
Chodil jsem s kytkou k Marléně
Dam-dam, dam-dam.

Refrén:
Její láska chytá rez,
Kdoví, s kým pak se toulá dnes,
Už jí nemám, nemám rád,
Není o co stát.

2. Pak jsem chtěl pro blond Kristýnku,
Dam-dam, dam-dam,
Koupit pár zlatých prstýnků,
Dam-dam, dam-dam.

(Refrén 2x)

3. Co mám teď ale Pavlínu,
Dam-dam, dam-dam,
Chutnám s ní život bez blínu,
Dam-dam, dam-dam.

4. Její láska nezná mez,
Voní líp než to umí bez,
Stěží, stěží umí lhát,
A já jí mám rád.

Její láska nezná mez,
Voní líp než májový bez,
Stěží, jenom stěží umí lhát,
A já jí mám rád.